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Setembro sem culpa: Substitua a performance exaustiva por uma produtividade sustentável

Setembro chega com o aroma dos recomeços. Podemos chamar-lhe de “janeiro disfarçado”, onde muitos regressam ao trabalho com uma lista renovada de objetivos e a esperança de fazer melhor ou, pelo menos, mais. No entanto, este impulso inicial costuma vir acompanhado de um peso silencioso: a culpa. Culpa por poder não estar a dar o máximo, por não sentir motivação suficiente ou por não conseguir cumprir a lista que se estende mais do que as horas do dia. Assim, talvez esteja na hora de reformularmos a ideia de produtividade e trocarmos a performance exaustiva por uma abordagem mais sustentável e humana!

Vivemos imersos numa cultura de alta performance que romantiza o esgotamento de recursos. Este resultado não nasce da preguiça ou da falta de competências, mas sim de contextos organizacionais exigentes que negligenciam o descanso, o significado e o equilíbrio. O problema não está em trabalhar, está em nunca parar ou equilibrar.

A produtividade sustentável convida-nos a pensar o trabalho como uma maratona, não como uma corrida de velocidade. Tal como um atleta precisa de pausas, alimentação adequada e treino consciente, também nós precisamos de recuperar emocionalmente para manter a clareza, a criatividade e o foco. A investigação em psicologia organizacional tem mostrado que práticas como pausas programadas, conhecidas como booster breaks (Grimaud et al., 2025), rotinas de autocuidado e limites saudáveis entre o tempo profissional e o pessoal são determinantes para um desempenho mais consistente e, paradoxalmente, mais eficaz.

O chamado “capital psicológico”, composto por esperança, otimismo, resiliência e autoeficácia é um dos recursos mais poderosos para promover uma cultura de bem-estar nas organizações (López‑Núñez et al., 2020). Este capital constrói-se e nutre-se, tal como qualquer outro investimento, e exige práticas diárias que favoreçam a autonomia, o propósito e o autocuidado.

Outro conceito emergente é o quiet quitting (Galanis et al., 2023), em que os colaboradores deixam de ir “além da obrigação”, não por desmotivação, mas por sentirem que as suas necessidades emocionais e profissionais não estão a ser respeitadas. Este fenómeno evidencia a importância de ambientes de trabalho com segurança psicológica, onde seja possível dizer “não” sem medo e onde o equilíbrio entre produtividade e bem-estar seja uma prioridade partilhada.

Setembro, pode e deve ser vivido sem culpa. O segredo está em redefinir o conceito de sucesso. Em vez de medir produtividade pela quantidade de horas trabalhadas, podemos avaliá-la pela qualidade das mesmas. Uma agenda equilibrada, que inclua pausas reais, momentos de criatividade, de reflexão e metas realistas.

Em última análise, “trabalhar bem” não significa estar sempre ocupado, mas sim saber equilibrar esforço com descanso, foco com pausa, exigência com equilíbrio.

Setembro poderá ser um mês para recomeçar com intenção, e talvez a decisão mais importante seja esta: recusar o cansaço como medalha e aceitar o descanso como estratégia. Ser produtivo, afinal, não é fazer sempre mais, mas fazer melhor, com tempo, com sentido e, sobretudo, com humanidade.

Referências bibliográficas:

Galanis, P., Katsiroumpa, A., Vraka, I., Siskou, O., Konstantakopoulou, O., Moisoglou, I., Gallos, P., & Kaitelidou, D. (2023). The quiet quitting scale: Development and initial validation. AIMS public health10(4), 828–848. https://doi.org/10.3934/publichealth.2023055
Grimaud, Q., Malloggi, L., Moret, L., Rowe, F., Fleury-Bahi, G., & Tripodi, D. (2025). Factors for adherence to a physical activity promotion program in the workplace: a systematic review. BMC public health25(1), 1827. https://doi.org/10.1186/s12889-025-22775-4
López-Núñez, M. I., Rubio-Valdehita, S., Diaz-Ramiro, E. M., & Aparicio-García, M. E. (2020). Psychological Capital, Workload, and Burnout: What’s New? The Impact of Personal Accomplishment to Promote Sustainable Working Conditions. Sustainability12(19), 8124. https://doi.org/10.3390/su12198124
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2021). Contributo Científico OPP – O Bem-Estar Organizacional. Lisboa.
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2024). Manual de Autocuidado para Psicólogos e Psicólogas. Lisboa.