PsiCarreiras

logo-psicarreiras
Blog

O que me Norteia? Os Valores como Bússola para as Decisões

Ao longo da vida vamos tendo necessidade de tomar decisões. Desde decisões mais mundanas e de tal forma simples que nem temos muita consciência delas (ex., de 3 tarefas que tenho para fazer, qual a que começo em primeiro lugar), mas também decisões que têm um maior impacto na nossa vida (ex., aceitar uma proposta de trabalho numa área da Psicologia que nunca experimentei).

No processo de tomada de decisão, é natural que se ponderem cenários alternativos, prós e contras de cada caminho seguido. Contudo, como referencial de base, cada pessoa pensará de acordo com o que é, para si, importante. Ou seja: cada pessoa pensará no que valoriza, quais são os valores que, para si, devem prevalecer e guiar a sua escolha.

Numa escolha tentamos satisfazer ao máximo o que pretendemos, sendo, contudo, difícil conceber “tudo o que poderíamos perder” (viés da aversão à perda, muito descrito por Daniel Kahneman e Amos Tversky na sua Prospect Theory). Muitas escolhas não se baseiam só em oportunidades objetivas, mas também no medo que temos de perder algo que valorizamos (seja segurança e estabilidade, identidade profissional, etc.). Por exemplo, alguém pode permanecer num emprego desalinhado com os seus valores pessoais por receio de perder estabilidade financeira, mesmo que uma nova oportunidade prometa maior significado e propósito.

Assim, e beneficiando da nossa própria ciência, olhando para as teorias do âmbito da Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento de Carreira preconizam (ex., Modelo de Carreira Proteana, Modelo de Carreira Caleidoscópica, Perspetiva Sem Fronteiras, Teoria de Construção de Carreira, …), eis uma sugestão de lista de valores, que podem favorecer um balanço pessoal.

Valores Pessoais e de Autoconceito

  • Autenticidade – Alinharmos os comportamentos com quem somos, sendo fiéis aos nossos valores internos.
    • Ex., Recusar funções que entram em conflito com princípios éticos pessoais.
  • Autoconceito e Identidade – Reconhecermos como a atividade profissional molda a perceção que temos de nós próprios.
    • Ex., Optar por uma função que fortaleça a identidade de “educador” ou “defensor de direitos”.
  • Valores e Recompensas Pessoais – Identificarmos o que nos faz sentir valorizados e recompensados no trabalho.
    • Ex., Preferir um emprego que traga reconhecimento social mesmo com menor remuneração.
  • Significado e Propósito – Vivermos o trabalho como missão, atribuindo-lhe um sentido que é relevante para nós.
    • Ex., Escolher uma área ligada à saúde mental para ter impacto positivo na vida de outros.

Equilíbrio e Fatores de Vida

  • Equilíbrio e Conciliação – Garantirmos maior harmonia entre a vida profissional e pessoal.
    • Ex., Negociar horários flexíveis para ter mais tempo em família.
  • Influências Familiares e Relacionais – Avaliarmos o impacto das nossas escolhas na vida das pessoas significativas.
    • Ex., Aceitar um cargo numa cidade que permita proximidade com a rede de apoio familiar.
  • Outros Papéis de Vida – Conciliarmos a carreira com outros papéis importantes da nossa vida.
    • Ex., Reduzir carga laboral para assumir responsabilidades de cuidador ou voluntário.

Desenvolvimento e Desafios Profissionais

  • Desafio – Procurarmos atividades que nos motivem e permitam expandir os nossos limites.
    • Ex., Assumir a liderança de um projeto inovador fora da zona de conforto.
  • Aprendizagem e Desenvolvimento Contínuo – Valorizarmos o crescimento através da aquisição de novas competências.
    • Ex., Investir em formações para evoluir em funções mais complexas.
  • Flexibilidade e Autonomia – Termos liberdade para gerirmos o modo trabalhamos.
    • Ex., Escolher funções que permitam trabalho remoto e autogestão.

Fatores Contextuais e Sociais

  • Segurança e Estabilidade – Procurarmos previsibilidade, sustentabilidade (financeira ou outra) e proteção no trabalho.
    • Ex., Optar por um contrato estável no setor público.
  • Fatores Sociais e Culturais – Reconhecermos a influência do prestígio e do contexto sociocultural nas escolhas.
    • Ex., Seguir uma profissão valorizada pela comunidade de origem.
  • Justiça Social e Contributo para a Sociedade – Agirmos de modo a promover justiça e impacto positivo na sociedade.
    • Ex., Dedicar-se a projetos de inclusão social ou direitos humanos.

A importância atribuída a cada um destes valores é diferente para cada pessoa. Existem estudos que demonstram, também, diferenças entre gerações (o que também mostra como o contexto influencia o nosso sistema de valores). Inclusivamente, ao longo da vida, é natural que possamos ir valorizando mais, ou menos, determinados aspetos. Assim, é útil que vamos fazendo, ao longo da vida, uma reflexão consciente sobre o que é o nosso Norte, podendo essa informação guiar-nos perante decisões que se nos afigurem.

Deste modo, fica o mote: pegue num papel e ordene os valores do mais relevante para si, para o que menos pesaria numa decisão de carreira que lhe surgisse agora – qual é, neste momento, o seu “Norte”?

Referências para explorar mais:

Phillips, S. D. (2015). Lifespan career development. In P. J. Hartung, M. L. Savickas, & W. B. Walsh (Eds.), APA handbook of career intervention: Vol. 1. Foundations (pp. 99–113). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/14438-006
Sullivan, S. E., & Baruch, Y. (2009). Advances in career theory and research: A critical review and agenda for future exploration. Journal of Management, 35(6), 1542–1571. https://doi.org/10.1177/0149206309350082
Sullivan, S. E., Forret, M. L., Carraher, S. M., & Mainiero, L. A. (2009). Using the Kaleidoscope Career Model to examine generational differences in work attitudes. Career Development International, 14(3), 284–302. https://doi.org/10.1108/13620430910966442