Artigo e Fotografia por Edite Queiroz
“I took a deep breath and listened to the old brag of my heart:
I am, I am, I am.” – Sylvia Plath
Todos os anos saem das instituições de ensino superior cerca de 1200 novos diplomados em Psicologia, o que representa uma enorme conquista, mas também uma dificuldade acrescida para uma área profissional que sempre se debateu com desafios à empregabilidade – fruto da representação social dos serviços dos psicólogos como algo acessório, secundário, assistencialista. Ainda que este paradigma comece finalmente a alterar-se, num contexto de competitividade elevada e problemas cíclicos de desemprego, a ideia de que para ser bem-sucedido no mercado de trabalho é essencial possuir competências e atitudes que extravasam o conhecimento académico tem vindo a ganhar popularidade. Também por isso, o desenvolvimento pessoal emerge como facilitador do desenvolvimento profissional, na medida exacta em que este último contribui para a formação e crescimento individuais. Para os psicólogos e futuros psicólogos, a dimensão pessoal é central na esfera profissional. Não é possível abdicar de experiências de vida, valores e crenças individuais no decurso de um labor que envolve compreender o Outro. Em suma, pensar a carreira não deve começar por olhar em volta – mas por olhar para dentro. Para desenvolver a escuta activa, é necessário aprender a escuta interna. Não é tão simples quanto possa parecer.
“…[…] pensar a carreira não deve começar por olhar em volta – mas por olhar para dentro. Para desenvolver a escuta activa, é necessário aprender a escuta interna. Não é tão simples quanto possa parecer.“
Os estudos sobre o desenvolvimento pessoal em estudantes apontam diversos aspectos que devem estar presentes ao longo deste processo. São eles o confronto com perspectivas diferentes das do próprio, o apoio e encorajamento, o contacto com amigos e familiares, as experiências pessoais (culturais, sociais, históricas), as relações interpessoais e alterações na forma como são estabelecidas (implicando progressivamente uma maior expressão do próprio), as competências sociais, relacionais e comunicacionais, o desenvolvimento da auto-estima, da auto-imagem, da capacidade de auto-monitorização, auto-controlo e auto-cuidado, a aceitação crescente das características pessoais, o aumento da capacidade empática, a auto-regulação emocional e afectiva, a gestão das dificuldades e desafios encontrados e estratégias de coping utilizadas, o aumento da abertura à experiência, a capacidade de gestão do tempo e de organização, a capacidade de auto-reflexão e o desenvolvimento de uma identidade pessoal e profissional – e a interligação das mesmas.
Os factores pessoais na base de um percurso de carreira incluem interesses, aptidões, competências, valores e preferências pessoais. O processo de desenvolvimento pessoal permite auto-acompanhar as experiências, progressos e realizações, reflectir sobre eles e fazer aprendizagens criteriosas acerca do que queremos fazer em função das nossas características, percursos de vida e aspirações, a fim de repetir o que funcionou bem e aprender com os erros. Em suma, saber quem somos, para onde queremos ir, e o que fazer para lá chegar. É um processo intencional e de complexidade crescente, que envolve emoções, cognições e comportamentos, que permite perceber capacidades e aptidões, identificar forças e fraquezas e adquirir a capacidade de as descrever de forma clara. É ainda, como o desenvolvimento profissional, um processo contínuo e progressivo, composto por uma sucessão de mudanças que reflectem a interacção do indivíduo com os outros e com o seu contexto social e cultural.
Se o desenvolvimento pessoal é a coluna vertebral da aprendizagem e da realização académica e profissional, o seu produto maior é o auto-conhecimento. Pode parecer paradoxal, mas o auto-conhecimento é um exercício contínuo que exige dedicação e foco. Mas as suas vantagens são inúmeras. Falaremos delas num próximo texto.