Artigo por Joana Almeida Monteiro
“Encaixo no Perfil?” é uma pergunta que, se a não a costumamos colocar a nós próprios ao analisarmos uma oferta de emprego, devíamos.
Devíamos, pois é nessa reflexão que nos tornaremos mais conscientes das competências que temos para mobilizar para aquela função que estamos a ponderar candidatar-nos/propor-nos. Essa reflexão facilitará que adaptemos o nosso CV àquela oportunidade, servirá de base à preparação para uma eventual entrevista ou reunião exploratória. Servirá ainda para, numa perspectiva de evolução contínua, ir identificando os meus pontos fortes e os pontos a melhorar, e até eventualmente identificar necessidades de formação.
“Haverá, no entanto, um equilíbrio necessário entre o “candidato-me a tudo” e o “não me candidato a nada porque não encaixo no perfil”. Sermos criteriosos não pode ser o oposto de sermos inactivos – acho que pode ser justamente o ponto de partida para uma reflexão construtiva.“
E se não a colocamos? Possivelmente estamos a fazer candidaturas indiscriminadamente, estamos a responder a tudo o que diz “Psicólogo” ou “Psicologia”. Possivelmente não estamos tão conscientes de qual é o nosso perfil [de competências], ou o que procuramos numa oportunidade.
A reflexão sobre o alinhamento de determinada oportunidade com o profissional que sou deve ser feita considerando vários aspectos. Por exemplo, “está alinhado com os meus valores?” deverá ser algo a ponderar… desde aspectos mais simples como se o horário de trabalho é compatível com aspectos da minha vida pessoal, até se a missão da organização está alinhada com o que defendo e acredito.
Um aspecto muito importante na análise de uma oportunidade profissional é também o exercício de nos “colocarmos do lugar” de quem emprega. E isso, de um ponto de vista bastante prático, ajuda-nos a compreender, por exemplo, que o perfil pedido é, muitas vezes, não necessariamente realista mas ideal. Frequentemente há comentários humorísticos acerca da ideia de que o mercado pretende profissionais jovens com muitos anos de experiência, o que acaba por ser uma caricatura do que vemos nos anúncios de emprego. O que acontece é que quem procura um profissional através de anúncio, já terá esgotado outras fontes de recrutamento que lhes seriam mais fiáveis (ex., recrutamento interno, recomendação, …) e que por isso, ao abordar o desconhecido se pode procurar “defender” com um perfil demasiado específico.
Do ponto de vista do candidato, analisar um perfil muito específico pode ser intimidatório, confrontar-nos com “tudo o que não temos”. E isso desincentivar-nos de ponderarmos ser bons candidatos.
Haverá, no entanto, um equilíbrio necessário entre o “candidato-me a tudo” e o “não me candidato a nada porque não encaixo no perfil”. Sermos criteriosos não pode ser o oposto de sermos inactivos – acho que pode ser justamente o ponto de partida para uma reflexão construtiva. Por exemplo, que competências são pedidas pelo mercado e que eu posso demonstrar? E devemos pensá-lo de um modo menos rígido, por exemplo: poderei não ter a formação XPTO que descrevem no “perfil ideal”, mas eu pelas funções que tive contactei com o assunto, li sobre o tema, pus em prática determinado projecto. Se calhar até em experiências extra-Psicologia desenvolvi aspectos que são valorizados e que não os estou a “fazer brilhar”. Então, deverei tornar-me consciente, mobilizar esse conhecimento sobre mim, tornando-o visível no meu CV, enquadrando-o no email de contacto com a entidade, integrando-o no meu pitch de apresentação na entrevista. Só assim podemos encontrar em nós as nossas diversas mais-valias, e só assim as conseguimos dar a conhecer a quem possa nelas encontrar valor.
O que me motivou esta reflexão? Ver dados de um estudo feito pelo LinkedIn, que revela que as mulheres tendem a candidatar-se apenas quando consideram que encaixam num perfil a 100%, enquanto que para os homens tal avaliação fica-se pelo encaixe em 60%. Sendo que na Psicologia em Portugal temos cerca de 80% Psicólogas mulheres, fico por isso a pensar na quantidade de boas candidatas que se terá perdido, na quantidade de vezes que alguma colega hesitou em colocar-se em condição de se propor a uma posição que lhe interessasse e para a qual tivesse competências. Quer pela subestimação do seu perfil pelas próprias candidatas, quer pela idealização excessiva por parte do empregador… Fica para a reflexão de cada uma (ou cada um).