
Tomar decisões sob pressão é uma constante na vida profissional e pessoal. Seja no ambiente de trabalho, em situações de crise ou apenas em situações do dia a dia, a pressão pode distorcer a nossa capacidade de julgamento. Assim, compreender os vieses cognitivos que influenciam essas decisões e adotar estratégias mentais adequadas pode melhorar significativamente a qualidade das nossas escolhas.
O que são vieses cognitivos?
Os vieses cognitivos são atalhos mentais que o cérebro utiliza para processar informações de forma rápida. Embora úteis em emergências, estes atalhos podem levar a erros sistemáticos de julgamento. Entre os mais comuns estão:
- Viés de confirmação: tendência para procurar ou interpretar informações que confirmem crenças pré-existentes, ignorando evidências contrárias;
- Viés de disponibilidade: avaliar a probabilidade de eventos com base na facilidade com que exemplos vêm à mente, muitas vezes influenciados por experiências recentes ou marcantes;
- Viés de ancoragem: dar peso excessivo à primeira informação recebida, mesmo que irrelevante, influenciando decisões subsequentes;
- Viés de excesso de confiança: sobrestimar as próprias capacidades e conhecimentos, levando a decisões precipitadas.
Estes vieses podem distorcer a perceção da realidade e influenciar negativamente as decisões tomadas sob pressão (Kahneman, 2011).
Paralelamente, a pressão temporal e emocional pode intensificar a influência dos vieses cognitivos. Em situações de stress, a mente tende a procurar soluções rápidas, recorrendo mais frequentemente aos atalhos mentais. Sob pressão, a tendência para o viés de confirmação e o viés de disponibilidade aumenta, comprometendo a objetividade das decisões (Tversky & Kahneman, 1981).
Partilhamos algumas estratégias, para ajudar a mitigar, possíveis vieses:
- Pausa reflexiva: dedicar alguns segundos para refletir antes de tomar uma decisão pode ajudar a identificar e questionar os próprios vieses;
- Procura ativa por informações contrárias: procurar ativamente por evidências que desafiem as crenças pré-existentes pode equilibrar um julgamento inicial;
- Deliberação em grupo: discutir decisões com amigos ou colegas pode proporcionar diferentes perspetivas e reduzir a influência de vieses individuais;
- Uso de ferramentas estruturadas: checklists e modelos de decisão podem auxiliar na organização do pensamento e na consideração de múltiplas variáveis;
- Formação contínua: programas de formação em tomada de decisão e reconhecimento de vieses cognitivos podem melhorar a qualidade das escolhas ao longo do tempo (Fasolo et al., 2024).
Em suma, imagine um marinheiro a atravessar um mar agitado. A pressão para chegar rapidamente ao destino pode levá-lo a ignorar sinais importantes ou a confiar excessivamente na sua experiência. No entanto, ao consultar regularmente a bússola e ajustar o curso conforme necessário, ele pode evitar perigos e alcançar o destino com segurança. Da mesma forma, ao reconhecer os próprios vieses e adotarmos estratégias mentais adequadas, podemos tomar decisões mais informadas e eficazes.
A tomada de decisão sob pressão é inevitável, mas podemos melhorar a qualidade das nossas escolhas ao compreender os vieses cognitivos que nos influenciam e adotar estratégias mentais adequadas. A prática constante de reflexão e a utilização de ferramentas estruturadas são aliadas poderosas na busca por decisões mais racionais e equilibradas.
Referências
Fasolo, B., Heard, C., & Scopelliti, I. (2024). Mitigating Cognitive Bias to Improve Organizational Decisions: An Integrative Review, Framework, and Research Agenda. Journal of Management, 51(6), 2182-2211. https://doi.org/10.1177/01492063241287188
Kahneman, D. (2011). Thinking, fast and slow. Farrar, Straus and Giroux.
Tversky, A., & Kahneman, D. (1981). The framing of decisions and the psychology of choice. Science, 211(4481), 453–458. https://doi.org/10.1126/science.7455683