De acordo com o relatório de migração e asilo 2023, disponibilizado pela Agência para Integração Migrações e Asilo (AIMA), verifica-se em Portugal cerca de 1 milhão de cidadãos estrangeiros. Sendo que as nacionalidades mais representativas são o Brasil, Angola, Cabo Verde, Reino Unido, India, Itália, Guiné-Bissau, Nepal, China, França e São Tomé e Príncipe, segundo o mesmo relatório.
Estes dados demonstram o quanto Portugal se tem, cada vez mais, uma vez que a população estrangeira em Portugal tem tido sempre um aumento, tornado num país multicultural. Sendo que a multiculturalidade envolve o reconhecimento, aceitação e valorização da diversidade cultural, incluindo tradições, línguas, religiões, valores e práticas de vários grupos. De ressalvar que há vantagens significativas para a sociedade, como o enriquecimento cultural, a diversidade de perspectivas, a promoção da tolerância e o reconhecimento de direitos e igualdades.
Se formos além da coexistência de diversas culturas, chegamos à interculturalidade, que se refere à interação activa, respeitosa e enriquecedora entre diferentes culturas, e que pretende promover o diálogo, o entendimento mútuo e uma colaboração activa entre culturas. E é através da interculturalidade que se aumenta a competência cultural, se cria comunidades coesas, podendo inclusivamente conduzir à prevenção de conflitos culturais.
Todos e todas, enquanto psicólogos e psicólogas, podemos (e devemos) ter um papel activo na promoção do respeito pelas pessoas de diferentes culturas. A intervenção directa com outras culturas traz desafios nas intervenções, o desafio de conhecer e conviver com diferentes hábitos, costumes, formas de pensar ou estar, … poderá levar-nos a questionar as nossas próprias crenças, a reflectir se “sempre fizemos de determinada forma” porque foi sempre assim que vimos fazer e se faz sentido que assim se mantenha. O conhecimento de outros hábitos e costumes traz-nos a vantagem de abertura a novas possibilidades.
No modelo EuroPsy uma das competências consideradas fundamentais para a prática da Psicologia, são as competências relacionadas com as diferenças individuais e culturais. Que destaca a importância de o Psicólogo/a ter consciência dos seus próprios valores, das suas crenças e de que o seu comportamento profissional poderá ter impacto no outro. Por isso é fundamental que haja uma auto-reflexão naquilo que são as suas atitudes:
– Abertura: Consegue estar aberto a novas experiências, valores e conhecimentos
– Empática: Tem disponibilidade para entender e partilhar os sentimentos dos outros
– Curiosa: Tem interesse genuíno que conduz ao questionamento
– Respeitadora: Relativamente a outras experiências, valores e conhecimentos
– Proactiva na melhoria da situação para os outros e para si próprio.
A multiculturalidade poderá implicar adaptações na intervenção, desde logo por o psicólogo/a necessitar de reflectir acerca da sua competência cultural e capacidade de respeitar as diferenças culturais; poderá necessitar de ajustar as ferramentas ou técnicas de avaliação de forma a reflectir a realidade da pessoa com quem está a intervir e reconhecer a importância da identidade cultural e das possíveis desigualdades sociais
Na intervenção psicológica, a multiculturalidade exige sensibilidade, adaptação e reconhecimento da influência cultural na saúde mental. Por isso devemos estar em constante aprendizagem e reflexão de como estão as nossas competências culturais e a nossa atitude perante as outras pessoas.