Artigo por Vanessa Yan
“Falhar é tão importante… É a habilidade de resistir ou de utilizar o fracasso que muitas vezes leva a um sucesso ainda maior.”
J.K.Rowling
Todos nós conhecemos colegas, quer na escola quer já na faculdade, que pareciam lidar melhor tanto com os sucessos como com os revezes escolares, devido a uma atitude de maior curiosidade e abertura, e outros, pelo contrário, sempre muito preocupados com o seu desempenho, quer tivessem boas como más notas. Podemos supor que os últimos terão carreiras mais bem-sucedidas, mas nem sempre é esse o caso. Nem sempre esta atitude traz o verdadeiro sucesso e bem-estar na vida. Porquê esta diferença? A psicóloga Carol S. Dweck pesquisou muito sobre este tema, culminando num livro amplamente conhecido, “Mindset – A atitude mental para o sucesso” (2014), onde, em traços largos, descreve dois tipos de atitudes: uma mentalidade ou mindset fixo e um mindset de crescimento. Estas atitudes começam já nos bancos da escola: Dweck descobriu que quando os estudantes eram motivados pelo desejo de aprender e de se tornarem melhores em algo, lidavam melhor com o fracasso do que quando eram motivados por recompensas exteriores, como o desejo de obter aprovação dos pais ou professores ou de evitar julgamentos negativos (Dweck, 1988).
Esta atitude costuma manter-se na vida adulta e no trabalho: a literatura mostra que o tipo de motivação escolar (mais intrínseca ou mais extrínseca) na adolescência é um preditor extremamente forte das trajectórias de carreira na idade adulta e na percepção individual de sucesso. Com base nos estudos de Dweck, Anderman e colegas (2020), descobriram que uma abordagem mais centrada na “mestria” do que na “recompensa” nas escolas poderia estimular a motivação intrínseca, o que aumentaria o sentimento de eficácia e de propósito, conduzindo a uma atitude de crescimento perante o trabalho e, em último caso, perante a vida. Esta atitude implica uma aceitação (e até gosto) em se envolver em experiências e tentativas, logo, também à possibilidade de mais erros, porque se encara falhar como uma oportunidade de aprendizagem e não como um veredito imutável sobre as nossas capacidades.
Após esta introdução, olhe para si e para a sua história com sinceridade (e compaixão) e reflicta se a sua vida, enquanto estudante e/ou trabalhador/a, tem sido pautada:
… por uma mentalidade fixa, em que, no fundo, acredita que as capacidades e inteligência são algo imutáveis, logo, o sucesso é provar que se é inteligente ou talentoso, o que exige validarmo-nos constantemente, e o fracasso é uma contrariedade e algo muito pessoal; ou…
… por uma mentalidade de crescimento, de preocupação em ultrapassar-se a si mesmo/a para aprender algo novo, vendo o fracasso como não evoluir, não realizar o seu potencial e o erro não como um fracasso pessoal mas sim como um meio de aprendizagem?
Não há culpa em estarmos num mindset fixo, porque na verdade, é neste mundo das “aptidões fixas e imutáveis” que a maioria do nosso ensino se encontra. Mas, como diz Dweck, “temos uma escolha. Atitudes mentais são apenas crenças. Crenças poderosas, mas apenas uma coisa na nossa mente, e nós podemos mudar a nossa mente.”
Por isso, independentemente da sua forma habitual de ver os desafios que a vida lhe coloca, há sempre mudanças que pode fazer para desenvolver um mindset de crescimento. Seguem-se algumas estratégias que o/a podem ajudar:
Apaixone-se por tudo o que faz. A paixão das pessoas com um mindset de crescimento é o que as faz perseguir a mestria – sem haver a necessidade de agradar a outros que não a elas próprias. Uma forma de encontrar as suas verdadeiras paixões é reflectindo sobre os seus valores pessoais (crenças estruturantes que influenciam o comportamento e a tomada de decisão).
Mesmo com medo, avance. As pessoas com um mindset de crescimento não são mais corajosas do que as restantes. A questão é que compreenderam que não podem deixar o medo paralisá-las. O medo da mudança é instintivo e serve para nos travar. A melhor forma de o ultrapassar é agindo. Não há um momento perfeito para agir, por isso, não vale a pena ficar à espera que ele apareça. Reflicta: “Qual é o risco de mudar? Qual é o risco de ficar tudo na mesma?”
Lidar com a crítica dos outros. Lidar com o julgamento e a desaprovação pode ser doloroso, mas com o tempo começamos a nos aperceber que esta atitude por parte dos outros tem muito mais a ver com os seus próprios medos e inseguranças. Ver as críticas nesta perspectiva torna-as menos pessoais e também faz aumentar a nossa compreensão e empatia. Uma atitude mental de crescimento ajuda as pessoas a encararem a crítica e o preconceito como aquilo que eles são – o ponto de vista de outra pessoa – e a enfrentá-los com a confiança e o sentido de competência intactos. Implica uma mudança da atitude mental de “julga e sê julgado” para “aprende e ajuda a aprender.”
Nós psicólogos somos muitos bons a dar estas estratégias aos outros, mas e quando nos diz respeito? Consegue ver se está a viver o que diz? A sua atitude é mais fixa ou mais progressiva? Que implicações a sua atitude tem tido nas suas escolhas? O seu medo de errar/ser julgado tem-lhe feito evitar experimentar, explorar novos caminhos?
Daqui para a frente, vai estar atento a esta pequena/grande diferença? Essa será sempre a grande questão!
Referências bibliográficas:
Dweck, C.S. (2014). Mindset, a atitude mental para o sucesso. Lisboa: 20|20 Editora.
“Rousing our motivation” (APA, 2021)
https://www.apa.org/monitor/2021/10/feature-workers-motivation
“7 Reasons to Follow Your Own Path” (Psychology Today, 2016)
https://www.psychologytoday.com/us/blog/in-love-and-war/201604/7-reasons-follow-your-own-path