
Num mundo cada vez mais marcado pela velocidade da informação e pela omnipresença das redes sociais, a desinformação tornou-se uma ameaça silenciosa, mas profundamente impactante, sobretudo para os mais jovens. Um em cada cinco adolescentes, entre os 12 e os 16 anos, admite já ter partilhado nas redes sociais informações que não tinham lido na íntegra e que, mais tarde, perceberam ser conteúdo falso (segundo um recente estudo português sobre literacia digital). A mais recente campanha da Ordem dos Psicólogos Portugueses, “Desinformação também é um problema de saúde”, vem lembrar-nos disso. Tomemos a minissérie da Netflix “Adolescência” como contexto para pensar sobre como a desinformação afecta a saúde mental dos adolescentes e o que podemos fazer enquanto psicólogas e psicólogos.
Ao longo dos episódios, vemos adolescentes em busca de identidade, pertença e validação. Essa procura – legítima e natural – acontece, hoje, num ambiente saturado de informação, quem nem sempre é fiável. As redes sociais, onde se passam muitas das interacções retratadas na série, mostram ser o palco de comparações constantes, boatos, julgamentos e também visualização e disseminação de conteúdos que, muitas vezes, escapam ao crivo da veracidade. A desinformação não surge apenas sob a forma de fake news: manifesta-se também em mitos sobre saúde mental, em expectativas irrealistas sobre aparência e sucesso, e em discursos polarizadores que alimentam conflitos e exclusões.
Como psicólogas e psicólogos, sabemos que a adolescência é um período crítico do desenvolvimento, onde se consolidam competências emocionais, sociais e cognitivas fundamentais. Quando os jovens estão expostos a informação distorcida ou enganadora, os riscos não são apenas de natureza cognitiva – são riscos afectivos e relacionais. A ansiedade, a insegurança e o sentimento de inadequação podem ser amplificados por narrativas que simplificam realidades complexas ou que reforçam estereótipos prejudiciais.
Mas – e é nisto que nos devemos focar – há espaço para a acção. A série mostra-nos momentos em que os jovens se apoiam mutuamente, questionam o que ouvem e experimentam outras formas de ver e sentir. É nesse espaço que a intervenção psicológica pode ser particularmente transformadora. Ao promovermos a literacia mediática, o pensamento crítico e o diálogo empático, estamos a capacitar os adolescentes para navegarem o mundo com mais autonomia e segurança. Estamos, em última análise, a proteger a sua saúde mental.
A campanha da OPP é um convite a assumirmos este compromisso. Promovermos ambientes informados, seguros e inclusivos faz parte do nosso contributo para uma sociedade mais saudável. A desinformação combate-se com conhecimento, mas também com empatia, escuta e presença activa. E é com estas ferramentas que podemos, e devemos, continuar a apoiar os adolescentes – no ecrã e fora dele.
Crescer com sentido crítico é crescer com mais saúde.