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Quer Dizer que Tenho de Perceber de Gestão?

Artigo por Joana Almeida Monteiro

Durante os anos de estudante preocupamo-nos em cumprir com o nosso plano curricular (“passar às cadeiras”), em ter “uma boa média” (seja lá o que isso for – e para quê..?), em “chegar ao fim”. Para mim, chegar ao final do Mestrado Integrado em Psicologia foi uma conquista mas também um vazio assustador. Não me lembrava de mim sem ser no papel de estudante, sem o conforto dos calendários lectivos, das orientações dos professores, sem a certeza de uma turma de colegas a acompanhar-me num percurso comum. De repente sou eu, quase profissional autónoma (faltava o Ano Profissional Júnior) face ao mundo. E mais presente que nunca a célebre frase de Sócrates: “Só sei que nada sei”.

Durante o Ano Profissional Júnior, fase de transição entre esse conforto do muito conhecido papel de estudante e a desejada mas misteriosa nova fase de vir a ser Psicóloga, encontrei alguns aspectos que me voltaram a dar “rede de segurança”: uma orientadora, profissional mais experiente para discutir ideias, validar dúvidas, ajudar a ir mais além; e um projecto que me guiava ao longo de um ano. Tinha ainda uma formação obrigatória que me parecia ter utilidade. Houve um módulo que me desafiou particularmente – o de Projectos Profissionais em Psicologia – pois obrigou-me a pensar sobre coisas que, para mim, até àquele momento, não tinham a ver com o que achava ser preciso para ser Psicóloga: Orçamentos? Propostas? Protocolos e parcerias? Senti-me “como um boi a olhar para um palácio” (ou seja, sem perceber nada!), a achar que de repente estava na formação errada e aquilo era para gestores. Então quer dizer que afinal tenho de perceber de gestão para ser Psicóloga?

“…ser Psicóloga implica desenvolver competências práticas e transversais para permitir uma gestão profissional e de carreira, implica adoptar uma postura e desenvolver uma atitude de questionamento e auto-desafio constante, implica recolher e desenvolver ferramentas próprias adequadas a cada fase da carreira e cada contexto em que me encontro.

Acredito que muitos se possam identificar com esta progressiva e dolorosa descoberta de que sabemos menos do que achamos e devíamos, mas que também se possam identificar com o caminho que tenho trilhado deste então: descobrir que ser Psicóloga implica desenvolver competências práticas e transversais para permitir uma gestão profissional e de carreira, implica adoptar uma postura e desenvolver uma atitude de questionamento e auto-desafio constante, implica recolher e desenvolver ferramentas próprias adequadas a cada fase da carreira e cada contexto em que me encontro.

Olhar para o que a EFPA, no regulamento do EuroPsy nos indica serem as “enabling competencies” (competências práticas, transversais), ajuda a perceber de que falo:

  • Auto-Reflexão – termos uma constante postura de reflexão crítica acerca de nós mesmos, como forma de evolução permanente.
  • Desenvolvimento Profissional Contínuo – ir, de forma activa, investindo no desenvolvimento das nossas competências (de diversos modos: formação, intervisão e supervisão, estudo autónomo, …).
  • Estratégia Profissional – conseguirmos, perante um dado problema, analisá-lo de modo estratégico e identificar que competências da Psicologia vamos mobilizar.
  • Gestão da Prática – estejamos a trabalhar por conta própria ou por conta de outrem (e seja uma pequena empresa ou uma grande entidade) sermos capazes de gerir a nossa produtividade, utilizarmos ferramentas de monitorização de resultados, organizarmos dados, implementarmos melhorias, etc.
  • Gestão da Qualidade – criarmos ou cumprirmos com um sistema que garante a qualidade do trabalho que realizamos (muito através de uma cultura de acompanhamento de indicadores, identificação de potenciais riscos e implementando acções de melhoria).
  • Gestão de Clientes – estabelecermos e mantermos relações com os nossos clientes e potenciais clientes, explorando as suas necessidades e modo como podemos, com os nossos serviços, ir ao encontro do que precisam e querem.
  • Investigação e Desenvolvimento – alicerçarmos as nossas intervenções na mais recente evidência científica, bem como termos a cultura de recolher e analisar dados que vêm da nossa própria prática (identificar tendências, descrever resultados, …).
  • Marketing e Vendas – concebermos a nossa intervenção como um produto útil, desenvolver um discurso de venda (comunicar a nossa proposta de valor) que permita ao nosso cliente ficar convencido de como vale a pena ter os nossos serviços de Psicologia.
  • Relações Profissionais – mantermos a nossa rede de contactos com diferentes profissionais (da área da Psicologia ou não) e diferentes entidades.

Não obstante o papel das empresas no desenvolvimento de carreira dos seus trabalhares, cada vez mais o mercado procura profissionais que são agentes activos no seu crescimento, e a Psicologia não é excepção.

No fundo, vamos apetrechando o nosso “canivete suíço”, incorporando novas ferramentas além das do “canivete original”. Não temos de ser capazes de desenvolver todas estas competências sozinhos – podemos e devemos procurar recursos externos. Investirmos em psicoterapia, supervisão, formação, coaching psicológico, …, o que virmos ser útil e possível para melhorarmos estes aspectos poderá ser uma enorme fonte de satisfação pessoal e profissional.

Assim, e como ainda estamos numa fase movida pela motivação extra vinda das resoluções de Ano Novo, deixo como sugestão para quem lê: que tal fazer destes tópicos uma espécie de checklist e pensar sobre como pode melhorar tais competências?