Artigo por Marta Alves
“Trabalho digno
Desempenhar uma actividade com: condições de segurança; tempo de descanso e lazer; coerência entre os valores pessoais e sociais do trabalhador com os valores do empregador; ter direito a uma remuneração justa e adequada às funções desempenhadas, bem como, acesso a cuidados de saúde.” (Blustein et al., 2019, citado por Silva et al.2021)[1].
O Sr. Mário (nome fictício) trabalha num empresa municipal de recolha de resíduos. Hoje fez mais uma recolha. Conforme habitual, liga uns minutos antes do horário combinado e questiona se pode fazer a recolha dentro de 15 minutos. O contacto é afável:
-“O colchão está na garagem. Tenho que o colocar à porta ou podem ir lá buscar?”, pergunta o munícipe.
-“É muito longe da estrada?”, pergunta o Sr. Mário.
(…) O que fazemos nós psicólogos/as, nos vários contextos em que trabalhamos, para promover o trabalho digno, o bem-estar profissional, o desenvolvimento vocacional, a saúde no trabalho, o desenvolvimento de competências, a promoção de oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo, a promoção do desenvolvimento pessoal, a avaliação de desempenho e a progressão na carreira, a gestão pessoal de carreira, a escuta, a aceitação, o respeito pelo outro e a empatia? E o que poderemos fazer mais?
_”É à face da estrada, tem só uma rampa”, diz o munícipe.
-“Deixe estar, não se preocupe, nós vamos buscar à garagem”, diz o Sr. Mário.
O Senhor Mário apresenta-se sempre bem e com a farda impecável. Meteu conversa a filha do munícipe: “Olá! Estás boa? Eu sou da polícia municipal”, entretanto vira-se para o munícipe e diz “é o que eu digo ao meu filho, para ele não dizer que o pai é lixeiro”.
Toda a restante recolha correu muito bem, com paciência para o comando da garagem que não funcionava e com um agradecimento à oferta de algo para comer e beber no café em frente. O Sr. Mário que era mais “desenrascado” do que o colega, lá foi buscar um sumo para ele e outro para o colega, que pareceu mais envergonhado.
Para alguém que é psicóloga e especialmente para os/as que trabalham na área da gestão de carreira, a frase “é o que eu digo ao meu filho, para ele não dizer que o pai é lixeiro” faz-nos pensar em várias questões, nomeadamente o estatuto relacionado com as profissões. Fez-me também lembrar uma reportagem emitida há algumas semanas sobre o trabalho na construção civil (que poderá visualizar aqui).
Não trago respostas, pois o âmbito de actuação do/a psicólogo/a para combater algumas crenças relacionadas com a carreira, para promover o desenvolvimento pessoal, para promover o acesso à igualdade de oportunidades é tão vasto, que deixo apenas a proposta de reflexão. Assim, o que fazemos nós psicólogos/as, nos vários contextos em que trabalhamos, para promover o trabalho digno, o bem-estar profissional, o desenvolvimento vocacional, a saúde no trabalho, o desenvolvimento de competências, a promoção de oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo, a promoção do desenvolvimento pessoal, a avaliação de desempenho e a progressão na carreira, a gestão pessoal de carreira, a escuta, a aceitação, o respeito pelo outro e a empatia? E o que poderemos fazer mais?
Independentemente da área de actuação, clínica e da saúde, educação, social ou organizacional, conseguimos ver de que forma já contribuímos e como poderemos contribuir ainda mais para as temáticas acima referidas. Não só nas várias áreas da Psicologia mas também nas várias modalidades de intervenção, seja num contexto “face a face”, num contexto organizacional ou de consultoria e apoio à gestão.
Por último, e como por vezes pensamos em novos projectos que não sabemos como começar a concretizar, recordo que existem várias iniciativas da OPP, no apoio à gestão pessoal de carreira dos psicólogos, das quais destaco o Espaço OPP Desenvolvimento Profissional, que se encontra com inscrições abertas (saiba mais aqui).
[1] Silva, A. D., Soares, J., Cardoso, P., Oliveira, I. M., Marques, C. Taveira, M. C. (2021). Glossário de Carreira. (2ª Edição). APDC Edições.