Artigo por Edite Queiroz
A pandemia e o mau tempo obrigam a alguma reclusão, pelo que esta semana propomos um filme sobre o legado do psicólogo americano Stanley Milgram (1933-1984). O seu principal trabalho, desenvolvido na Universidade de Yale em 1961 (época de questionamento moral do fenómeno do Holocausto por parte da comunidade científica e filosófica), debruça-se sobre os complexos processos de influência social que regulam o comportamento humano. A experiência inspirada no julgamento de Adolf Eichmann (que começara três meses antes, em Jerusalém) e concebida para investigar a questão da obediência à autoridade, coloca dois sujeitos em confronto e pretende testar até que ponto o primeiro, sob instruções do experimentador, é capaz de aplicar choques eléctricos progressivamente dolorosos ao segundo (cúmplice do experimentador) de cada vez que este erra uma pergunta. O resultado é inquietante: a esmagadora maioria, ainda que contestando o curso da experiência, não coloca objecção ao sofrimento causado ao sujeito ‘castigado’, pelo simples facto de ter sido instruída para o infligir: The disappearance of a sense of responsibility is the most far-reaching consequence of submission to authority.
“[…] se conheço alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece o Woody Allen, então também conhecerás alguém que conhece alguém que conhece alguém que pode ser importante no teu início de carreira. Isto é networking – uma palavra de origem anglo-saxónica que se refere à capacidade de construir, cultivar e ampliar a tua rede de contactos pessoais e profissionais.”
Experimenter (2015) debruça-se neste estudo pioneiro, que serviu de rampa de lançamento a muitos outros trabalhos sobre obediência, conformismo, submissão e crueldade legitimada (por exemplo, à experiência de Philip Zimbardo sobre o Efeito Lúcifer, realizada na prisão de Stanford alguns anos depois) e forneceu suporte empírico às famosas reflexões de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal. Mas Milgram foi ainda autor de outras experiências importantes para a Psicologia. Uma delas deu origem à famosa Teoria dos Seis Graus de Separação, que provou ser apenas necessário um máximo de seis contactos para que estejas ligado a qualquer pessoa no mundo. E se conheço alguém que conhece alguém que conhece alguém que conhece o Woody Allen, então também conhecerás alguém que conhece alguém que conhece alguém que pode ser importante no teu início de carreira. Isto é networking – uma palavra de origem anglo-saxónica que se refere à capacidade de construir, cultivar e ampliar a tua rede de contactos pessoais e profissionais.
A maioria de nós acaba por conectar-se com os outros através das redes sociais, fazendo-o muitas vezes de uma forma cumulativa, unidimensional e transaccional, esquecendo que conviver com pessoas inspiradoras é sempre uma oportunidade para crescer. Num mundo hiperconectado e num contexto laboral cada vez mais competitivo, o estabelecimento inteligente de uma rede de contactos é uma ferramenta profissional fundamental independentemente da tua área de actuação, e o seu sucesso depende de muito mais do que acumular amigos ou seguidores. A rede de contactos pode ser uma poderosa aliada para projectar e manter uma determinada imagem e, consequentemente, abrir portas para novas oportunidades profissionais por meio da troca de experiências, informações e conhecimento, contribuindo assim para a construção da carreira.
Como vês, nem só de livros de estudo se faz o caminho. A experiência, os contactos com os outros e a cultura (outras leituras, filmes, teatro, obras de arte) são pilares fundamentais do desenvolvimento pessoal e, por isso, cruciais na formação dos profissionais da Psicologia. Para desenvolver o auto-conhecimento, para aumentar o sentido crítico, para nos mantermos abertos a novas perspectivas do mundo – ou para encontrar ideias úteis, no momento certo. Num futuro artigo, debateremos a questão das redes sociais enquanto ferramentas privilegiadas de networking do mundo moderno e quais as formas de aumentar o seu potencial.