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Psicologia da Paz

“Temos um Mundo em Pedaços, temos de ter um Mundo em Paz”

Tomo a liberdade de utilizar a frase de António Guterres – Secretário-Geral das Nações Unidas, proferida na sua intervenção na sessão de abertura do debate da 72ª Assembleia Geral das Nações, porque espelha em pleno os tempos em que vivemos.

Este Mundo em Pedaços, chega-nos maioritariamente pelos meios de comunicação social, nos últimos tempos as notícias oscilam entre o conflito israelo-palestiniano, guerra no leste da Europa e mais recentemente, na sequência da perda de uma vida, cenários de violência e conflitos nalguns bairros no nosso país.

Esta fragmentação cada vez mais intensa, necessita que se continue de forma cada vez mais activa a erguer pontes, tanto nos micro, como nos macro contextos, mas para tal, é necessário que seja criado um espaço real para a compreensão destes fenómenos, para sua remediação, mas essencialmente para a sua prevenção, pelo que destaco o papel da Psicologia neste caminho, nomeadamente da Psicologia da Paz.

Tudo à nossa volta pode ser olhado e compreendido nas bases das nossas dimensões cognitivas e comportamentais. Desta forma, a Psicologia tem muito a dizer sobre estas fragmentações, suas origens e como poderemos de forma activa prevenir as mesmas.

Se pegarmos, enquanto exemplo, nas situações vivenciadas nos últimos tempos, nalguns bairros, assistimos em primeira mão, e muitas das vezes de forma inconsciente, à forma como a comunicação social, contribui para alimentar o nosso viés de negatividade, dando espaço unicamente a noticias de cariz negativo sobre determinado assunto.

A Psicologia explica-nos queo Viés de Negatividade resulta na tendência que todos nós temos para reter mais informações negativas do que positivas. Os estímulos que vivemos sejam eles experiências, emoções ou informações, têm um impacto mais intenso e duradouro na nossa mente, do que estímulos positivos de igual intensidade. Este fenómeno, que nos coloca a reagir de forma mais intensa a eventos negativos do que a eventos positivos, está relacionado com as nossas raízes evolutivas e com mecanismos de sobrevivência.

 Pensemos então, na quantidade de vezes que foram divulgadas notícias positivas, associadas aos bairros em questão. Os próprios meios de comunicação (uns mais do que outros) utilizam de forma estratégica este processo mental, por forma a garantir notícias com maior impacto, que por sua vez irão também impactar de forma mais acentuada o telespectador. Mas pensemos também, nos impactos destes desequilíbrios de informação em massa e nas suas consequências e na forma como poderão facilitar as generalizações.

As Generalizações são processos mentais comuns, essenciais para o nosso dia-a-dia e que resultam na capacidade de tirarmos conclusões com base em informações limitadas, criamos regras mentais para simplificar a interpretação do mundo. Têm origem em processos cognitivos, sociais e evolutivos e, embora sejam uteis para facilitar as tomadas de decisão, também podem levar a distorções e preconceitos.

As generalizações por vezes estão relacionadas com o princípio de aprendizagem associativa. Por exemplo, se vivenciarmos uma situação negativa com um grupo em específico ou se só assistirmos a informação negativa sobre um grupo em especifico, podemos generalizar essa experiência para todo o grupo, mesmo que seja irracional. E muito embora esta tendência a uma forma de aprendizagem rápida nos tenha ajudado nos nossos ancestrais a evitar o perigo, é importante que reflictamos, que não vivemos actualmente no tempo dos hieróglifos, porque no mundo actual, as generalizações podem contribuir para estereótipos e preconceitos, expectativas rígidas e erros de julgamento.

Não existe um “Nós e os Outros”, os conflitos não dizem respeito a quem os vive no directo, todos nós vivemos neste “Mundo aos Pedaços” e temos a responsabilidade pessoal e profissional, em adoptar um papel activo na sua resolução e na sua prevenção dos seus problemas complexos. Para tal, a Psicologia fornece-nos umas lentes essenciais para olharmos e compreendermos o que se está a passar à nossa volta.

Olhemos para o importante papel da Psicologia da Paz, que nos oferece ferramentas e insights valiosos para reduzir a violência e construir uma sociedade mais justa e cooperante. A sua aplicação pode ser muito vasta, quer em contextos de conflitos armados e pós-conflitos, comunidades em tensão social, organizações e ambientes de trabalho, políticas publicas e direitos humanos.

Trazer a Psicologia da Paz para o nosso dia-a-dia, permite a compreensão dos factores psicológicos e sociais do conflito, da promoção do diálogo e da reconciliação, redução da violência directa, estrutural e cultural, contribuindo ainda para a construção da resiliência, da capacidade de mediação, realçando, a importância para a criação de espaços para a edução para a paz.