
Não é novidade que a balança que equilibra a vida pessoal com o trabalho tem vindo a tornar-se cada vez mais fonte de reflexão e discussão quando nos deparamos com evoluções na carreira, na medida em que esse equilíbrio tem um grande peso na tomada de decisão nesses momentos.
Assim, e no seguimento da minha última oportunidade de reflexão escrita sobre carreiras em Psicologia por aqui, onde expressei a importância da satisfação no trabalho, enfatizando o contexto laboral como uma fonte própria do bem-estar de cada indivíduo, além dos pilares pessoais e sociais da vida do ser humano, trago-vos cinco estratégias para enfrentar essa possibilidade na prática – ou ajudar alguém, colega ou colaborador, a fazê-lo.
1. Autoavaliação:
Realizar uma avaliação do próprio, enquanto pessoa e trabalhador, é o primeiro passo para perceber quais os pontos fortes da sua posição atual e o potencial para a mudança – que tarefas tem a seu cargo? Que relações interpessoais no trabalho lhe são mais profícuas? Quais são as tarefas e relações que lhe trazem maior satisfação e quais são passíveis de alterar na direção dos seus valores pessoais? A clássica análise S.W.O.T. é uma metodologia exímia para explorar mais detalhadamente este primeiro ponto.
2. Oportunidades:
Compreender as noções práticas das tarefas que lhe estão designadas e a base das relações estabelecidas em contexto laboral permite-lhe redesenhá-las e ajustá-las de acordo com os seus pontos fortes e interesses pessoais. A questão que deve colocar é onde ou com quem existe espaço para aplicar estas alterações.
As possibilidades formativas já existentes na instituição são uma fonte a aproveitar nesta fase evolutiva da carreira (i.e., Workshops, Programas de Desenvolvimento Pessoal e Profissional, Programas de Mentoria e Job Shadowing).
3. Definição de objetivos:
Definir de forma clara o que se pretende de uma determinada ação é o início de um caminho ideal para a excelente execução dessa mesma ação. Estabelecidas as áreas que pretende alterar no seu posto de trabalho, pode agora refletir sobre como o fazer – existe alguma formação ou projecto que se alinhe com algum valor pessoal específico e/ou que lhe assegure maior competência laboral?
4. Comunicação e estabelecimento de relações interpessoais:
Estabelecidos os objetivos e as ações que pretende tomar, pode ainda identificar quem pode ser um aliado nas mudanças que pretende realizar individualmente – um colega de trabalho que conhece as suas aspirações pessoais e lhe pode trazer uma nova visão sobre o plano de ação ou o líder que tem vindo a conhecer diversas competências, pessoais e técnicas, em cada uma das pessoas que geriu ao longo dos anos e pode, portanto, partilhar modos de ação mais eficaz.
Quais são outras relações que pode estabelecer para alcançar os seus objetivos? Que negociações (i.e., divisão de responsabilidades e/ou de volume de trabalho) pode travar dentro da instituição para alcançar os objetivos a que se propôs?
5. Reavaliação:
Será de esperar que as suas aspirações e necessidades se alterem ao longo do tempo. É importante que mantenha autoavaliações periódicas sobre o nível de satisfação e desempenho no trabalho e o impacto na sua esfera pessoal, realizando ajustes sempre que necessário e tomando atenção a novas oportunidades de Job Crafting que melhor se alinhem com a sua trajetória de carreira e de vida.
Em retrospetiva, e à semelhança do papel de O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, na valorização e restauração da infame Catedral de Paris, é imprescindível notar também os pontos frágeis e decadentes da nossa carreira, dar-lhes atenção e renová-los de forma constante, através de um olhar inovador e motivado perante a oportunidade de mudança no local de trabalho, por forma a que nós próprios nos identifiquemos com o nosso papel na sociedade, enquanto trabalhadores e, em última análise, enquanto pessoas.