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Desencantamento de uma visão idealizada da Psicologia

A escolha de iniciar a carreira em Psicologia tem por base, para muitos, a persecução de um sonho. Sonho este que tende a ser pautado pela diferença objetiva que a Psicologia nos permite fazer na vida de tantas pessoas e organizações ao longo da carreira.

Parece-me, contudo, que a exigência contínua desta escolha, pela constante e interminável atualização do conhecimento científico e pelo impacto que a própria atividade profissional tem no profissional de Psicologia, vai também desconstruindo uma visão idealizada da Psicologia, que nos é facilmente transmitida por conteúdos de entretenimento que nos inspiram a querer conhecer mais sobre a área quando surge o primeiro momento de interesse. 

A disparidade entre a expectativa e a realidade, encontrada desde cedo, no estágio curricular e no Ano Profissional Júnior, a primeira experiência profissional em Psicologia, pode trazer sentimentos de frustração e desmotivação por não nos ser possível aplicar na prática todos os conceitos adquiridos nos 5 anos de formação académica específica.

Importa, assim, focar naquilo que está ao nosso alcance e em objetivos concretos e realistas para esta fase inicial de carreira. Talvez possa parecer extenuante aplicar um instrumento de avaliação psicológica, cotá-lo e interpretá-lo, devolvendo ainda os resultados ao cliente, quando o único contacto que se teve com o mesmo foi num caso prático em contexto académico, resolvido com acesso aos apontamentos do semestre. Uma alternativa a esta tarefa será, por exemplo, começar por apenas acompanhar a cotação e interpretação realizada por um profissional de Psicologia mais experiente, aprofundar conhecimento sobre o dito instrumento, apontar dúvidas e questões e esclarecê-las em contexto de supervisão e/ou intervisão.

Os estágios são as oportunidades esponja, indicadas para explorar interesses específicos e para questionar aquilo que não nos faz sentido ou que nos deixa desconfortável. Não são, contudo, uma definição inerente da nossa carreira em determinada área, da mesma forma que a área específica da Psicologia em que é realizada a formação académica não determinada a área de realização do Ano Profissional Júnior.

O desenvolvimento profissional contínuo é, por isso, imprescindível para a tomada de decisão nestes (e em futuros) momentos: um plano de carreira direcionado para os interesses reais da pessoa dentro da área de atuação permite afunilar a aquisição de conhecimentos e direcionar a trajetória profissional de acordo com o que se pretende no momento. É importante, contudo, ser flexível e permitir-nos discordar de decisões passadas e adaptar essa trajetória em conformidade com objetivos realistas e médio/longo prazo, mas também às condições que existem no momento atual.

A gestão de expectativas deve ajustar-se às diferentes fases da carreira e às realidades que vamos encontrando. Da mesma forma, o crescimento profissional é gradual e não é suposto que tenhamos todo o conhecimento à priori – aliás, não me parece que essa expectativa seja sequer realista em qualquer fase da carreira; a verdade é que existem sempre novos conceitos, novos estudos e novas aprendizagens e nenhum destes é um fim em si mesmo.