Artigo por Vanessa Yan
“Quando ganhei confiança suficiente, o palco desapareceu. Quando tive a certeza de perder, ganhei. Quando precisei mais das pessoas, abandonaram-me. Quando aprendi a enxugar as lágrimas sozinho, encontrei um ombro onde chorar. Quando dominei a técnica de odiar, alguém começou a amar-me. E, quando, depois de tanto esperar pelo amanhecer, adormeci, o sol nasceu. Assim é a vida.”
Gosto muito deste texto. Não sei quem o escreveu (uns falam de Shakespeare, outros de Sofia Loren…), mas isso não importa nada. Gosto muito porque demonstra, com beleza e sabedoria, algo sobre o qual muitos falam mas poucos conseguem perceber completamente o seu significado: a Aceitação.
Quando não sabemos para onde ir na nossa carreira, quando nos parece que só há caminhos fechados, obstáculos e esperas, e nos apetece encolher e desistir, é aqui que muitas vezes pode entrar a nossa última cartada: a “Aceitação”. Aceitar não é concordância, desistência, resignação, submissão. Aceitar é manter-me emocionalmente neutro face a algo que não posso mudar. É não me esforçar por controlar o que não posso controlar. É adoptar uma postura compassiva, amorosa e curiosa em relação a mim próprio(a), à minha história, às minhas crenças e limitações, às minhas dores. É dar-me espaço suficiente para respirar – é uma sábia rendição. A aceitação não só está longe de ser sinónimo de resignação ou passividade, como faz parte integrante da mudança. Como diz o colega João Salgado, “aceitar não é uma chave para abrir a porta que nos permite sair do sofrimento, mas antes ‘o fim de um longo processo’.”
Porque é que uma atitude de Aceitação é importante? – Porque quando luto contra os meus pensamentos (de que não sou suficiente, de que não tenho as competências necessárias, de que tenho de ter a certeza “absoluta” antes de tomar uma acção) a luta torna-os ainda mais fortes e mais dolorosos. – Porque quando me fecho para as experiências menos boas (uma resposta negativa a uma candidatura, um feedback menos construtivo, a conclusão de que não era este caminho profissional que gostaria de seguir) também me fecho para os ensinamentos que elas me podem trazer. – Porque sinto (e o meu corpo e mente reflectem) um grande desgaste físico e psicológico quando luto contra algo que foge ao meu controlo. Porque é que uma atitude de Aceitação é importante quando estamos à procura do nosso propósito ao iniciar, manter ou reformular um percurso profissional?
“Aceitar termos medo de errar e de falhar é compreender que a coragem não é a ausência do medo e que por vezes temos de avançar nas nossas decisões mesmo num ambiente de incerteza. E não temos todos aprendido nos últimos tempos que a incerteza é a coisa mais certa que temos?… “
Porque esta aceitação implica aceitar que posso falhar, que posso não acertar, que posso ter de desistir do que já não faz sentido e que já não traz energia (nem alegria). Só nesta atitude de aceitação conseguimos realmente conhecer quem somos, o que queremos e para onde vamos. E todos sabemos que é através da autoconsciência que as boas decisões, as decisões que realmente interessam, têm espaço para acontecer.
“Falhar” ou “fracasso” trazem consigo formas muito simplistas de pensamento que apenas permitem duas possibilidades: ser mal ou ser bem-sucedido. Poucas coisas (se alguma) no universo são preto ou branco, mas a forma como falamos ou pensamos muitas vezes parece dizer que sim, o que pode ser um travão, que nos faz ter medo de arriscar por medo de falhar. A nossa mente gera pensamentos erróneos, as nossas conhecidas “distorções cognitivas”, que alimentam este medo paralisante. “E se não escolhi bem a minha profissão?” “E se não conseguir trabalho como psicólogo/a?”, “E se falhar… o que as pessoas vão pensar, o que vão dizer de mim?” Todas estas questões são mais do que razoáveis e importantes. Mas podem bloquear-nos se não encontrarmos uma resposta para lhes dar: “Falhar é algo pessoal” – falhar é uma experiência humana universal e faz parte da aprendizagem de todos nós. “Não há benefício em falhar” – temos a tendência de nos fixarmos nos aspectos negativos, filtrando os potenciais benefícios, como a oportunidade de aprender e crescer, que, se pensarmos bem, acaba por ser maior quando falhamos do que quando somos bem-sucedidos. “Se eu falhar, sou um/a falhado/a” – falhar não é um reflexo do meu valor: o meu valor é uma parte inalienável de mim enquanto ser humano. “Se não fizer nada também não perco nada” – evitamos agir porque nos fixamos exclusivamente no que pode falhar. Mas tudo tem duas faces. Manter o status quo também pode trazer um grande custo, por vezes maior do que falhar.
“O custo de falhar é demasiado grande” – Como diz um provérbio antigo: “Os mestres abrem-te a porta, mas és tu que tens de a atravessar.” E a aceitação inclui aceitar falhar a porta “certa”.
Aceitar termos medo de errar e de falhar é compreender que a coragem não é a ausência do medo e que por vezes temos de avançar nas nossas decisões mesmo num ambiente de incerteza. E não temos todos aprendido nos últimos tempos que a incerteza é a coisa mais certa que temos?…
Por isso, aceite o facto de nem sempre ter as respostas a “como” ou “quando” uma mudança, pessoal ou profissional, irá acontecer na sua vida. O mais importante é saber “o quê” que quer fazer, ou seja, o que é que melhor reflecte os seus valores e necessidades, e “porquê” que o quer fazer, o que o/a motiva a avançar num determinado sentido – esse é o verdadeiro poder da Auto-reflexão e do Auto-conhecimento e a via para a Superação (incluindo do nosso medo de falhar!). E é aqui, neste (amplo) espaço de rendição e de aceitação consciente, que sermos Psicólogo/as também pode ajudar!