Artigo por Edite Queiroz
Enquanto opção académica, a Psicologia foi e continua a ser uma disciplina extremamente popular. A natureza fascinante do conhecimento psicológico atrai um grande número de estudantes, resultando numa média de 1200 novos diplomados em Psicologia por ano e preparando-os para uma ampla variedade de carreiras relacionadas com as pessoas e sua interacção. Na Academia OPP, não é raro conversarmos com estudantes que escolheram a Psicologia não porque pretendam tornar-se psicólogos, mas porque entendem – e bem – que ciência psicológica é uma formação fundamental para o desempenho de outras funções (por exemplo, uma carreira nas forças policiais ou nas forças armadas) ou poderá constituir uma mais-valia no mercado de trabalho.
“[…] actualmente não é suficiente ser tecnicamente competente; é também fundamental desenvolver competências sociais e comportamentais, naturalmente resultantes da individualidade do percurso de cada um – também deste ponto de vista, o desenvolvimento pessoal e profissional caminham lado a lado.”
Tradicionalmente, o mercado de trabalho valorizou sobretudo as competências técnicas dos candidatos – as chamadas hard skills (competências específicas e ensináveis, adquiridas via formação e experiência profissional, que podem ser definidas e medidas, e se destinam ao desenvolvimento de determinada função). Mas o mercado tem sofrido transformações profundas que exigem, para além da competência técnica, um conjunto de aptidões que permitam fazer face a desafios constantes e possibilitar a rápida adaptação a novos contextos. Por tal, actualmente não é suficiente ser tecnicamente competente; é também fundamental desenvolver competências sociais e comportamentais, naturalmente resultantes da individualidade do percurso de cada um – também deste ponto de vista, o desenvolvimento pessoal e profissional caminham lado a lado. E por isso, a maioria dos empregadores tem em conta essas competências – as chamadas soft skills – no processo de recrutamento de novos profissionais. Muitos afirmam mesmo que as competências sociais e comportamentais são mais importantes do que as técnicas.
As soft skills podem ser definidas como competências de relação e interacção baseadas na inteligência emocional que se desenvolvem ao longo da vida nos mais variadíssimos contextos, nascendo dos diferentes papéis que desempenhamos e das nossas experiências pessoais (ex., sociais, culturais, académicas). Assim, não sendo específicas de uma determinada ocupação ou profissão, o cariz transversal destas competências torna-as úteis em qualquer tipo de função e pode por isso ser decisivo num processo de recrutamento. Na maioria das vezes, para além da formação técnica exigida (por exemplo, um mestrado em determinada área que permite dotar o candidato de um determinado conjunto de hard skills), a diferenciação mais fina entre os candidatos é feita através da análise das suas soft skills.
Ora a formação em Psicologia não apenas equipa os futuros profissionais de competências técnicas. Conforme já vimos no nosso artigo “A Psicologia é uma Viagem”, a própria essência da Psicologia implica o desenvolvimento de um conjunto de competências sociais e comportamentais cujo valor é inestimável e transversal a uma grande multiplicidade de contextos. Estas competências – criatividade, proatividade, persuasão, resiliência, colaboração, pensamento crítico, iniciativa, adaptabilidade, gestão de tempo – são também úteis na obtenção de resultados positivos no trabalho, bem como no evitamento de resultados negativos.
Uma vez que não podem ser alvo de uma avaliação ou quantificação formal, a importância das soft skills no mercado de trabalho tende a ser desvalorizada pelos candidatos. Claramente, trata-se de um erro: O mercado de trabalho centrado nas soft skills traz aos Psicólogos um desafio acrescido que passa pelo desenvolvimento e valorização deste tipo de competências, mas também pela necessidade de alinhamento estratégico destas competências a um mercado cada vez mais exigente e em constante mudança. Decorrente dessa mudança, o conjunto de competências transversais que é hoje valorizado no mercado de trabalho irá alterar-se ao longo dos próximos anos. Cabe a cada um de nós, enquanto Psicólogos, ajustar o desenvolvimento das nossas soft skills às necessidades do mercado, bem como identificar novas áreas emergentes de actuação, assim como a ligação estratégica a áreas fronteiriças.
Num artigo futuro, abordaremos formas de identificar e desenvolver estas competências tão especiais – e de crucial relevância para a profissão de Psicólogo.