Artigo por Vanessa Yan
“Em meados de agosto, está num parque e repara nas folhas que caem das árvores e são levadas pela brisa. Pode também olhar para um jardim ou prado e observar que a cor começa a desvanecer-se. Os dias ficam mais curtos e a temperatura, embora quente, pode tornar-se mais húmida. A luminosidade já não é tão intensa e quente, mas assumiu tons mais acolhedores. Pode nessa altura sentir que surge a primeira centelha de vontade de organização (…), de abrandar, de organizar corpo e mente com a consciência da proximidade do outono.” (in “Regenerar – Manual de bem-estar para viver de acordo com as estações do ano”, Lourenço de Azevedo, 2017).
Segundo a filosofia taoista (“Tao”=Caminho), de onde parte a macrobiótica (“Macro” – grande – e “Bio” – vida), existe um período de transição entre cada estação (2 e 3 semanas antes do início de cada estação). É a chamada “quinta estação”. A que estamos a passar agora chama-se “Verão tardio”. Quando estamos (e nos sentimos) mais “alinhados”, com a nossa vida, com os outros, com o nosso propósito, sentimos bem e sentimo-nos bem com estas transições porque alinhámo-nos com os ciclos da natureza. E isso é muito positivo e reconfortante: sentimos que estamos no sítio certo, na altura certa.
“… esta “continuidade nutritiva” pode ser a chave para vivermos melhor os vários momentos que um ano tem para nos oferecer e para compreendermos que cada um deles é importante para a nossa saúde, física e mental. Porque, se vivermos bem as transições no micro, é mais certo que as vivamos também bem no macro. Essa coerência é fundamental e pode ser a chave para a “felicidade” na nossa vida e carreira.”
Esse alinhamento faz-se através da tomada de consciência de que existe uma continuidade na mudança, um fluxo natural, também presente na mudança entre as estações do ano, e que não é brusca. Este convite que a natureza à nossa volta e dentro de nós nos faz para sentirmos e nos adaptarmos a esta “continuidade nutritiva” pode ser a chave para vivermos melhor os vários momentos que um ano tem para nos oferecer e para compreendermos que cada um deles é importante para a nossa saúde, física e mental. Porque, se vivermos bem as transições no micro, é mais certo que as vivamos também bem no macro. Essa coerência é fundamental e pode ser a chave para a “felicidade” na nossa vida e carreira.
Nestes últimos meses, como foram os seus períodos de transição?
1) Como foi a sua transição para o Verão?
No início do Verão, sentimos um movimento de expansão, alegria, maior empatia e ligação com os outros – daí a vontade de tirar férias e de nos fecharmos para balanço, para nos entregarmos ao convívio, às viagens, à comunicação.
Mas… e nós, Psicólogos, será que tudo isto também se aplica? Quando nos sentimos responsáveis, não só pelo nosso bem-estar, mas também pelo bem-estar dos outros? Teremos tempo para descansar? Não estaremos a ser egoístas? Todos nós já ouvimos falar da importância do Autocuidado. É que sem ele não há um bom cuidado aos outros. “Os Psicólogos devem reestruturar a forma como vêem o Autocuidado, não como um luxo, mas como um imperativo profissional e ético, que deve ser integrado como uma rotina.” (“The ethical imperative of self-care”, APA, 2021). Eis como pode incorporar o Autocuidado quando chega a altura de fazer uma pausa:
1️. Sintonizando com o corpo e com as emoções através do sono, alimentação e exercício
2️. Refletindo sobre que práticas de autocuidado melhor se adaptam às minhas necessidades, gostos e objectivos.
3️. Estabelecendo fronteiras entre as tarefas – criar um “espaço” para estar e transitar de uma tarefa para a outra (porque, como vimos, as mudanças na natureza nunca são bruscas). Reservar sempre um tempo e espaço para “desligar” e, assim, recuperar.
4. Praticando a Autocompaixão – celebrar todos os sucessos, reconhecer os limites e falhas, sempre com amor e autorrespeito. Mais do que nos esforçarmos para ir do ponto A ao B no mais curto espaço de tempo, há que verdadeiramente apreciar o caminho (o Tao, de que falávamos no início). Porque a mudança não é brusca, lembre-se…
2) Como está a ser a sua transição para o Outono – o seu “Verão tardio”?
Com o Verão a chegar à sua viagem descendente, sentimos naturalmente uma necessidade de “voltar a casa” e de nos preparamos e de nos organizarmos para a próxima transição.
É um bom momento para pensarmos, por exemplo, naquela formação que tanto queríamos fazer e que acreditamos que nos pode tornar melhores profissionais e melhores pessoas. Nunca é demais relembrar as ofertas da Ordem, através do programa de formação OPP Valorizar-me, mas também das dezenas de acções formativas acreditadas que, todas as semanas, vão sendo divulgadas através da Newsletter da Bolsa de Emprego e Desenvolvimento Profissional), para as várias áreas de Especialidade em Psicologia.
Aprender algo novo que nos faça sentido é algo que serve bem neste período de transição. Como dizia Carl Rogers, “por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma acumulação de factos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação futura que escolhe ou nas suas atitudes e personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas que penetra profundamente todas as parcelas da sua existência.”
Por tudo isto, espero que o “regresso ao trabalho” ou “regresso às aulas” já não soe tão mal como nos habituámos a sentir. Porque todos os momentos do ano são bons se respeitarmos os nossos ritmos naturais e se nos prepararmos bem nestes períodos de transição e desfrutarmos de tudo o que estes contínuos na mudança nos podem oferecer. Lembre-se: “o dia em que plantas a semente não é o dia em que comes o fruto.”
Um bom Verão tardio!