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Publicitação Profissional: O Psicólogo como mini-embaixador da Psicologia

O psicólogo na sua prática profissional depara-se, frequentemente, com a questão de publicitar ou não os seus serviços. Para alguns de nós, a primeira resposta é de algum desconforto e relutância. Parece-nos algo estranho, ou inadequado, “vender” os nossos serviços, e não estamos muito certos sobre se há uma boa forma de o fazer. Para outros, esse desafio é abraçado com enorme entusiasmo e, por vezes, pouca ponderação. Pensamos na nossa publicitação profissional como uma extensão natural da nossa pessoa, e entregamo-nos a ela numa lógica de “aqui vai disto” porque “vale tudo desde que seja genuíno”.  

A maioria de nós, contudo, estará algures entre estes dois polos. Queremos fazê-lo. E porque não? Afinal, é legítimo querermos que as pessoas nos encontrem, além de que vários milhares de psicólogos a divulgar o seu trabalho são vários milhares de mini-embaixadores da psicologia. Mas queremos fazê-lo “bem”. Isto é, queremos fazê-lo de uma forma que nos represente como pretendemos – a nós, mas também, enquanto mini-embaixadores, à própria psicologia. Então, como?

A primeira questão a ter em conta, é exactamente esta. Quando um psicólogo se identifica enquanto tal, ele acaba por – seja ou não essa a sua intenção – representar também a sua classe profissional. Significa isto que as suas declarações e comportamentos se reflectem não apenas em si mas também nessa classe profissional, com o potencial impacto – positivo ou negativo – que isto tem para todos nós. No nosso Código Deontológico podemos encontrar esta ideia traduzida na noção de Responsabilidade Profissional. A este respeito, recomenda-se também, em Prática e Intervenção Psicológicas, a leitura do ponto Publicitação Profissional, muito directamente aplicável a este tema.

Partindo daqui, talvez a forma mais simples de operacionalizar essas ideias seja considerar de que forma os pressupostos da própria intervenção psicológica podem ser traduzidos para a publicitação da mesma. Por exemplo…

(1) Promoção de autonomia. A intervenção psicológica envolve um trabalho de colaboração entre o psicólogo e o cliente, e tem como objectivo último promover a autonomia deste. Uma intervenção psicológica bem-sucedida é aquela em que não só o cliente compreende o seu papel nesse sucesso, como deixa de precisar da ajuda do psicólogo nesse sentido. Então, será de evitar uma publicitação assente em promessas ou garantias de resultados específicos. Ou na ideia de uma técnica A, B ou C que “cura” a questão X, Y ou Z em 3, 5 ou 10 passos simples. Ou até na ideia daquele psicólogo como uma autoridade capaz de ter sucesso onde todos os outros falham. Não só porque estas afirmações grandiosas geralmente não são rigorosas, mas também porque este foco excessivo ou exagerado na técnica ou na pessoa do psicólogo é difícil de conciliar com a ideia da promoção de autonomia do cliente.

(2) Isenção e neutralidade A intervenção psicológica oferece um espaço de não julgamento, em que as partilhas do cliente não são submetidas ao crivo das crenças, valores e experiências pessoais do psicólogo. Uma publicitação profissional assente nas posições pessoais do psicólogo não só arrisca comunicá-las como posições da psicologia e dos psicólogos, quando não é esse o caso, como também compromete essa expectativa de isenção e neutralidade por parte deste.

(3) Confidencialidade A intervenção psicológica oferece um espaço de confidencialidade, em que as partilhas do cliente não são partilhadas com terceiros sem um enquadramento que o justifique. Uma publicitação profissional assente em testemunhos ou “casos de sucesso” de actuais ou antigos clientes não só não é muito fidedigna, porque o cliente pode facilmente aceitar prestar esse testemunho só para agradar ao psicólogo, como também não é muito protectora da confidencialidade do cliente, mesmo nos casos em que este a autoriza e, sobretudo, quando inclui elementos que o identificam.

Posto isto… Cada psicólogo é uma pessoa única e, naturalmente, a sua publicitação pode e deve expressar essa unicidade. Se na própria intervenção psicológica, dentro de um enquadramento comum, cada um tem espaço para ser quem é, por que motivo o mesmo não se aplicaria à nossa publicitação profissional?