O mês de Setembro é por muitos considerado algo semelhante ao Ano Novo. É uma fase de recomeços, de colocar as mãos à obra após o período de férias prolongado, típico no mês de Agosto. Apostaria que esta norma está directamente relacionada com a formatação que nos é incutida ano após ano, enquanto alunos, no início de cada ano lectivo.
Para os estudantes de primeiro ano do ensino superior, em particular, aqueles que escolheram e carimbaram o seu lugar num dos cursos de Psicologia existentes no país, este é um ciclo que recomeça, desta feita, no ensino superior, e, portanto, com contornos e especificidades diferentes de todos os Setembros até então.
A transição para o ensino superior traz consigo mudanças que se traduzem numa série de desafios com que os estudantes se deparam no início deste ciclo lectivo. Abaixo, enumero 4 domínios onde se destacam essas mudanças, bem como alguns dos desafios adjacentes.
Do ponto de vista académico surge um maior grau de exigência, em primeiro lugar, ao nível da competência técnica para a compreensão e aquisição de novos conhecimentos, e, consequentemente, na gestão de tempo necessária à consolidação dos conhecimentos.
A nível social, particularmente, ao considerarmos a mobilização de estudantes de todos os pontos do país, bem como de outros países, a permuta de culturas é extremamente diversificada. Este é um contexto profícuo à aquisição de conhecimento extracurricular, através do leque de (possíveis) relações interpessoais, que se torna mais alargado. Por outro lado, as constantes novas interacções requerem também a capacidade de estabelecer limites de forma assertiva.
Paralelamente, o sector pessoal é beneficiado pelas oportunidades pessoais que este momento traz aos estudantes, permitindo-lhes reforçar o seu senso de identidade individual e promovendo a auto-estima e sentido de pertença através da navegação de relações e actividades alinhadas com os seus interesses pessoais prévios.
Por fim, a entrada no ensino superior é, naturalmente, o ponto de partida das carreiras profissionais de futuros Psicólogos, onde a opção do curso materializa a primeira etapa de investimento no desenvolvimento profissional.
A gestão destes 4 domínios pode levar a que nos deparemos num jogo de hula-hula, ao tentar encontrar o equilíbrio perfeito entre o bom desempenho académico, o desenvolvimento de relações interpessoais profícuas enquanto trabalhamos e mantemos relações significativas prévias à entrada no ensino superior, a integração em grupos extracurriculares de desenvolvimento de competências psicossociais, relevantes para o futuro profissional, e em eventos académicos direccionados ao desenvolvimento profissional.
Como tal, deixamos de seguida 3 pontos de reflexão para uma adaptação positiva e benéfica à fase que agora começa.
Por forma a encontrar o equilíbrio que acima menciono, é imprescindível adoptar uma gestão de tempo eficaz. Estabelecer objectivos SMART no início do ano permite depois definir numa agenda ou calendário blocos de tempo (i.e., 5 minutos de pausa a cada 25 minutos de trabalho focado) alocados a actividades que permitem atingir esses objectivos.
No que diz respeito à gestão da vida pessoal, o autocuidado é um pilar a reforçar. A agitação que surge com a vida académica e com as novidades que esta traz pode promover comportamentos pouco saudáveis que interferem com a saúde física e mental dos estudantes. Além do estabelecimento de uma rotina de sono saudável (i.e., diminuição do consumo de substâncias estimulantes, realização de alongamentos e/ou de uma sessão de relaxamento antes de dormir), de um plano alimentar completo e rico em nutrientes e de uma rotina de exercício físico regular (i.e., cerca de 30 minutos diários), é também essencial reservar tempo pessoal para hobbies ou actividades relaxantes, que permitam desligar da correria do dia-a-dia. Definir e bloquear no calendário momentos de lazer/relaxamento torna-os parte do plano de acção, promovendo o exímio cumprimento de tarefas dedicadas ao bem-estar.
A adopção de uma comunicação assertiva e eficaz, primada pelo respeito e com recurso a uma escuta activa no estabelecimento de novas relações e novas regras e/ou comportamentos, é um caminho directo para transmitir o ponto de vista do locutor. Permita-se escutar (e não apenas ouvir) o outro lado, flexibilizando a sua posição dentro dos seus limites pessoais dos vários intervenientes, enfrentando de forma eficaz quaisquer conflitos que surjam.
Ao longo do ano lectivo, a revisão dos objectivos inicialmente estabelecidos permite adaptá-los à realidade, considerando alterações contextuais pessoais e/ou académicas. À semelhança do que se pretende do desenvolvimento profissional durante e após o percurso académico de um profissional de Psicologia, o processo de adaptação e integração no ensino superior, com todas os factores que acima se enumeraram, é contínuo e deve ser flexível às necessidades do próprio estudante.
No seguimento desta temática, e com o início do ano lectivo, estão agora abertas as inscrições para as próximas sessões da Academia OPP – uma iniciativa gratuita da OPP destinada a todos os estudantes de Psicologia – com ênfase no desenho do percurso profissional dos profissionais de Psicologia desde o ensino superior à prática profissional enquanto membro estagiário e, finalmente, membro efectivo da OPP.