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"Não", Talvez a Mais Importante Resposta na Gestão da Carreira

Artigo por Ana Catarina Silva

Saber dizer Sim e Não é ser assertivo, é um direito e diria mesmo, um dever. É também uma evidência de liberdade, democracia, empatia e uma das competências sociais e de comunicação mais “trabalhadas” enquanto Psicólogas/os, precisamente por promover relações saudáveis.

Se considerarmos que sempre que enviamos um currículo ou apresentamos uma candidatura (espontânea e/ou em resposta a um anúncio), iniciamos uma relação com a entidade receptora, enquanto Psicólogas/os e futuros Psicólogas/os teremos, ou deveríamos melhorar, a “facilidade” de usufruir dessa mesma competência, também em nós próprios.

Neste processo reflexão e de aceitação do Não e das Não respostas como respostas válidas e menos dolorosas emerge a importância de uma gestão assertiva da carreira, da necessidade de trabalharmos a nossa passividade e agressividade, face aos feedbacks recebidos, num equilíbrio saudável entre ambas, promotor de crescimento, focado em soluções e não em culpados, numa, sempre desafiante, abordagem ao mercado de trabalho.

Não raras vezes esta é uma relação unilateral, é certo, mas não deixa de ser uma relação, no sentido em que mesmo uma Não resposta, deveria ser vista como tal, no contexto da gestão pessoal da carreira.

O direito a dizer sim e não é bilateral, um direito nosso, sejamos candidatos ou recrutadores.

E então porque nos custa tanto receber um Não ou uma Não resposta enquanto candidatos?

Além dos contributos da Ciência Psicológica nesta resposta e de ser muito pessoal, pode ser discutida e reflectida em conjunto.

1º Assumamos um ponto de partida one fits all: aceitarmos o Não e uma Não resposta como respostas válidas e um direito, exercido por outros nós, no papel de recrutadores. Será mais fácil para uns do que para outros, mas merece o esforço e a consistência até se tornar menos “doloroso” e mais natural.

2º Façamos uma análise cuidada e uma verdadeira reflexão, que permitam uma visão global de todo o processo, assim como respostas, sinceras, a diferentes questões.

Partilho algumas questões para reflexão, mas também que se as respostas não forem verdadeiras, mais vale não responder, pois todo o processo será distorcido, estaremos a enganar-nos e potencialmente a perpetuar ideias, sentimentos e queixas menos validas e/ou pouco fundamentadas.

Responder sim a todas as questões é passível de ser aplicado/verdadeiro, mas será mesmo assim? (Salvaguardo a possível facilidade na última questão, mas neste caso, será o sim o mais positivo?).

  • Usei as melhores ferramentas e as melhores estratégias em todo o processo, desde a pesquisa [do e no mercado de trabalho, da(s) entidade(s) em causa, de áreas emergentes, actividades já desenvolvidas e boas práticas na(s) área(s) de interesse, práticas e projectos de sucesso] até ao envio da candidatura?
  • Após o envio da candidatura, esperei uma resposta, sem mais nenhuma acção para a mesma?
  • Evidenciei competências, trabalhei numa marca pessoal representativa e demonstrei a mesma, encaixo no perfil pretendido para assumir/desempenhar aquelas funções naquela(s) entidades?
  • Desenvolvi/Desenvolvo a prática do auto-conhecimento e da escuta interna como um exercício contínuo?
  • Adquiri e melhorei hard skills e apostei em competências suaves?
  • Enviei dezenas de currículos, respondi a dezenas de anúncios e ainda enviei muitas candidaturas espontâneas (“já nem sei quantas”)?

Receber vários “Agradecemos a sua candidatura mas infelizmente NÃO foi bem-sucedida para a oferta em causa” ou várias Não respostas, às candidaturas apresentadas, podem ser as melhores e mais importantes respostas, nesta ou em qualquer fase da carreira.

A resposta recebida não é passível de ser controlada, mas o que fazemos com ela é e depende, muito, de nós!

Neste processo reflexão e de aceitação do Não e das Não respostas como respostas válidas e menos dolorosas emerge a importância de uma gestão assertiva da carreira, da necessidade de trabalharmos a nossa passividade e agressividade, face aos feedbacks recebidos, num equilíbrio saudável entre ambas, promotor de crescimento, focado em soluções e não em culpados, numa, sempre desafiante, abordagem ao mercado de trabalho.

São estes Nãos que nos fazem ir mais além, investir ainda mais e melhor, procurar outras soluções, mudar/melhorar estratégias e despertar a criatividade (ainda mais).

São estes Nãos que nos agitam e enervam, tornam o caminho trabalhoso, musculando a paciência, promovendo a identificação de outras áreas de interesse, numa abordagem consciente e consistente ao mercado de trabalho, reflectindo um auto-conhecimento cada vez mais profundo.

E serão precisos vários Nãos e várias Não respostas, para que tudo isto tenha TEMPO de acontecer!

Numa última reflexão, imagine que:

A primeira entidade na qual entregou a sua candidatura o/a aceitou OU Sempre que enviou um currículo recebeu um sim.

Estes Sins e a urgência em os receber, terão permitido alcançar o que aspirava e desejava?

Estes Sins terão sido menos dolorosos, mais positivos e mais válidos que os Nãos e as Não respostas?