Artigo por Ana Catarina Silva
Partindo do ditado popular “de boas intenções está o inferno cheio”, numa reflexão transversal e pessoal, poder-se-ia dizer que “de boas intenções, sem acções, o mercado de trabalho também”.
Um mercado de trabalho dinâmico e exigente, impõe da nossa parte, Psicólogos e futuros Psicólogos, uma postura igualmente dinâmica, mas sobretudo criativa e representativa das nossas reais intenções, facilitando a diferenciação.
Sendo inquestionável a importância da diferenciação e evidência do acréscimo de valor à entidade, justificando a escolha pelo nosso serviço/produto, na prática, na abordagem ao mercado de trabalho, como o fazemos?
“A intenção e promessa subjacentes à comum frase de apresentação ao mercado de trabalho “serei uma mais valia”, se não materializada em acções, como por exemplo, um documento complementar, com uma proposta efectiva de valor acrescentado, tornando-o imprescindível, poderá ser, para um mercado de trabalho, cheio de boas intenções, mais uma, sem acção.“
- Ansiamos a entrevista de emprego, para mostrar, em minutos, todo o nosso valor.
- Melhoramos a nossa marca pessoal nas redes sociais e/ou profissionais.
- Investimos num currículo dinâmico, flexível e “fora da caixa”.
- Enviamos/entregamos, espontaneamente e em resposta, currículos.
Estas estratégias, pressupõem que a identificação e interesse do e pelo nosso valor não dependam apenas da nossa acção, assumindo-se o mercado de trabalho, como parte interessada e disponível para interpretar, no que disponibilizamos, o nosso valor.
Ouvindo com frequência que, nem todos podem ou querem ser empreendedores e tem interesse no empreendedorismo e nos seus conceitos, ferramentas e estratégias, desafio-o a dar uma oportunidade e uma outra perspectiva a uma dessas ferramentas, como sinal claro da materialização da sua boa intenção.
A proposta de valor, desenvolvida no Business Model Canvas por Alexander Osterwalder e entendida como o conjunto de benefícios para o cliente, oferecidos pelo produto/serviço/empresa, justificando a selecção de um em detrimento de outro, além de uma excelente ferramenta nos planos de negócio, pode, de forma criativa, intencional e estratégica ser ampliada e aplicada como uma acção de enriquecimento e diferenciação na abordagem ao mercado de trabalho, seja em candidaturas de resposta a um anúncio e/ou espontâneas (facilitando um maior entendimento do seu valor).
Como pode fazer?
Se é para diferenciar, sejamos diferenciadores.
Sugerimos, entre outras, a leitura do artigo Proposta de Valor, do blog PsiCarreiras, para um maior entendimento desta ferramenta, assim como reflexão e preparação para as acções seguintes.
A proposta de valor deve ser elaborada para cada candidatura, dedicando-lhe o tempo e o cuidado proporcionais ao interesse no processo e resultado esperado da candidatura.
Cada proposta de valor, deve ser elaborada tendo por base isso mesmo, o nosso valor – o conhecimento – facilitando a sua apropriação pela outra parte.
Pressupondo, sempre, uma pesquisa e conhecimento mínimo da entidade à qual entregará a sua proposta de valor, a estrutura deve ser flexível, adaptável, que reflita o candidato e que responda a algumas questões chave, tais como:
- Qual o valor (conhecimento) que vai acrescentar ao potencial cliente – a referência às habilitações académicas poderá ser muito vago, deverá especificar conhecimentos, competências e práticas, com evidência científica, especificas da Psicologia e da sua prática profissional e de maior interesse e especialização.
- Quais os problemas e dificuldades que, identificando recursos e actividades específicas, se propõe a desenvolver e colaborar para uma melhor resolução dos mesmos.
- Quais as carências, necessidades, potenciais resultados inadequados ou indesejáveis, assim como obstáculos que dificultam um melhor e mais bem sucedido desempenho, podem ser reduzidos, modificados e transformados, no melhor uso e prática do seu valor (conhecimento).
- Quais as acções, actividades e serviços, especificando tipos e modalidades de intervenção, se propõe a desenvolver como resposta ao ponto anterior.
- Poderá especificar o custo do serviço, o tipo de vínculo pretendido, possíveis programas de apoio/incentivos à entidade pela sua contratação e/ou todas as informações que considere pertinentes para aquela candidatura específica.
- Lembre-se: A proposta de valor complementa, não substitui as outras ferramentas, facilitando o entendimento de qual o seu valor, potenciando a escolha pelo mesmo.
Elabore a sua proposta de valor através de um documento, num formato simples ou mais elaborado, em word / excel / powerpoint ou outro, para cada candidatura espontânea ou candidatura a um anúncio, sejam estas num processo de iniciação de estágio no âmbito do Ano Profissional Júnior, num processo de situação de desemprego ou num processo de mudança de emprego.
A proposta de valor deve evidenciar, como complemento às restantes ferramentas, seja apresentada como anexo num e-mail, entregue pessoalmente ou apresentada no âmbito de uma entrevista, os benefícios e verdadeira mais valia e diferenciação, enquanto candidato a escolher/querer, em detrimento dos demais. Nem sempre será possível, nem desejável uma total inovação nos serviços prestados, mas deverá ser sempre possível e desejável facilitar ao recrutador/entidade a identificação do nosso valor – conhecimento.
A intenção e promessa subjacentes à comum frase de apresentação ao mercado de trabalho “serei uma mais valia”, se não materializada em acções, como por exemplo, um documento complementar, com uma proposta efectiva de valor acrescentado, tornando-o imprescindível, poderá ser, para um mercado de trabalho, cheio de boas intenções, mais uma, sem acção.