Artigo por Joana Almeida Monteiro
Estamos num mercado de trabalho muito competitivo…seja lá o que isso for. É um pensamento que nos acompanha desde os tempos de estudante, como se fôssemos carros de corrida todos alinhados na linha de partida, a acelerar em seco até darem o sinal de início de corrida (ou seja, o fim da nossa formação base). Então aí, aceleramos todos a fundo e esperamos não bater.
“Se eu soubesse o que sei hoje…” é um desabafo frequente; no fundo desejávamos ter a sabedoria que advém das nossas experiências sem passarmos por elas.
Se pudesse de algum modo enviar uma espécie de conselho à psicóloga recém-formada que era há 10 anos, no início da minha carreira profissional, seria assim uma espécie de mensagem tipo passagem de nível, não um “páre, escute e olhe”, mas um “respira, prepara-te e depois age”. Acho que deve ser um erro frequente, este de, na ânsia de querermos obter resultados na nossa procura por uma oportunidade profissional, começarmos a agir sem uma reflexão prévia.
Um dos aspectos que, por não ser fácil, tendemos a descurar, é o conhecermo-nos bem. Enquanto psicólogos reconhecemos a importância do autoconhecimento, mas nem por isso nos será um exercício isento de dificuldade. Por isso, termos ferramentas que facilitem esse exercício será um bom ponto de partida.
“Lembremo-nos que teremos sempre mais poder para lidar com os aspectos internos, as nossas características, e que pode ser mais benéfico centrarmo-nos nos nossos pontos fortes (e assim torná-los pontos excelentes) como forma de nos destacarmos como um bom profissional, por oposição a ficarmos a “cismar” nas fraquezas e naquilo em que não nos destacamos tanto.“
Uma ferramenta que costuma ser mais utilizada na área da gestão, mas que se revela muito útil para enquadrar essa reflexão sobre nós e o mercado de trabalho, é a análise SWOT. Possivelmente é um recurso que não é desconhecido da maioria, mas quantos de nós a teremos alguma vez feito a pensar sobre nós como Psicólogos? A sigla SWOT faz alusão às dimensões sobre as quais ajuda a reflectir: Forças (Strenghts); Fraquezas (Weaknesses); Oportunidades (Opportunities); e Ameaças/Barreiras (Threats). Em português também pode ser conhecida por análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças).
- As “Forças” são os aspectos positivos que são nossos, internos. Neste quadrante da matriz devemos, então, pensar nas nossas características, conquistas e competências positivas. Assim, devemos colocar-nos, por exemplo, questões como as seguintes: “em que situações dei um contributo que foi mais valorizado?”, “que talentos/capacidades/competências tenho?”, “quais são os pontos fortes da minha personalidade?”, “quais as minhas qualificações e áreas especializadas?”.
- As “Fraquezas” também correspondem a uma análise interna, e devemos procurar listar agora aspectos negativos. Podemos, por exemplo, pensar em responder a questões como “o que me limita?”, “tenho algum constrangimento financeiros, legal, físico, que me condicione?”, “existem falhas relevantes na minha formação/experiência/desenvolvimento profissional?”, “que características pessoais dificultam a minha adaptação ao trabalho/relacionamento com as pessoas?”.
- Quando pensamos nas “Oportunidades”, já estamos a reflectir acerca de dimensões externas, por exemplo, sobre o mercado de trabalho, a zona geográfica onde nos inserimos, a profissão. Podemos, assim, colocar-nos algumas questões como “Há alguma vaga disponível ou prestes a abrir de que tenha conhecimento?”, “Há alguns nichos de mercado onde me possa inserir e explorar?”, “Os serviços locais oferecem já todas as condições necessárias ou precisam de melhorias?”, “Que prémios, bolsas ou estágios estão disponíveis?”.
- A reflexão sobre as “Ameaças” é novamente sobre circunstâncias externas, neste caso negativas. Deste modo, podemos debruçar-nos sobre questões relacionada com, por exemplo, a inflacção, aspectos legais, a concorrência que enfrentamos (“com que profissionais compito?”, “que honorários são praticados?”), condicionamentos da zona geográfica onde estamos, ou outras características do mercado de trabalho.
Lembremo-nos que teremos sempre mais poder para lidar com os aspectos internos, as nossas características, e que pode ser mais benéfico centrarmo-nos nos nossos pontos fortes (e assim torná-los pontos excelentes) como forma de nos destacarmos como um bom profissional, por oposição a ficarmos a “cismar” nas fraquezas e naquilo em que não nos destacamos tanto. Aliás, é por essa tendência a nos centrarmos “no que nos falta” que muitos embarcamos em formações profissionais umas atrás das outras sem uma intenção clara do que pretendemos alcançar com elas.
Por vezes podemos ter dificuldade em identificar os nossos pontos fortes (um certo sentido de modéstia pode ser uma limitação ao exercício). Caso isso aconteça, podemos experimentar perguntar a colegas de curso, colegas de trabalho, mentores, enfim, alguém que nos conheça bem, que pontos fortes nos atribuem. A partir daí, pode ser mais fácil pensarmos se concordamos com eles e até recordarmo-nos de outros que não estivessem tão salientes.
Num próximo artigo veremos como, depois da análise SWOT como exercício de autoconhecimento, podemos reflectir sobre como encontrar a nossa vantagem competitiva neste mercado de trabalho, ou seja, como podemos encontrar a forma de nos destacar perante os nossos potenciais empregadores e clientes.
Até lá, “respirem, preparem-se antes de agir”; fica a sugestão de pegar numa folha em branco, e começar a listar pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças. Depois é pensar como se poderá potenciar os pontos fortes. Boas reflexões!!