Neste artigo quero explorar um tema que me diz muito, que é o fracasso. O fracasso tem sido o meu melhor amigo e professor enquanto pai, filho, psicólogo, empreendedor, …
Enquanto psicólogo que trabalha com empreendedores e enquanto empreendedor que sou, entendo o fracasso como um poderoso aliado do desenvolvimento pessoal e profissional e utilizo os fracassos como uma ferramenta poderosa no caminho para o sucesso.
Ora, para começar, importa definir o que significa fracassar no contexto do empreendedorismo. Fracassar não é “apenas” falir uma empresa, perder dinheiro ou falhar num negócio. É também as pequenas derrotas diárias, as decisões que se revelam erradas, as ideias que não funcionam, os serviços ou produtos que não vendem, as metas que não são alcançadas, … O fracasso faz parte do percurso de qualquer profissional, especialmente daquele que é empreendedor, seja empreendedor por conta própria, seja empreendedor por conta de outrem.
Quando penso em fracasso e sucesso, penso imediatamente no famoso Steve Jobs, que foi despedido da própria empresa, a Apple, para depois regressar e transformar a empresa numa das mais reconhecidas marcas do mundo. Também me vem à memória Walt Disney, que foi despedido de um jornal, por incrível que pareça, por ‘falta de imaginação’ e teve várias falências antes de criar a Disney. Ou Thomas Edison, que foi considerado pelo seu professor da primária como incapaz, sendo expulso da escola, e que falhou milhares de vezes antes de inventar a lâmpada elétrica.
As mais recentes estatísticas mostram que cerca de 90% das startups falham. Mas esses números impressionantes não devem ser desmotivadores, pelo contrário, devem-nos lembrar que o fracasso é comum e que, invariavelmente, pode ser um passo necessário para o sucesso. A história e o (aparente) caminho de um empreendedor de sucesso pode parecer, à primeira vista, glamorosa, mas a verdade é que sem os desafios que ultrapassaram e sem os fracassos que tiveram, esse caminho seria insonso, sem o tempero necessário de aprendizagem que leva ao crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional a que obriga essa jornada.
Olhando para o tema de um ponto de vista psicológico, para muitos empreendedores, o fracasso pode ser uma experiência devastadora. Pode afectar a auto-estima, causar ansiedade e até levar a consequências mais graves para a saúde mental. Por isso, é crucial que nós, psicólogos, tenhamos presente o possível impacto do fracasso e consigamos lidar positivamente com ele, assim como apoiar os nossos clientes nesta jornada.
O fracasso pode ativar sentimentos de inadequação ou de vergonha. No entanto, é importante reestruturar esses sentimentos. Em vez de ver o fracasso como um reflexo da nossa competência pessoal, deve ser visto como uma parte de um processo de aprendizagem.
A resiliência é uma competência chave. No nosso desenvolvimento pessoal, assim como agentes de promoção do desenvolvimento pessoal de outros, devemos trabalhar e intervir no sentido do desenvolvimento dessa resiliência, assumindo os fracassos como oportunidades de crescimento, e não como o “fim da linha”. Importa, por isso, reestruturar pensamentos negativos e desenvolver uma mentalidade de crescimento.
Ou seja, considero indiscutível que podemos e devemos aprender com o fracasso, pois é uma oportunidade valiosa para aprender e fazer diferente, fazer melhor ou, como escreve James Knowlson no título de um dos seus livros, “Falhar Melhor”. Quando algo não corre bem, temos a oportunidade de analisar o que correu mal, entender os erros e evitar repeti-los no futuro. Isso desenvolve, não só a nossa resiliência, como competências centrais para se ser um empreendedor de sucesso.
Além disso, o erro e o fracasso obrigam-nos a adaptar e a inovar. São muitas vezes os obstáculos e os erros que nos levam a pensar “fora da caixa” e encontrar novas soluções. Por exemplo, muitas ideias e empresas de sucesso mudaram de direção após um fracasso inicial e, só assim, encontraram um modelo de negócio mais eficaz.
Todo este processo é um processo de desenvolvimento pessoal, pois enfrentar e superar o fracasso fortalece a nossa mentalidade e o nosso caráter e leva-nos a ser mais persistentes, pacientes, a manter a calma sob pressão e a desenvolver a nossa autocompaixão.
Não poderia terminar este artigo sem deixar algumas dicas, 3 estratégias práticas:
- Análise de erros: Depois de uma falha, há que analisar cuidadosamente o que correu mal. Há que perguntar: O que aprendi com isto? Como posso fazer melhor da próxima vez?
- Feedback contínuo: Procurar feedback constantemente dos outros (clientes, mentores, colegas, …). Recolher e usar este feedback vai permitir a melhoria e o ajustamento da nossa estratégia.
- Mentalidade de crescimento: Adotar uma mentalidade de crescimento, vendo os fracassos como oportunidades de aprendizagem e crescimento, e não como derrotas permanentes, é imprescindível.
E como, normalmente, um empreendedor não está sozinho, é importante criar à sua volta um ambiente onde o fracasso seja visto como uma parte natural do processo de crescimento. Líderes que promovem uma cultura de experimentação e aceitação do erro tendem a ter equipas mais inovadoras e mais envolvidas.
Resumindo, “Mares calmos não fazem bons marinheiros”. O fracasso não é o fim, mas sim um passo necessário no caminho para o sucesso. Há que encarar os desafios com uma atitude positiva e aprender com cada experiência. Empreendedores têm de navegar pelos altos e baixos do empreendedorismo, transformando o fracasso num trampolim para o sucesso.