Artigo por Joana Almeida Monteiro
- “Ser Psicólogo/a? 5 anos de curso e já está!” – Não é bem assim.
Estava nos últimos anos do Mestrado Integrado quando a OPP passou a realidade. Vivi, através do entusiasmo de alguns docentes, a mudança incrível de realidade que foi ir em direcção de uma profissão regulada, organizada, agora (finalmente – percebi que tinha sido um longo caminho) com uma Ordem Profissional. E tínhamos, finalmente, um Código Deontológico, um referencial comum para guiar a reflexão perante os naturais dilemas de ética e deontologia.
Desse entusiasmo senti-me ser também contagiada pela apreensão colectiva dos meus colegas: então, mas afinal agora somos obrigados a fazer um ano de estágio profissional? Já não bastavam 5 anos de curso e agora ainda era preciso “perder” mais um a fazer estágio? Muitos diziam ser uma forma de limitar o acesso à profissão, de boicote às novas gerações.
Levou tempo até que fosse mais aceite a ideia deste “sexto ano”, passando muito pela forma como se olha para o Ano Profissional Júnior – no fundo é um ano de prática supervisionada, uma oportunidade privilegiada de iniciar a prática autónoma com uma rede de segurança adicional (um orientador, um projecto de estágio validado pela OPP, …), e no fundo é “somente” o nosso primeiro trabalho como Psicólogos/as.
“Creio que todos nós, até as mais recentes gerações, temos ainda a tendência para pensar que completando um curso em determinada área é condição suficiente para se ser profissional. Tirar uma formação superior, um curso, não é um fim em si mesmo – é um início. Iniciamos um percurso profissional no qual somos livres (sim, livres!) de o ir construindo consoante vá fazendo sentido.“
- “Ser Psicólogo/a? 5 anos de formação base e mais um ano de estágio e já está!” – Também não.
Sim, ao fim de 5 anos de formação base em psicologia e tendo completado com sucesso o Ano Profissional Júnior, tornamo-nos membros efectivos da OPP e somos Psicólogos/as. Mas…
Creio que todos nós, até as mais recentes gerações, temos ainda a tendência para pensar que completando um curso em determinada área é condição suficiente para se ser profissional. Tirar uma formação superior, um curso, não é um fim em si mesmo – é um início. Iniciamos um percurso profissional no qual somos livres (sim, livres!) de o ir construindo consoante vá fazendo sentido. É, por isso, tão importante olharmos para nós próprios: para os nossos interesses, competências, proposta de valor. Não menos importante é procurarmos conhecer o mercado de trabalho, as necessidades daqueles a que nos propomos apoiar.
A formação base é isso mesmo, a base, o ponto de partida; é como se fosse uma mochila, onde vamos poder guardar tudo o que coleccionarmos na nossa vida profissional. O primeiro item que lá guardamos é o Ano Profissional Júnior, mas se nos ficarmos por aí caminhamos com uma mochila meio vazia e descaracterizada (será uma mochila, afinal, muito semelhante a outras mochilas de outros Psis…). Perante novas situações, quereremos ser mais McGyver (referência a uma série dos anos 90 – se não conhecerem podem “googlar”) e poder ter ferramentas para usar, pelo que devemos então ir (continuamente) mais além.
É, por isso, fundamental que tenhamos uma atitude de constante desenvolvimento profissional. O “Desenvolvimento Profissional Contínuo” (DPC) é, aliás, uma das competências transversais preconizadas pelo EuroPsy – Certificado Europeu de Psicologia, por ser aspecto considerado fundamental para a boa prática da Psicologia. Afinal a nossa ciência, a Psicologia, está em constante actualização – é essa a “magia” da ciência – e se não investimos em DPC tornamo-nos profissionais que não cumprem com os melhores padrões de qualidade na sua prática. Não queremos isso, pois não?
No fundo, o que pode “alimentar” o DPC e assim ir “recheando a nossa mochila”?
- A Experiência Profissional que vamos desenvolvendo e que nos permite ir desenvolvendo as nossas competências
- A Formação Contínua e Avançada em que vamos investindo, dando preferência à formação acreditada
- Os processos de reconhecimento de competências e percursos (ex., tornarmo-nos Especialistas, afiliarmo-nos em organizações profissionais, etc.)
- O investimento em Redes Profissionais e toda a aprendizagem que podemos desenvolver junto de outros profissionais (da área ou não), bem como a Supervisão e Intervisão
- Desenvolver Investigação em Psicologia (seja de modo mais formal e institucional, seja a investigação que decorre da nossa prática no terreno e no documentarmos resultados, relacionando com a ciência)
- Difundir e partilhar conhecimento, tal como na Organização de Eventos, através da Escrita (científica e não só), etc.
- Manter Estudo Autónomo, ou seja, manter sempre activa uma cultura de auto-aprendizagem, espírito proactivo e curioso, dedicando-nos à leitura, pesquisa e compreensão do que nos interessa e surge como necessidade da nossa prática
Além dos benefícios intrínsecos de se investir no DPC em Psicologia, há ainda o reconhecimento formal por parte das organizações profissionais: por exemplo, as Especialidades em Psicologia reconhecem o percurso cumulativo numa área de Especialidade, ou a renovação do EuroPsy (após 7 anos da sua atribuição inicial) é feita mediante a demonstração de provas de DPC em Psicologia.
Se já caminha há algum tempo, faça uma pausa para pensar o que faz sentido e gostaria de juntar à sua mochila. Se está a iniciar a caminhada, mantenha o investimento em novos itens para diferenciar e valorizar a sua “bagagem”. Pegue na bússola e siga para bons percursos!
PS – Se não souber por onde começar: 1) Já experimentou aceder e preencher o simulador de candidatura das Especialidades OPP para ver que elementos curriculares lhe fariam falta para ser Especialista?; 2) Sabia que enquanto membro efectivo activo OPP pode pedir gratuitamente o seu EuroPsy aqui?