PsiCarreiras

logo-psicarreiras
Blog

Quando os Papeis Não Tiram Férias

Estamos na altura do ano mais desejada (pela maioria da população), o Verão! Os dias mais longos, o bom tempo, as festas que percorrem todo o país e as tão aguardadas férias.

Pelo menos férias daquele que é o emprego remunerado, no qual desempenhamos o papel de trabalhador, colaborador ou profissional. Contudo, nem todos os papéis permitem esse descanso, existem funções das quais não será tão fácil de tirar férias, como é o caso, por exemplo, do papel de pai ou mãe, o trabalho doméstico ou o de cuidador/a. A verdade é que vamos desempenhando múltiplos papeis – sociais, familiares, profissionais e pessoais – que muitas vezes se acumulam, transformam ou até se substituem, em função do contexto, da idade, dos objetivos e das exigências próprias de cada fase de vida.

Foi ao escrever recentemente uma apresentação sobre mim que me dei conta de como a minha identidade está profundamente entrelaçada com parte dos papeis que desempenho. O meu primeiro instinto na forma como me apresento é centrar-me em questões como a minha idade, a minha profissão, o local onde trabalho, de quem sou filha, irmã e companheira. E isso levou-me a refletir: será que me apresento como sou, ou como os meus papéis me definem? E de que forma encaro os papeis que desempenho e quais deles me são mais inatos?

Claro que, consoante as características pessoais, há papeis que assumimos com mais naturalidade. Mas há também situações de vida em que esses papeis não resultam de escolha. Um desses casos é o papel de cuidador e mais especificamente de cuidador informal.  A OPP lançou o documento “Vamos falar sobre autocuidado dos cuidadores informais” e ao lê-lo recordei-me da WebTalk PsiCarreiras “Ser e Cuidar: Conjugar a Profissão com o Ser Cuidador Informal“.

Logo no início da webtalk, a dinamizadora Joana Sacramento Amorim propõe as seguintes questões para reflexão: “Qual a probabilidade de cuidarmos de alguém ao longo das nossas vidas? Já fomos cuidadores? Somos? Como me tornei cuidador?”. Estas questões são bastante relevantes, sobretudo quando sabemos que mais de 1,4 milhões de pessoas prestam cuidados diretos, não remunerados, a familiares, amigos ou vizinhos em situação de dependência (OPP, 2025).

Entre os vários papéis que muitas vezes não escolhemos, mas que assumimos por responsabilidade ou afeto, o de cuidador informal destaca-se pela sua exigência e impacto. Apesar de, para algumas pessoas, esse papel poder ser gratificante, os efeitos negativos a nível emocional, físico e social não devem ser ignorados. O documento emitido pela OPP aponta que 8 em cada 10 cuidadores informais referem necessidade de apoio psicológico, mas apenas 4 em 10 o procuraram. Estes dados reforçam a importância da psicologia nesta área, como bem a Joana Sacramento Amorim identifica na WebTalk duas grandes áreas de intervenção – a prevenção da sobrecarga do cuidador e o acompanhamento de situações em que já está presente sintomatologia.

Além da identificação das necessidades, da identificação dos fatores de risco e proteção quanto ao síndrome do cuidador e da disponibilização de informação sobre apoios sociais, cabe ao psicólogo a desempenhar funções nesta área sensibilizar para a importância do autocuidado e promover a adaptação ao papel de cuidador.

Os papéis que desempenhamos moldam-nos, muitas vezes mais do que temos consciência, influenciando a forma como nos vemos e como nos relacionamos com o mundo.