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Ser Mulher no Mercado do Trabalho: das conquistas aos obstáculos que ainda persistem

Numa semana em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, data que reconhece historicamente as conquistas das mulheres, destacando a sua luta contínua pela igualdade de direitos, gostaria de deixar uma sucinta reflexão que incide não só sobre a transformação do papel da mulher no mercado de trabalho, mas também sobre alguns dos desafios que ainda enfrenta, os quais continuam a requerer, por parte da sociedade em geral, especial atenção.

Lá vai o tempo em que as oportunidades eram bem mais limitadas e os “sonhos profissionais” das mulheres se resumiam apenas a isso mesmo: a sonhos. Actualmente, o papel da mulher é, felizmente, muito mais activo, ocupando um lugar antes impensável, tendo sido redefinido o conceito de “sonho profissional”

Mas o que realmente mudou? E o que ainda é necessário mudar para que a igualdade de género no contexto laboral deixe de ser uma meta e se torne uma realidade universal? 

A história do papel da mulher no mercado de trabalho é intensa de lutas e de conquistas. Há um tempo atrás (não muito distante), o papel da mulher na sociedade resumia-se essencialmente ao “ser dona de casa”, responsável pelos cuidados do lar, dos filhos e da família. Com o passar dos anos, essa realidade começou a mudar e o papel da mulher na luta pelos seus direitos, incluindo o direito ao trabalho e à igualdade profissional, começou a intensificar-se à escala mundial.

A partir das últimas décadas do século XX, ocorreram mudanças significativas. O papel da mulher afirmou-se. As mulheres conquistaram o direito à educação e ao acesso ao mercado de trabalho, o que levou a uma crescente participação feminina em diversos sectores da sociedade.

Inicialmente, a mulher conquistava oportunidades em áreas profissionais consideradas “tradicionais” para o género, como o ensino, a enfermagem e o trabalho administrativo. Mas, com muita determinação, foi conseguindo ultrapassar algumas barreiras e, hoje em dia, está presente em praticamente todas as áreas profissionais, incluindo as dominadas historicamente por homens, como as engenharias, a tecnologia da informação e, inclusivamente, ocupando cargos de liderança empresarial.

Mas esta jornada não tem sido fácil e muitos desafios ainda se colocam nos dias de hoje, como o assédio laboral, a desigualdade salarial, a dificuldade de progressão na carreira e o equilíbrio entre a vida profissional e as responsabilidades familiares. O preconceito e a discriminação de que a mulher é alvo, a subestima de capacidades que em muito limita as oportunidades de crescimento profissional, são ainda uma realidade presente.

No entanto, apesar de todos estes desafios, nos últimos anos temos observado um movimento crescente em que a mulher tem conquistado mais espaço no mercado de trabalho.

Cada vez mais, a mulher ocupa posições de destaque, liderando grandes empresas, inovando em áreas científicas e tecnológicas e criando negócios bem-sucedidos. Entre 2014 e 2024, a percentagem de mulheres em cargos de direcção cresceu. Actualmente Portugal iguala a média europeia, com 34,7% das mulheres a ocupar cargos de liderança. Esta evolução feminina no mundo laboral reflecte uma mudança importante na própria sociedade, que se traduz, nomeadamente, pela criação de leis de protecção e promoção da igualdade de género no contexto laboral. 

Muitas organizações reconhecem actualmente a importância da diversidade e da inclusão, adoptando políticas de apoio ao desenvolvimento de carreira das mulheres, o que tem conduzido a uma maior iniciativa, por parte destas, para investir nesse mesmo desenvolvimento e nas suas próprias ambições profissionais. 

Nos últimos 10 anos, houve um aumento significativo no número de mulheres que vêem o trabalho como uma carreira, superando a diferença de atitudes em relação aos homens. Essas mudanças foram ampliadas em 2020 com a chegada da pandemia global que gerou mudanças em todas as sociedades.

Quando se fala em igualdade de género no trabalho, alguns sectores da sociedade têm feito consideráveis progressos, destacando-se pelo facto de desenvolverem ambientes mais justos e equitativos. Por exemplo, a área das tecnologias e algumas start-ups têm mostrado um esforço nesse sentido. Apesar de tradicionalmente serem áreas com maior ocupação de cargos por homens, têm vindo, nos últimos anos, a oferecer mais oportunidades a mulheres, especialmente em cargos de liderança e desenvolvimento. As áreas da saúde e da ciência são outras que merecem reconhecimento. A mulher tem vindo a conquistar uma presença significativa não só na medicina, como também na investigação e como líderes em organizações de saúde. A área organizacional e dos recursos humanos tem vindo, igualmente, a permitir uma maior abertura e igualdade, com a adopção de mais práticas de inclusão.

A tecnologia tem aberto portas a carreiras profissionais que antes poderiam parecer distantes ou até mesmo impossíveis para muitas mulheres. Uma das grandes vantagens é o trabalho remoto. Com o acesso à internet e a ferramentas digitais, a possibilidade de trabalhar em qualquer lugar tem permitido uma maior conciliação entre a vida pessoal e profissional, abrindo portas a novas oportunidades de carreira. A tecnologia criou também um boom de novas profissões que exigem, na sua maioria, criatividade, inovação e empreendedorismo digital (características muito vincadas no perfil feminino) onde o papel da mulher tem ganho, assim, especial destaque.

Mas mesmo com alguns destes progressos visíveis e conquistados ao longo dos últimos anos, a mulher continua a enfrentar enormes desafios no que respeita ao acesso a oportunidades e a uma equidade de condições profissionais.

A desigualdade salarial em relação aos homens é um deles, e tem vindo a agravar-se significativamente na última década. Um estudo recente da Randstad Research revela que, entre 2014 e 2024, a diferença do rendimento médio mensal líquido entre homens e mulheres cresceu cerca de 72%. Nos últimos 10 anos, o número de mulheres empregadas aumentou 20,7% representando, agora, quase metade da população empregada. No entanto, a disparidade salarial continua a ser um entrave à equidade no mercado de trabalho.

Estes dados comprovam, assim, que ainda existe um longo caminho a percorrer, no que à igualdade de género no mercado de trabalho diz respeito. Apesar de se ter feito um caminho próspero até aos dias de hoje – há mais mulheres a trabalhar e com mais qualificações, bem como mais mulheres em cargos de direcção – as diferenças salariais entre homens e mulheres numa mesma função, continuam a aumentar, o que, não só nos deve surpreender, como nos deve deixar o alerta para o facto de que a igualdade de género no mercado de trabalho ainda não se alcançou, e que o estado e as empresas devem continuar a fazer mais esforços no sentido de se implementarem mais e melhores estratégias que possam promover uma maior equidade. 

A presença da mulher no mercado de trabalho é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada, como tal, romper algumas barreiras e enfrentar alguns dos desafios aqui elencados, exige naturalmente um esforço conjunto de governos, organizações e sociedade. As mulheres têm o direito de ocupar todos os lugares que desejarem, sendo para isso necessário que a sociedade no seu todo continue a trabalhar para garantir que tal seja possível, pois todos ganham: as mulheres conquistam o seu espaço com dignidade e autonomia e as organizações e economias só beneficiam da diversidade e inovação que a pluralidade traz.