Artigo por Ana Leonor Baptista
Esta é uma frase que quase todos os psicólogos já terão utilizado, alguma vez, na sua experiência profissional. Encorajar o outro a explicar, utilizando as suas palavras (que é como quem diz, “sem receio, coloque por palavras os seus pensamentos, emoções, ressonâncias, sentimentos, estou aqui para o ouvir”), aquilo que sente ou pensa é fundamental para que o possamos compreender melhor. “Use as suas próprias palavras” pressupõe ainda uma demanda de coragem para que a pessoa faça uso de uma narrativa construída por si (e tanto quanto possível) sem a influência de discursos externos, e se revele. Quando as pessoas não utilizam as suas palavras para se exporem e se exprimirem, o terreno fértil para trabalhar (intervir, acompanhar) reduz-se significativamente, e com ele reduz-se a abertura ao apoio do psicólogo e, por conseguinte, o potencial de mudança.
“Usar as suas próprias palavras” é um exercício importante não só para quem usufrui de serviços de Psicologia, mas também para os psicólogos em exercício pleno, ou não, de actividade, bem como para psicólogos júnior ou psicólogos à procura do primeiro emprego. É importante quando se pensa em marca pessoal e profissional, quando se constrói um CV pela primeira ou pela milésima vez e aquando de uma candidatura ou entrevista de emprego. É importante quando se conceptualiza um projecto de negócio, tanto quanto é importante na gestão pessoal de carreira. Não é possível desenhar um caminho profissional sem um conhecimento desta voz interior e uma boa capacidade para a projectar de forma adequada para o exterior. Também não é possível evoluir nesse caminho profissional se o psicólogo não tem um diálogo sincero consigo mesmo. Um psicólogo que se conhece é um psicólogo que, à partida, será mais capaz de gerir situações de stress, utilizar o feedback e a crítica construtiva para aprender, para gerir melhor o seu tempo e, no geral, será um trabalhador mais confiante e seguro.
“Um psicólogo que se conhece é um psicólogo que, à partida, será mais capaz de gerir situações de stress, utilizar o feedback e a crítica construtiva para aprender, para gerir melhor o seu tempo e, no geral, será um trabalhador mais confiante e seguro.“
Tasha Eurich, psicóloga das organizações, desenvolve trabalho em torno da auto-consciência e auto-conhecimento no contexto laboral, e conceptualiza-os em dois eixos: um deles mais interno, relacionado com o “usar as suas próprias palavras” (isto é, com quão bem o indivíduo se conhece, sabe o que quer e o que valoriza) e um segundo eixo, mais externo, relacionado com a percepção que o indivíduo tem acerca da forma como os outros o vêm. Ambos são importantes, porém parece-me que só é possível investir neste segundo eixo quando se domina o primeiro. Isto é, faz sentido conhecer a percepção que os outros têm de nós quando nos conhecemos suficientemente bem para que este olhar seja enriquecedor e não esmagador. Quando assim não é, e quando a auto-consciência do trabalhador reside fortemente no discurso dos outros, gera-se a incerteza e o medo. E o medo não é um sentimento que se possa eliminar, pelo menos por completo. A vida pessoal e profissional das pessoas está exposta a ameaças, imprevistos e desafios que colidem com a capacidade de previsão, planeamento e controlo dos indivíduos. Querer eliminar o medo é querer estar em controlo total – e este desejo tem tanto de aliciante quanto de inatingível.
Em vez de escolher o caminho do medo, parece-me mais útil e mais enriquecedor que o indivíduo se escute. Que conheça bem o seu valor, as suas qualidades e também os seus limites e áreas a melhorar. Depois de cimentado este aspecto, aí sim, é muito pertinente procurar críticas construtivas e feedback sobre o desempenho, procurar perceber se as palavras que utiliza estão a transmitir de forma fiel aquilo que se pretende a fim de trabalhar num processo contínuo de crescimento em torno da construção de identidade e de assertividade.