Artigo por Marta Alves
Recentemente, ouvi falar de worklife integration, como evolução do termo worklife balance.
O termo work-life integration, elimina a separação que existe (no work-life balance) entre a vida profissional e a vida pessoal. Outra inovação deste termo é a relevância que dá à complementaridade entre a vida pessoal, profissional e comunitária, para o alcance dos objectivos da pessoa. Ou seja, as minhas acções e os meus vários papéis em várias áreas da minha vida, poderão promover que consiga alcançar os meus objectivos mais eficazmente.
O work-life integration é também apresentado como uma forma de diminuir o esforço que eventualmente os sujeitos fazem para conciliar os vários papéis de vida, pois pode, por exemplo, não ter que escolher entre ir dar um passeio à praia ou estar a trabalhar, pois pode estar a trabalhar e a dar um passeio na praia. Ou, outro exemplo, já não tenho que escolher entre fazer mais horas no trabalho e estar com a família, pois posso trabalhar estando com a família, quer presencialmente, quer através de uma videochamada.
O work-life integration é também apresentado como uma forma de diminuir o esforço que eventualmente os sujeitos fazem para conciliar os vários papéis de vida, pois pode, por exemplo, não ter que escolher entre ir dar um passeio à praia ou estar a trabalhar, pois pode estar a trabalhar e a dar um passeio na praia.
Recebi este termo com muito agrado, pareceu-me bem… Fez-me sentido pois, até devido à pandemia, o trabalho passou a fazer cada vez mais parte da nossa casa, podemos trabalhar em qualquer local e algumas fronteiras entre trabalho e família foram esbatidas.
O work-life integration pareceu-me, assim, estar em linha com a gestão pessoal de carreira pois a carreira não é ditada por outros mas gerida por cada pessoa, abrangendo não só o papel profissional mas os restantes papéis de vida, que se influenciam e se relacionam entre si.
No entanto, não deixo de reflectir que há alguma perigosidade de, se em vez de integração, existir “imiscuidade” entre todas as áreas e papéis de vida. Isto é, se alguém tiver dificuldade no estabelecimento de limites e na gestão dos seus vários papéis de vida, pode ser ficar assoberbado entre as várias tarefas. Por exemplo, estará capaz de estar disponível e presente no jantar de família, se não conseguir deixar de atender um telefonema, responder a um email ou a verificar o WhastApp? Tal como em muitas das questões que nós psicólogos avaliamos, tudo dependerá da frequência com que isso acontecerá e do grau de prejuízo que implicará para a pessoa.
Assim, independentemente do termo, o centro deve ser cada individuo, as suas características, as características do seu trabalho e o que pretende para si e para cada um dos seus papéis de vida. No fundo, que faça escolhas que se adequem a si e às suas necessidades.
Costuma-se dizer que para cada panela há um testo (ou uma tampa, para quem vive mais a sul). Também na forma como se gere o trabalho e os restantes papéis de vida, cada um terá a sua panela e o seu testo.
Por último, recomendo a leitura do Contributo Científico OPP para o Livro Verde do Futuro do Trabalho, onde são abordadas diversas questões relacionadas com as mudanças ao nível do trabalho e o seu impacto nas organizações e na saúde das pessoas, assim como recomendações para a promoção da saúde no trabalho, pois:
O papel da Ciência Psicológica, dos Psicólogos e Psicólogas, é indispensável na construção das condições essenciais para as organizações e as políticas públicas do futuro do trabalho. Baseados na evidência científica podem avaliar e prevenir os Riscos Psicossociais, intervir no desenvolvimento de lideranças e práticas de gestão eficazes, e promover a Saúde Psicológica e o Bem-Estar em contexto laboral – fundamentais para o desenvolvimento económico sustentável, a coesão social, a produtividade e a qualidade de vida dos cidadãos. (OPP, 2021, p.4)1
1Ordem dos Psicólogos Portugueses (2021). Contributo Científico OPP para o Livro Verde do Futuro do Trabalho. Lisboa.