
Vivemos num mundo saturado de informações — e as nossas capacidades cognitivas mantêm-se limitadas. Para navegar neste cenário, os conteúdos bite-sized (pequenos, visualmente apelativos e altamente focados) têm emergido como uma resposta inteligente (será?) à nossa sobrecarga atencional.
A psicóloga Gloria Mark, no podcast Speaking of Psychology (APA) refere que os seres humanos estão a perder a capacidade de manter atenção por períodos prolongados. Num estudo feito com tempos de ecrã (em que os investigadores monitorizavam as pessoas e registavam os tempos de início e fim de uma atividade: por exemplo, a abrir um doc. word clicavam em “start” e quando a pessoa desviava a atenção para um email recebido e abria o e-mail clicavam “stop”), os resultados são impressionantes: a média de tempo de foco que temos ao olhar para um ecrã é de 47 segundos. A Teoria da Carga Cognitiva (Sweller, 1988) explica que o nosso cérebro pode processar apenas um volume limitado de informação de cada vez. Quando recebemos muito material simultaneamente, entramos em sobrecarga, dificultando a nossa capacidade de aprendizagem.
O formato byte-sized minimiza essa sobrecarga — ao apresentar uma mensagem de cada vez, clara e simples, facilita a compreensão e retenção.
Quando aprendemos em pequenos passos e atingimos micro‑objetivos, o nosso cérebro recompensa-nos com dopamina — o que gera motivação, reforço positivo e continuidade no consumo. Na verdade, esta mesma consequência “positiva” explica também um dos efeitos negativos deste formato de conteúdos que é o scrolling excessivo (também explicado por outros fatores como os algoritmos das aplicações, mecanismos ligados à motivação, etc.).
Muito se discute, e de forma válida, sobre o impacto negativo deste tipo de conteúdos: superficialidade, falta de profundidade crítica, simplicidade excessiva, falta de contexto adequado para a transmissão da informação-chave, perda de sentido de continuidade, fragmentação cognitiva, falta de tempo para consolidar a informação… Existe ainda o risco de desvalorização de conteúdos que, pelo seu formato, podem ser percecionados como conteúdos leves ou até menos credíveis, principalmente em contextos académicos/profissionais, assim como a eventual dependência de motivação extrínseca – o formato curto e rápido pode atrair por ter estas características de conveniência, mas nem sempre promove envolvimento intrínseco ou reflexão aprofundada, o que pode gerar um consumo de informação passivo em vez de uma aprendizagem ativa.
Com o objetivo de oferecer conteúdos atualizados de uma forma rápida e eficaz a diplomados em Psicologia, e na tentativa de quebrar com esta associação invisível entre conteúdos bite-sized e aprendizagem passiva, a OPP apresenta a ToolBox EmCarreira. Em 5 passos ou 5 ideias-chave, desconstruímos conceitos-chave de carreira em ideias práticas e diretamente úteis para quem está a iniciar a carreira em Psicologia. Numa fase de transição em que o tempo e a atenção podem ser escassos ou estar comprometidos, este formato focado na aplicabilidade dos conceitos pretende apoiar diplomados em questões relacionadas com empregabilidade, abordagem ao mercado de trabalho, carreira em Psicologia e preparação para a vida profissional. Teremos um novo recurso a cada mês, o primeiro sobre “Como responder à pergunta Fale-me sobre si numa entrevista de emprego” já está disponível.
Reconhecendo que vivemos na era da “economia da atenção”, torna-se crucial apresentar informação de forma simples, clara e relevante, bem como adaptada e alinhada com o momento atual.
“A atenção é o recurso mais precioso da nossa era digital — e é também o mais frágil.” – Gloria Mark
