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Competências-chave em Psicologia – perspectivas em diferentes fases de carreira

A reflexão sobre as competências centrais para o meu exercício profissional acompanha-me desde o início do meu ciclo de desenvolvimento profissional. São incontáveis as conversas que já tive com colegas sobre o que realmente tem impacto na prática profissional, as constatações sobre o quão as nossas percepções e opiniões se podem alterar com a experiência, e como muda a valoração que damos a diferentes competências e aspectos de se ser profissional de Psicologia.

Para escrever este artigo, pedi ajuda à minha rede – amigos, colegas e estudantes embaixadores foram convidados a reflectir sobre as suas práticas (ou futuras práticas) profissionais e sobre o futuro da Psicologia – o que é para cada pessoa mais importante para o exercício da Psicologia? Que conselhos é que os colegas mais experientes dariam a colegas que estão a entrar no mercado de trabalho? Que competências é que a comunidade estudantil antecipa virem a ser centrais quando iniciarem a sua prática? E para quem já iniciou, o que foi surpreendente na confrontação com o contexto real de trabalho?

Começando pelo início: ao perguntar a estudantes qual a competência essencial para a profissão, a resposta que dominou foi, indubitavelmente, a empatia – “colocar(-se) no lugar do outro para compreender as (suas) experiências subjectivas”. A comunicação também é mencionada como ferramenta essencial de trabalho e surgem, de forma mais residual, referências à importância da flexibilidade, do autocuidado e da escuta activa. Foi pedida a opinião de estudantes acerca das competências mais “desenvolvidas” e mais “esquecidas” durante o percurso académico, tendo sido evidente a percepção de lacunas neste percurso no que concerne ao desenvolvimento da componente prática da aprendizagem (“olho clínico”, “prática efectiva”). O conhecimento técnico-científico, capacidade para analisar e as competências relacionais foram destacadas como mais desenvolvidas, com igual enfoque na importância do envolvimento em actividades extracurriculares para o autoconhecimento e para “ganhar perspectiva”. Um dado interessante que pude recolher é que a comunidade estudantil antecipa que, no mercado de trabalho, a flexibilidade e adaptabilidade serão competências muito valorizadas pelos empregadores e pelo próprio mercado/contexto.

E parece que são mesmo! Quando falei com psicólogos júnior, a competência que todas as pessoas referiram como “mais utilizada, mesmo que inesperada, na entrada no mercado de trabalho” foi precisamente a adaptabilidade. Quando falei com psicólogos com mais experiência, a pergunta que fiz foi “qual é, para ti, a competência mais crítica para o sucesso profissional?” e quase todas as pessoas responderam – novamente – adaptabilidade. Parece que, à medida que a carreira avança, se torna cada vez mais importante conseguirmos adaptar-nos aos desafios, às mudanças, às novas necessidades… “Voltando” aos psicólogos júnior, torna-se também mais evidente a relevância crescente atribuída a algumas soft skills específicas para gerir os desafios da transição – a resiliência, a gestão do stress, a gestão do tempo e a comunicação assertiva são referidas como essenciais para alguém que está a entrar na área e que se depara, pela primeira vez, com desafios como a necessidade de expressar a sua visão de forma clara, intervir em situações de conflito, gerir o volume de trabalho de forma saudável e equilibrada, entre outros.

Profissionais mais experientes destacam, para além da adaptabilidade, a resiliência, o sentido de responsabilidade, a resolução de problemas, o pensamento crítico e, claro, a empatia, como competências-chave para o exercício profissional. Perguntei-lhes se existia alguma competência que só tenham desenvolvido com a experiência prática e que considerem indispensável, e as respostas envolveram três aspectos fundamentais: 1) capacidade para tomar decisões complexas; 2) gestão das relações interpessoais e inteligência emocional; 3) saber “relativizar” desafios e adoptar uma postura de racionalização.

E sugestões, ou conselhos, para quem está prestes a abordar o mercado de trabalho ou para quem está a começar a sua carreira?

  • Investir no autoconhecimento com autenticidade;
  • Manter uma postura de proatividade perante os desafios e perante a aprendizagem contínua, com humildade;
  • Cultivar a curiosidade e abertura às experiências e desafios;
  • Conhecer novas áreas, novas tendências, necessidades emergentes e trabalhar, continuamente, num posicionamento oportuno e adaptado às exigências do mercado;
  • Inovar;
  • Ter ética e responsabilidade individual/social (sempre!).

A conclusão geral que retirei destas conversas é que o percurso de desenvolvimento profissional da Psicologia revela uma progressão natural de valores e competências mais abstractas/gerais (a empatia, a comunicação) para desafios mais práticos (a adaptação, a gestão de tempo), para uma visão mais estratégica e integradora numa fase mais madura da carreira (novos desafios, ética, inovação, posicionamento).

“Competence without purpose is like navigating without a map.”
Simon Sinek

P.S. Obrigada Catarina, Augusto, Margarida, Matilde, João, Lara, José, Rita, Marta, Catarina, Daniela, Zafira, Sérgio, Rodrigo, Joana, Maria(s), Ana, Inês, Carolina, Nuno e Bruna pelas vossas perspectivas e contributo precioso.