
No mundo profissional e na vida pessoal, somos frequentemente confrontados com a dicotomia entre quantidade e qualidade. Seja na produção de trabalho, na acumulação de experiências ou nas relações interpessoais, a tendência para privilegiar um destes aspetos pode ter um impacto significativo no nosso bem-estar e sucesso. A psicologia ajuda-nos a compreender como encontrar um equilíbrio saudável entre ambos, permitindo-nos tomar decisões mais conscientes e alinhadas com os nossos objetivos.
A busca excessiva por quantidade pode levar à redução da satisfação no trabalho e aumento do stress. A perda de produtividade causados por stress e problemas de saúde psicológica pode custar às empresas portuguesas até €3,2 mil milhões por ano (OPP, 2020). Assim, o desafio passa por encontrar um ponto de equilíbrio que maximize o desempenho sem comprometer o bem-estar psicológico.
Atualmente, ganham particular relevância os riscos psicossociais associados à ausência de fronteiras entre o trabalho e o lazer, assim como a dificuldade em equilibrar a vida pessoal e profissional (OPP, 2018).
O Impacto na Carreira
No contexto profissional, a quantidade pode ser vantajosa em algumas situações, como nas fases iniciais de uma carreira, onde a experiência diversificada é crucial. Jovens profissionais podem beneficiar de um elevado volume de projetos para adquirir competências e descobrir as suas verdadeiras paixões. No entanto, à medida que a carreira evolui, a qualidade tende a tornar-se um fator diferenciador, pois as organizações e clientes valorizam resultados consistentes e bem elaborados.
Organizações que promovem uma cultura de alta produtividade sem considerar a qualidade podem acabar por sofrer com elevada rotatividade de colaboradores e desgaste emocional. Por outro lado, aquelas que apostam excessivamente na perfeição podem enfrentar dificuldades em responder às exigências do mercado. O ideal é que a prevenção, a promoção do bem-estar e a implementação estratégica de mudanças que assegurem práticas organizacionais centradas no bem-estar e na sustentabilidade, passando pela intervenção dos/as psicólogos/as, neste equilíbrio (OPP, 2023).
Encontrar o Equilíbrio
A Organização Mundial de Saúde define a saúde psicológica como “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao stresse normal da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e pode contribuir para a comunidade em que se insere” (OMS, 2022).
Nesse sentido, para gerir melhor a relação entre quantidade e qualidade, é fundamental desenvolver estratégias que permitam otimizar o desempenho sem sacrificar o bem-estar. Algumas sugestões incluem:
- Definir prioridades claras – Nem todas as tarefas exigem um nível de qualidade exaustivo. Saber distinguir o que realmente necessita de mais atenção ajuda a gerir melhor o tempo;
- Adotar uma abordagem progressiva – Em vez de procurar um rigor absoluto desde o início, pode ser mais eficaz começar por uma versão funcional e aperfeiçoá-la ao longo do tempo;
- Evitar a sobrecarga – Trabalhar em excesso pode prejudicar tanto a quantidade quanto a qualidade. Pausas regulares e uma boa gestão do tempo ajudam a manter o equilíbrio;
- Valorizar o feedback – Receber opiniões externas permite ajustar a abordagem e encontrar um meio-termo entre entregar rapidamente e garantir um padrão elevado de qualidade.
Em suma, a discussão entre quantidade e qualidade não deve ser vista como uma escolha binária, mas sim como um espectro onde diferentes contextos exigem abordagens distintas. A psicologia mostra-nos que a chave para o sucesso profissional e pessoal reside na capacidade de adaptação e na consciência das nossas próprias limitações. A produtividade deve ser um meio para a realização pessoal e profissional, e não um fim em si mesma. Assim, o mais importante é garantir que tanto a quantidade como a qualidade coexistam de forma harmoniosa, respeitando os limites individuais e promovendo o autocuidado. O verdadeiro sucesso não se mede apenas pelos números, mas pelo impacto positivo e duradouro que conseguimos gerar, tanto para nós próprios como para os outros.
Referências:
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2018). Saúde mental e bem-estar no local de trabalho – Contributo da OPP. Lisboa
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2020). Contributo OPP – O Custo do Stress e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal. Lisboa
Ordem dos Psicólogos Portugueses (2023). Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações – Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal. Lisboa.
Organização Mundial de Saúde (2022). Mental Health Strenghtening our response. Retirado de: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-health-strengthening-our-response