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De Psicólogo a Empreendedor: Dar o Primeiro Passo

O que significa, afinal, ser um empreendedor? Este termo é muitas vezes usado para descrever qualquer pessoa com uma ideia de negócio.

De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, mais de cem milhões de empresas são criadas anualmente — uma média de três por segundo. Portugal destacou-se em 2021, ocupando o quarto lugar na União Europeia com maior taxa de criação de empresas. Como diria Vasco Santana, «Negócios há muitos!»; mas à luz desta dimensão, talvez seja útil começar por esclarecer o que não é um empreendedor:

Consideremos o Psicólogo A, que trabalha numa clínica e identifica uma necessidade não atendida: “falta de apoio psicológico para cuidadores informais de pessoas com doenças neurodegenerativas”. Ele sugere um programa de apoio, que a clínica rapidamente implementa, resultando em melhorias no bem-estar psicológico percebido por estes cuidadores. Apesar da sua mentalidade empreendedora, não se pode dizer que o Psicólogo A seja um empreendedor, já que os riscos do projecto — seja o investimento sem garantia de retorno, a utilização de espaços ou a eventual falta de participação — foram assumidos pela clínica.

Agora, contrastemos com a Psicóloga B que, ao perceber a mesma necessidade, decide agir por conta própria. No seu tempo livre, desenvolve um programa de apoio e, recorrendo aos seus próprios recursos, implementa e testa o programa. Após alcançar resultados positivos, propõe o seu projecto a várias clínicas. Por fim, com o aumento da adesão, vai ajustando continuamente o programa através do feedback recebido. Esta psicóloga é, sem dúvida, uma empreendedora, pois assumiu riscos pessoais e financeiros para satisfazer uma necessidade identificada.

O mundo está cheio de exemplos de pessoas que, como a Psicóloga B, desafiam o status quo para criar algo inovador. Como pode, então, um psicólogo tornar-se empreendedor?

A maioria dos conselhos práticos centram-se em (1) elaborar planos de negócios, (2) obter financiamento, (3) constituir uma equipa ou (4) desenvolver estratégias de divulgação. No entanto, diria que um primeiro passo para empreender consiste em tornar-se um especialista em compreender as necessidades humanas. Cada projecto empreendedor pretende, em última análise, encontrar soluções que respondam a necessidades específicas. Quanto mais inovador e abrangente for o problema, maior será o potencial de sucesso do empreendedor.

À primeira vista, pode parecer que todos os grandes desafios em psicologia já foram abordados. Para identificar oportunidades ainda não exploradas, devemos perguntar: quais são as necessidades da Psicologia ao dia de hoje? É a acessibilidade? É a redução do estigma? É a educação e a sensibilização? E, se olharmos para áreas específicas, quais são as necessidades da Neuropsicologia, Psicologia Comunitária e Psicologia da Educação? Cada problema apresenta uma nova oportunidade para a inovação.

Embora existam hoje múltiplos programas de intervenção, plataformas online de apoio psicológico, grupos de apoio e comunidades, continuamos a enfrentar desafios societais sem resposta: o isolamento social, a pobreza, as alterações climáticas ou o acesso à saúde. Para explorar estes desafios, recomendo a Webtalk “Empreender em Psicologia em tempos de incerteza“, dinamizada por Mariana Mendonça, que aborda características empreendedoras, desafios profissionais e a importância da aprendizagem contínua e da adaptabilidade.

A nossa capacidade de imaginar futuros diferentes e agir sobre essas visões é o que nos distingue enquanto espécie. Pode-se dizer, então, que o empreendedorismo é uma extensão natural dessa capacidade humana. Dar o primeiro passo para o empreendedorismo em psicologia é aprender a identificar as necessidades e encontrar soluções inovadoras, assumindo riscos para transformar uma visão em realidade. Claro que ter uma boa ideia não será suficiente; é preciso tratar dos aspectos práticos, mas sem uma compreensão das necessidades, nada funcionará.