
Esta é uma dúvida […] que acabamos todos por ter um pouco:
Será que eu sou capaz de […] desenvolver o meu projecto? Será que eu sou empreendedor?
– Marcos Christi Fernandes
Ter uma atitude empreendedora é algo que nos ajuda, mesmo que a nossa intenção possa não passar por abrir um negócio próprio. Desenvolvermos conhecimentos e competências relacionados com o empreendedorismo pode facilitar a criação de novos projectos dentro no nosso local de trabalho, apoiar-nos a organização de ideias com vista a criarmos um projecto paralelo ao nosso emprego, ou contribuir para que possamos ir preparando um objectivo de carreira mais ambicioso e ancorado no futuro.
Uma das dificuldades frequentemente relatadas por colegas de Psicologia é a passagem de uma ideia a acções concretas (por exemplo, acho que o serviço de Psicologia XPTO faz falta na localidade H, creio que tenho meios para o concretizar, mas… fico-me por aí). Outra é, tendo-se passado à concretização de algumas acções, compreender-se a falta que fez ter um plano global (por exemplo, alugámos um espaço para dar consultas, divulgámos com flyers e criámos uma página de instagram, mas não temos carteira de clientes e o projecto revelou-se inviável).
Ter um plano, passar das ideias e intenções à concretização escrita das mesmas é um passo muito importante. Especialmente porque, no processo de o fazer, surgem mais questões que nos impulsionam em direcção a um plano mais robusto.
Na Masterclass PsiCarreiras #3 “Autoconhecimento e Projectos Profissionais: Modelo Canvas para Psicólogos/as”, dinamizada pelo colega Marcos Christi Fernandes, podemos familiarizar-nos com o modelo canvas, um modelo de negócios que, pela sua simplicidade e por já ter sido tão usado (e melhorado ao longo do tempo), se revela bastante útil e fácil de apoiar a reflexão e planeamento em torno de uma ideia.
Podemos até sentir que algo que nos impede, por vezes, de avançar com o planeamento em torno de um serviço/projecto. Pode haver várias razões para tal; por exemplo, não estamos, a maioria de nós, “programados” para adoptar esta postura empreendedora – podemos não ter tido formação suficiente para tal, ter um estereótipo da nossa própria profissão que é incompatível com este papel, ou crenças pessoais de que não somos capazes de o fazer.
Para mim, a grande mais-valia de assistir a esta masterclass é acompanhar um caso prático, em que se compreende o modo como se preenche o modelo de negócios CANVAS e, consequentemente, como se estrutura um projecto, de forma alicerçada num exemplo que nos ajuda a passar do teórico à prática. Deste modo, conseguimos perceber o quão exigente pode ser planificar com rigor e verdadeira preparação um projecto, mas também ajuda a compreender como, com preparação, tal pode ser alcançável. Em suma, empreender exige preparação, mas é possível.
Ao longo da masterclass, além da inspiração e conhecimento que vem de se acompanhar o caso prático (neste caso, uma psicóloga que pretende abrir um consultório com consulta de neuropsicologia) e, pelo exemplo, se perceber como se preenche o modelo canvas (e, com isso, ter um projecto delineado). Além disso, o dinamizador deixa várias sugestões de fontes de informação (ex., IAPMEI – Instituto de Apoio a Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento), de ferramentas práticas (ex., Análise PESTLE) e de modelos teóricos de enquadramento da reflexão que “alimenta” os vários pontos em que é preciso pensar.
No fundo, se para definir um qualquer projecto/serviço de Psicologia precisa de definir a sua proposta de valor, caracterizar os seus clientes, explorar como vai comunicar os seus serviços, pensar sobre a sua estrutura de custos e fontes de rendimento, esta masterclasse é um bom ponto de partida para esse plano.
* Texto publicado no Vol. 4: Empreendedorismo em Psicologia: Ideias, Acção e Impacto