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Humildade: Força ou Fraqueza?

Artigo por Joana Almeida Monteiro

A nossa atitude na abordagem ao mercado de trabalho importa. A nossa postura, modo de comunicar e posicionamento face ao mundo e aos outros faz diferença no modo como somos percepcionados como profissionais.

Entrevistas de emprego, conversas com pessoas em que nos apresentamos como profissionais, reuniões de “venda” de um projecto, são vários tipos de situação em que temos a necessidade de nos apresentar no nosso melhor, enaltecendo todas as nossas boas características, competências e valorizando a nossa experiência e conquistas. Assim, é natural que sintamos algum desconforto ou até pressão para nos projectarmos confiantes, e procuremos dar o nosso melhor “retrato” profissional. Perante tais situações, pode até haver a tentação de “dourar a pílula”, ou seja, de exagerarmos (positivamente) os nossos feitos e características. Assim, fica mais ténue a linha entre um bom marketing (em que, habilmente, mostramos o que mais positivo temos a oferecer) e o que pode ser uma mentira (e não é demais lembrar: a desonestidade é um grande “não-não” profissional, que nos pode custar a nossa reputação).

A humildade parte do nosso autoconhecimento, aspecto central na gestão pessoal de carreira. Ser humilde implica reconhecer não apenas as nossas forças, mas também estar bastante consciente das nossas fraquezas, e não procurar escondê-las, mas assumi-las como aspectos que, se houver recursos e intencionalidade, poderão ser reduzidas ou eliminadas.

Estamos numa era em que a perfeição nos é apresentada de bandeja em diversas plataformas. Nas redes sociais de uso mais pessoal observamos famílias felizes, viagens incríveis e festas exemplares. As redes profissionais não são, também, excepção. No feed do LinkedIn vemos colegas, conhecidos e gurus a mostrar as suas promoções, eventos e conquistas invejáveis de carreira. A confiança alheia a apregoar sucessos tanto nos inspira e deixa com sentimentos positivos, como nos deixa com sentimentos negativos, em que nos comparamos e sentimos aquém, estagnados, pouco confiantes ou até impostores. Gostaríamos de ser mais implacáveis, percepcionados como líderes, vistos como profissionais impressionantes que conciliam magicamente todas as esferas da vida, somam distinções, colaborações, cargos e recompensas. Como podemos passar essa imagem?

Fake it till you make it” é um aforismo que, para alguns, pode ser um mantra e técnica que ajuda, até porque pelo potencial do role-play que efectivamente permite que, ao imitarmos uma postura confiante, podemos interiorizar e sentir maior auto-confiança e, assim, mais facilmente projectarmos essa persona de forma credível, pois assim é real. Podemos então pensar… será que andamos todos a fingir? Faz sentido a comparação constante, sabendo do lado menos glamouroso das redes sociais?

Mas fará sentido estamos focados em fingir, se podemos efectivamente saborear as nossas verdadeiras conquistas e, com humildade, preparar um bom discurso, real, e que mostre que somos pessoas (não robôs perfeitos) que têm um contributo positivo a deixar no mundo?

Uma postura de marketing por vezes até arrogante, e em que cada um se coloca menos em causa, se vangloria com uma vaidade sem modéstia, pode ser percepcionada, por alguns, como uma postura de quem está seguro de si. Nesse prisma, será que ser humilde é ser fraco…? Segundo o dicionário Priberam, humildade tanto significa “capacidade de reconhecer os próprios erros, defeitos ou limitações”, como “sentimento de inferioridade” ou “submissão”.

Adoptar uma postura humilde tem vantagens, mesmo que possa, à primeira vista, não parecer. A humildade parte do nosso autoconhecimento, aspecto central na gestão pessoal de carreira. Ser humilde implica reconhecer não apenas as nossas forças, mas também estar bastante consciente das nossas fraquezas, e não procurar escondê-las, mas assumi-las como aspectos que, se houver recursos e intencionalidade, poderão ser reduzidas ou eliminadas.

Um mindset de crescimento é o que nos engrandece e permite que conquistemos a nossa confiança de modo genuíno e verdadeiro. Essa auto-confiança e capacidade de aceitação permite que sejamos profissionais capazes de questionar acerca de coisas que não conhecemos, sem receio de sermos percepcionados como incapazes.

A humildade é, assim, um caminho honesto de reflexão, convivência connosco próprios como profissionais, e também de apresentação ao mundo. Sem humildade torna-se difícil haver uma postura de questionamento e, logo, autoconhecimento constante e, portanto, uma menor propensão para se ir fazendo um balanço das nossas competências e, assim, estarmos menos disponíveis para o essencial desenvolvimento profissional (e pessoal) contínuo. Encontrarmos o poder da vulnerabilidade é, também, mais do que alcançar o sucesso, almejarmos ser sempre uma melhor versão de nós mesmos.

Numa profissão como a nossa, a humildade é, ainda, peça-chave para a conexão íntegra com os outros – em Psicologia temos necessariamente de ter o outro na equação e, com isso, praticar a escuta activa e uma comunicação empática.

 

“There is nothing noble in being superior to your fellow man; true nobility is being superior to your former self.”
— Ernest Hemingway