
Em Portugal, seguir um caminho ligado à investigação científica em Psicologia nem sempre é simples. Grande parte das oportunidades surge através de bolsas de curta duração, muito competitivas, o que leva muitos jovens psicólogos a sentirem que este percurso dificilmente se sustenta a longo prazo. Junta-se a isto a pouca divulgação de alternativas e a escassa visibilidade de quem consegue aplicar a investigação fora da academia.
Mas será que a investigação tem mesmo de ficar confinada ao espaço académico?
A investigação em Psicologia possui um enorme potencial de aplicação e pode ser transformada em oportunidades inovadoras, quando entendida como um recurso que ultrapassa os limites académicos.
É possível transformar a investigação em oportunidades profissionais autónomas, através do desenvolvimento de projetos próprios que articulem ciência, inovação e prática. Mais do que publicar artigos ou seguir a carreira académica tradicional, importa mobilizar o rigor metodológico e a curiosidade científica para dar resposta a necessidades sociais. Isto pode traduzir-se na avaliação de impacto de programas de prevenção, na criação de metodologias de intervenção baseadas em evidência, no desenvolvimento de ferramentas digitais para monitorizar o bem-estar psicológico ou na implementação de projetos comunitários de promoção da saúde mental. Cada uma destas iniciativas potencia a criação de serviços de consultoria ou produtos inovadores com aplicabilidade social.
Existem já iniciativas nacionais que demonstram como a investigação aplicada pode gerar impacto (e.g. AGILidades). Projetos desenvolvidos em escolas, organizações e comunidades mostram que a ciência pode sustentar serviços de avaliação, intervenção e formação, criando funções e oportunidades profissionais dentro e fora da academia. A nível internacional, multiplicam-se igualmente experiências de articulação entre investigação, inovação e sociedade, em que os psicólogos encontram espaço para testar metodologias, desenvolver programas e adquirir competências transferíveis para contextos de empreendedorismo social (e.g. Meru Health). Estes modelos evidenciam que a investigação, quando aplicada e comunicada de forma eficaz, pode ser não apenas fonte de conhecimento, mas também motor de empregabilidade e de novas áreas de intervenção em Psicologia.
Importa ainda realçar o papel relevante das áreas emergentes da Psicologia. Na ciberpsicologia, por exemplo, poderá ser estudado o impacto das redes sociais e dos ambientes virtuais na saúde mental, dando origem a programas de literacia digital ou a plataformas de apoio online. A psicologia ambiental pode contribuir para projetos de consultoria ligados à sustentabilidade e à promoção de comportamentos pró-ambientais. A psicologia do desporto e da performance pode traduzir a evidência científica em programas de treino mental aplicáveis a atletas, equipas ou contextos de alta exigência profissional. Já a neuropsicologia e a psicologia do envelhecimento podem investigar formas de preservar a saúde cognitiva, possibilitando o desenvolvimento de programas de estimulação com especial relevância numa sociedade envelhecida.
Se a curiosidade é o motor da ciência, porque não deixá-la também guiar a criação de novos caminhos profissionais?
Investir nestas áreas significa alinhar a Psicologia com as transformações sociais e tecnológicas, colocando a profissão na linha da frente da inovação. O conhecimento produzido em investigação pode, assim, ser convertido em serviços, programas ou produtos que ampliam as possibilidades de carreira dos psicólogos, ao mesmo tempo que geram valor social.
Em suma, inovar em Psicologia no contexto português implica reconhecer que a ciência não tem de viver apenas dentro das universidades. O gosto pela investigação pode (e deve) ser transformado em projetos que respondem aos desafios atuais, criando oportunidades para a profissão e para a sociedade.
“The important thing is not to stop questioning. 
Curiosity has its own reason for existing.”
 Albert Einstein
