Artigo por Ana Leonor Baptista
Uma das questões mais frequentemente levantadas pelos recém-diplomados em Psicologia remete para a sua “inexperiência profissional” – como é que me vou posicionar no mercado de trabalho se nunca trabalhei? Como é que vou mostrar às entidades que sou uma boa escolha para um estágio profissional (ano profissional júnior) se ainda não sei fazer nada? Como é que vou saber que entidades podem ser acolhedoras de psicólogos/as júnior se até aqui o meu papel foi de estudante e não conheço a realidade da profissão?
Cada uma destas questões está envolta em armadilhas e pode ser o princípio de uma crença limitadora da acção (e do potencial) de um/a futuro/a Psicólogo/a. Iniciar um percurso profissional numa determinada área, para a qual o/a futuro/a profissional obteve formação académica, não é de todo sinónimo de “não saber fazer nada”, “não ter competências”, “não constituir uma mais-valia para uma entidade”.
Qualquer estudante de Psicologia nunca é “só” estudante, mantém múltiplos papéis de vida que acabam por se interligar – um estudante também pode ser artista ou atleta ou escuteiro, também pode estar envolvido em projectos na sua comunidade, também pode manter ocupações de tempos livres, também pode ser (ou já ter sido) trabalhador noutra área que não a Psicologia… Quando um estudante se envolve nestes múltiplos papéis de vida, está desde logo a potenciar e a contribuir para o/a Psicólogo/a que se tornará no futuro – está a ser um agente activo do seu desenvolvimento pessoal e profissional e a maximizar as suas competências.
“Quando um estudante se envolve nestes múltiplos papéis de vida, está desde logo a potenciar e a contribuir para o/a Psicólogo/a que se tornará no futuro – está a ser um agente activo do seu desenvolvimento pessoal e profissional e a maximizar as suas competências.”
Então, o que é que um/a estudante pode fazer para enriquecer o seu percurso de carreira durante os seus anos de formação académica?
- Estágios de observação / job shadowing
- Actividade(s) artística(s) e/ou desportiva(s)
- Associativismo (associações e núcleos de estudantes)
- Voluntariado
- Projectos e actividades de aproximação à comunidade
- Criar/participar num blog/revista/etc.
- Estudar “para além” dos conteúdos académicos
- Fazer entrevistas exploratórias com profissionais
- Participar em eventos/formações/workshops relacionados com as suas áreas de interesse
- Criar um grupo/clube/projecto relacionado com as minhas áreas de interesse
E que tipo de competências transferíveis (ie., competências adquiridas noutros contextos que podem ser úteis para a Psicologia) podem ser desenvolvidas neste tipo de actividades?
- Comunicação assertiva, positiva, capacidade oratória, falar em público
- Literacia digital, competências no uso de redes sociais e de ferramentas de comunicação digital
- Criatividade, originalidade, proactividade e iniciativa
- Pensamento crítico e questionamento, capacidade de argumentação
- Resolução de problemas e criação de soluções
- Liderança e influência social, colaboração e trabalho em equipa (competências interpessoais)
- Criação de ideias e empreendedorismo
- Resiliência, tolerância ao stress, flexibilidade, capacidade de ajuste
Quando um/a estudante de Psicologia se envolve em actividades extracurriculares como as supramencionadas, sejam elas quais forem (e podem incluir-se aqui outros empregos, outras carreiras noutras áreas que não a Psicologia), este está a trabalhar (pro)activamente no seu desenvolvimento pessoal e profissional, está a potenciar o seu próprio autoconhecimento e está a adoptar uma atitude exploratória e de aproximação do seu futuro profissional e do seu contexto. Simultaneamente, o envolvimento nestas actividades promove o networking, potencia a aquisição e desenvolvimento de competências transferíveis e enriquece o currículo de um recém-diplomado em Psicologia – que, não obstante não ter ainda experiência profissional em Psicologia, tem outros elementos promotores de competências que também são úteis para um futuro emprego em Psicologia e que, como tal, deverão constar no seu currículo e/ou carta de motivação. Para além das mais-valias supramencionadas, o enriquecimento de um percurso de carreira enquanto se é estudante contribui para a auto-eficácia e auto-realização, ambos aspectos fulcrais para a construção da auto-confiança e, como tal, da promoção de transições do ensino superior para o mercado de trabalho mais suaves.