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O contributo da gestão financeira no bem-estar emocional

A pirâmide de Maslow quantifica a segurança como o segundo pilar de maior importância no que diz respeito às necessidades do ser humano. Logo a seguir à satisfação de necessidades fisiológicas, como a alimentação, o sono e a hidratação, surge a procura por um lar seguro, uma figura de referência protectora e uma maior estabilidade na vida. Quanto maior o grau de satisfação destas necessidades, a par dos restantes grupos da mencionada pirâmide (aspectos sociais, autoestima e autorrealização), maior o bem-estar do indivíduo.

Afunilemos a necessidade de estabilidade do ser humano ao contexto laboral e, consequentemente, à estabilidade financeira. Aquilo que para uns é um emprego estável, com o rendimento fixo ao final do mês, é para outros uma jaula horária que não lhes permite ter a flexibilidade que anseiam diariamente. É, portanto, imprescindível que olhemos individualmente para aquilo que torna alguém seguro neste aspecto, adaptando estratégias de orientação vocacional às necessidades efectivas de cada pessoa (i.e., procura por um trabalho por conta doutrem bem remunerado versus aprofundar competências de empregabilidade que permitem implementar um projecto em diversas entidades). Da mesma forma, as estratégias de gestão financeira a implementar poderão diferir de pessoa para pessoa, conforme o seu perfil financeiro (i.e., conservador versus moderado).

Embora Portugal venha a ser reconhecidamente um dos países com pior desempenho ao nível da literacia financeira, as faixas etárias mais jovens têm provado que a inclusão de conceitos financeiros no currículo escolar é fundamental para a sua educação e para o seu papel enquanto futuros adultos na sociedade.

Pensando de forma prática, a estabilidade financeira permite-nos satisfazer aquelas que são as necessidades fisiológicas acima referidas – comprar comida, ter uma cama para dormir –, bem como comprar a sensação de segurança que é ter um teto para viver. Do ponto de vista psicológico, são necessidades básicas, mas quando vistas de um prisma social e económico, estas são questões que podem bem constituir privilégios que milhares de portugueses não possuem.

Existe, portanto, um fio condutor bastante claro entre as condições financeiras de um indivíduo e o seu bem-estar físico e emocional. Uma gestão financeira adaptada às necessidades de cada um poderá potenciar o seu bem-estar através do estabelecimento de uma relação positiva com o dinheiro. Contudo, existem também comportamentos e atitudes generalizadas que podem auxiliar essa jornada.

1. Criar e cumprir um orçamento mensal:

    Comece por analisar os rendimentos e os gastos mensais do seu agregado, organizando estes últimos por categorias (i.e., habitação, alimentação, saúde), ponderando a margem de poupança que conseguirá atingir mensalmente. Ter uma noção realista do que gastamos ao longo do mês permite-nos reflectir sob gastos impulsivos, priorizando um consumo consciente do que realmente agrega valor à sua vida.

    2. Construir um Fundo de Emergência:

    O Fundo de Emergência consiste numa poupança correspondente ao valor de 3 a 6 meses de despesas mensais. Ao definir o orçamento mensal, conseguirá calcular o valor total a poupar neste sentido e que montante consegue dispensar ao seu “colchão” financeiro para emergências, aumentando assim a sensação de segurança no que respeita a sua vida financeira.

    3. Educar-se financeiramente:

    Leia, estude, questione-se e questione. O conhecimento não ocupa lugar e funciona como estratégia de capacitação, dotando-a de informação imprescindível a uma maior confiança na tomada de decisões.

    Assim como um manjerico floresce com cuidados regulares, água suficiente e proteção contra intempéries, a satisfação que vem de um trabalho seguro e de uma boa gestão financeira também depende de atenção contínua, planeamento cuidadoso e decisões ponderadas.

    Se negligenciarmos o manjerico, ele murcha rapidamente; da mesma forma, um trabalho seguro ou decisões financeiras bem pensadas, se descurados, podem perder a estabilidade e o conforto que proporcionam. Por outro lado, tal como o aroma do manjerico nos dá prazer e tranquilidade, ter segurança no trabalho e um plano financeiro robusto gera serenidade e permite apreciar os frutos do esforço com confiança no futuro.

    OECD (2023), Education at a Glance 2023: OECD Indicators, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/e13bef63-en