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Efeito Rebuliço – o lado sombra das interrupções

A interrupção é uma ciência. Acreditem em mim, a sério. Querem saber a definição?

(Digo-vos já, mas, primeiro, deixem-me só responder a um e-mail urgente que acabei de receber)  

A interrupção no trabalho acontece quando o/a trabalhador/a é obrigado/a a suspender uma tarefa principal para prestar atenção a outra pessoa ou tarefa (Puranik et al., 2020). O que esta definição não tem de surpreendente, tem de familiar. Que atire a primeira pedra o/a Psicólogo/a que não passa o seu dia super-ocupado/a, a saltar de reunião em reunião, local de trabalho em local de trabalho, e-mail em e-mail, e a alternar entre milhentas tarefas.

Entre tantas … (perdão, fui só devolver uma chamada) … fragmentações do tempo laboral, chegamos ao fim do dia com a sensação de não trabalhámos verdadeiramente.

Perdemos tempo de trabalho. No trabalho presencial, somos interrompidos de três em três minutos pelos/as nossas colegas. Notificações, mails, Teams ou Zoom distraem-nos entre 4-6 vezes por hora. Retomar uma tarefa suspensa demora, em média, 25 minutos. Isto quando conseguimos retomá-la, porque uma em cada quatro tarefas interrompidas, jamais será completada (Schulte, 2024; Stang & Reidl, 2023).

A qualidade do trabalho também sofre. As tarefas relâmpago que nos interrompem são realizadas com os resquícios da nossa atenção – porque a maior parte dela ficou alocada à tarefa principal. Resultado? Mais erros em ambas as tarefas (Stang & Reidl, 2023).

O constante pára-arranca de tarefas tem consequências para a Saúde Psicológica. Tensão psicológica acumulada, tarefas inacabadas e o nosso cérebro ansioso com o que ainda está por fazer. Não admira que, no final do dia, nos possamos sentir irritados/as, frustrados/as, aborrecidos/as e ansiosos/as (Puranik et al., 2020).

As interrupções saem caras. Estes momentos de distracção equivalem a milhões de euros em perdas de produtividade. Mas os custos não são exclusivamente económicos. As organizações também ficam desgastadas: insatisfação laboral, rotatividade, quebra de coesão de equipa e de produtividade. As organizações que adoptarem medidas para proteger o tempo e a concentração dos/as trabalhadores/as vão ser as mais capazes de garantir a sua sustentabilidade (Spira & Feintuch, 2005; Stangl & Riedl, 2023).

(Façamos uma pausa, por favor, vou ter uma reunião agora)

Perdoem-me a interrupção, mas o trabalho assim o exige. Onde é que estávamos? Ah, sim! O trabalho das/os Psicólogas/os é um trabalho que exige profundidade, reflexão, tempo e criatividade. Portanto, o efeito Rebuliço é particularmente preocupante para nós.

Face a este desafio, aqui deixo 7 recomendações para gerir as interrupções:

  1. Desligar as notificações. Todas as notificações são potenciais momentos de distracção e de “urgências desnecessárias”.
  2. Bloquear períodos de tempo no calendário. Marcar um período específico do dia para trabalho com concentração profunda pode salvar-nos do caos diário.
  3. Priorizar. Se recebemos um novo pedido ou mensagem “urgente” enquanto estamos imersos numa tarefa importante, pode ser mais eficiente terminar primeiro o que já estamos a fazer.
  4. Fazer anotações. Se não pudemos adiar uma interrupção, pelo menos podemos reduzir o seu impacto. Escrever ideias ou tarefas inacabadas pode ajudar a retomar o raciocínio mais tarde.
  5. Fazer pausas. Pausas regulares ajuda-nos a recarregar as baterias, prevenindo a fadiga, consolidando memórias e melhorando a criatividade.
  6. Aceitar a realidade. Mesmo que evitemos distracções e priorizemos, as urgências encontram sempre o seu caminho até nós. Reconhecer os nossos limites e valorizar o esforço que fazemos ajuda a reduzir a frustração e a gerir o desgaste.

(Desculpem, interrompi o texto para dar um high-five a uma colega).

7. Aproveitar as interrupções sociais. Algumas interrupções vêm de colegas que só querem saber como estamos. E estas interrupções, por vezes, são as mais importantes. Elas ajudam a criar espírito de equipa, sentido de pertença e podem até resultar numa boa gargalhada para aliviar o dia.

    É justo concluir dizendo que não vamos conseguir eliminar totalmente o Efeito Rebuliço. Mas podemos, pelo menos, tentar melhorar a forma como lidamos com ele. (Despeço-me, porque tenho de ir ali dar uma palavrinha a um colega).

    Referências bibliográficas

    Puranik, H., Koopman, J. & Vugh, H. (2020). Pardon the Interruption: An Integrative Review and Future Research Agenda for Research on Work Interruptions. Journal of Management, 46(6), 1-53.
    Schulte, B. (2024). The Quest to Imagine a Workplace that (Actually) Values Work-Life Balance. Retirado de https://behavioralscientist.org/the-quest-to-imagine-a-workplace-that-actually-values-work-life-balance/.
    Spira, J. & Feintuch, J. (2005). The cost of not paying attention: How interruptions impact knowledge worker productivity. EUA: Basex.
    Stangl, F. & Riedl, R. (2023). Interruption science as a research field: Towards a taxonomy of interruptions as a foundation for the field. Frontiers in Psychology, 14, 1-18.