Artigo por Ana Leonor Baptista
A vulnerabilidade pode ser um conceito assustador e inibidor. Pelo menos para mim foi, até determinado ponto da minha vida (e acredito que isto possa ser uma experiência comum).
“[…] Seja genuíno, empático e corajoso, trabalhe com consciência daquilo que possam ser as suas limitações e áreas a trabalhar e utilize a vulnerabilidade como alavanca de desenvolvimento pessoal e profissional..“
Numa entrevista de emprego a que fui, colocaram-me uma questão interessante… “Acha que o facto de ser mais nova e ter menos experiência poderá acarretar para si alguma dificuldade em assegurar estas funções?”. Talvez a resposta certa a dar devesse ser “Não, tenho plena confiança em mim e nas minhas competências” – porém, não foi bem isto que respondi… e esta questão fez-me reflectir. Não obstante sentir confiança na profissional e Psicóloga que sou, desafios como abraçar um novo projecto, ou integrar o mercado de trabalho pela primeira vez, ou até reposicionarmo-nos profissionalmente após alguns anos de exercício da Psicologia em determinada área, poderão ser vividos com alguma ansiedade e também alguma insegurança (o que até certo ponto será normativo e reactivo, naturalmente!). Claro que a minha idade ou falta de experiência à data tinham um certo peso – por um lado não tinha plena compreensão das referidas funções que viria a desempenhar, por outro lado imaginei logo que pudesse haver colegas com mais idade e mais experiência que pudessem constituir-se candidatos mais adequados… E aqui residia alguma vulnerabilidade – será que sou boa o suficiente? Será que tenho experiência suficiente e know-how que justifique que alguém que não me conhece aposte em mim? A não ser que o tempo parasse para todos menos para mim, esta minha condição de falta de experiência (e “falta de idade”) não se alteraria.
Brené Brown é uma investigadora que estuda a relação humana, eventualmente conhecida por uma boa parte dos nossos leitores devido à sua palestra “The power of vulnerability” (caso não conheça, aconselho vivamente a que possa assistir à mesma, aqui). A capacidade de nos sentirmos ligados aos outros, de nos relacionarmos, é aquilo que nos dá um sentido de propósito, até do ponto de vista neurobiológico. Brown refere que os principais entraves à capacidade de conexão são a vergonha e o medo que desta advém… medo de não sermos “bons o suficiente” para assegurar relações humanas. Para existir relação, é necessário que exista vulnerabilidade – é necessário que nos permitamos a ser vistos, na nossa plenitude, pelo outro. E para que isto aconteça, Brown refere que é necessário que se cumpram 3 pressupostos – é necessário termos coragem (coragem para assumir as nossas inseguranças e as nossas imperfeições), é necessário sermos empáticos (e começarmos por ser gentis connosco mesmos) e é necessário sermos autênticos, deixando de lado aquilo que achamos que temos de ser e permitindo-nos, apenas, a ser quem somos. Quando estão reunidos estes pressupostos, há espaço para a vulnerabilidade necessária. A vulnerabilidade necessária é aquele elemento camuflado que, não obstante o desconforto que lhe é inerente, nos permite dar determinados passos e saltos, mesmo sem sabermos exactamente onde ou como vamos aterrar.
Fazer algo sem garantias de que corra bem, investir numa relação que não sabemos se vai ou não resultar, sermos rejeitados, fazermos um exame médico mesmo temendo o seu resultado e aguardar pela chamada do médico… integrar o mercado de trabalho numa nova área, procurar um primeiro emprego em Psicologia, explorar novos caminhos no nosso percurso de carreira… Se já se encontrou nalgum destes lugares comuns, certamente já se sentou lado a lado com a sua vulnerabilidade (e também já poderá ter pensado sobre ela e sobre a sua importância no crescimento individual, no desenvolvimento pessoal). Ou então… tentou enxotá-la ou silenciá-la.
Pois bem… existirão múltiplos acontecimentos nas carreiras dos psicólogos que os confrontarão com a sua vulnerabilidade, que os farão sentir-se inseguros, ou que os farão questionar o seu valor. Respondendo à questão que me foi colocada na entrevista de que vos falei – se sou vulnerável? Sou. Mas se isso também significa que me vou esforçar duas, três ou dez vezes mais para corresponder às expectativas e fazer um bom trabalho? Significa. Porque estou consciente da minha vulnerabilidade e não finjo que ela não existe.
Neste sentido, a sugestão que posso dar a um colega que possa estar em situação semelhante será que não ignore as questões que o podem fragilizar/comprometer/penalizar. Ao invés, identifique esses pontos de vulnerabilidade para que os mesmos se tornem pontos de uma nova força, de maior investimento, de esforço adicional, de motivação. Não tente ser quem não é, não tente anular fraquezas ou desconfortos com estratégias de evitamento. Seja genuíno, empático e corajoso, trabalhe com consciência daquilo que possam ser as suas limitações e áreas a trabalhar e utilize a vulnerabilidade como alavanca de desenvolvimento pessoal e profissional.