
Ninguém nasce a odiar o outro pela cor da sua pele, pela sua origem ou pela sua religião. Para odiar as pessoas precisam de aprender, e se podem aprender a odiar também podem ser ensinadas a amar
Nelson Mandela
Têm sido, cada vez mais, os pedidos que têm chegado à OPP, por parte de psicólogos e psicólogas que procuram auxílio para adequar as avaliações e intervenções psicológicas que realizam junto da população multicultural. Bem como, pedidos da população geral à procura de um/a psicólogo/a que domine outras línguas, que não a língua portuguesa. A juntar a isto e no meio de todas as notícias que tem sido divulgadas, quer a nível nacional como internacional, de pessoas a serem discriminadas é-me impossível não retomar o tema do último artigo Competências culturais, pela importância dos psicólogos e psicólogas estarem conscientes da importância de oferecer serviços multiculturalmente competentes e efectivos.
Nele, destacava a importância dos psicólogos e das psicólogas na promoção do respeito pelas pessoas, seja qual for a sua etnia, cultura, identificação sexual ou religiosa, entre outras. E propunha uma auto-reflexão daquelas que são as atitudes adoptadas no decorrer das suas intervenções.
No entanto, o modelo tridimensional de competências multicultural aborda três dimensões: as atitudes, o conhecimento e as competências. Assim, creio ser relevante trazer à reflexão, além das atitudes, as outras duas dimensões e, de alguma forma, complementar o artigo anterior.
De todo o modo, começamos por rever a primeira dimensão: as atitudes (ou disposição pessoal), que indo ao encontro do já abordado, se relaciona com:
- Respeito pela diversidade, ser capaz de aceitar e valorizar as diferenças;
- Empatia cultural, capacidade de se colocar no lugar outro, reconhecendo a sua perspectiva;
- Abertura ao diálogo, manter a curiosidade e vontade de aprender;
- Reconhecer os seus próprios preconceitos, principalmente os preconceitos inconscientes.
E neste ponto será relevante que possam, de facto, fazer uma auto-reflexão das suas próprias atitudes.
A outra dimensão abordada é o Conhecimento, que envolve a compreensão das normas, valores, práticas e histórias das culturas. É necessário assim compreender o contexto histórico e social, compreender o impacto das desigualdades, obter conhecimento sobre processos de discriminação e estigmatização, bem como as suas dinâmicas culturais.
Para aumentar os conhecimentos poderá ser importante a procura de formação nessa área, poderá consultar aqui quais as acções formativas acreditadas pela OPP, ou através da supervisão ou intervisão com colegas com experiência na área.
Sendo a terceira dimensão as Competências (ou habilidades), que diz respeito às capacidades práticas, a tradução das suas atitudes e conhecimentos, para interagir de forma eficaz e respeitosa em intervenções multiculturais. Sendo necessário:
- Comunicação intercultural eficaz, ser capaz de adaptar estilos de comunicação e evitar assim possíveis mal-entendidos;
- Resolução de conflitos, ter a capacidade de abordar e gerir conflitos de forma construtiva;
- Adaptação cultural, conseguir ajustar comportamentos para se adequar a diferentes contextos;
- Sensibilidade cultural, de forma compreender subtilmente as necessidades e preocupação de pessoas de outras culturas.
O modelo prevê que estas três dimensões estejam interligadas: as atitudes motivam os profissionais a adquirir conhecimentos culturais, sendo que o conhecimento dá a base para desenvolver competências práticas e as competências ampliam a eficácia das intervenções interculturais.
É a combinação das atitudes, conhecimentos e competências que permitem interacções respeitosas e eficazes em contextos culturalmente diversos. Não basta demonstrar uma atitude curiosa pelas crenças da outra pessoa, é necessário de facto compreender a cultura e adaptar as intervenções.
Voltando ao início, e tendo como referência a frase de Nelson Mandela, que possamos contribuir, com as nossas intervenções, para que, de alguma forma, seja colmatado o “ódio”.