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“Tiraste Psicologia? Bem-vindo/a ao desemprego” – O (real) impacto dos factores externos na procura de trabalho

Artigo por Ana Leonor Baptista

Quantas vezes ouvimos frases como esta antes, durante e após um percurso académico em Psicologia? Mesmo antes de entrar na Faculdade, quando começava a partilhar as opções que auscultava enquanto estudante de ensino secundário, o feedback era repetitivo “se fores para Psicologia, não vais ter emprego/nunca vais trabalhar na área/é muito difícil, não é uma área de futuro”.

A procura de empregos em Psicologia (em Portugal) pode ser influenciada por diversos fatores externos – e sim, pode ser difícil! Tal como acontece em muitas outras áreas. Temos uma população cada vez mais escolarizada, contextos socioeconómico e político instáveis. Passamos por crises económicas, o balanço entre oferta e procura não é o mais equilibrado… As políticas de contratação pública, as medidas de incentivo ao emprego e/ou de financiamento de estágios profissionais, entre tantos outros factores que poderíamos referir têm impacto na procura de emprego em Psicologia. E sob estes, não é possível agir. E é saudável reconhecer isto mesmo – o indivíduo que está à procura de integração profissional não tem e nunca terá controlo sob tudo o que é inerente a esta condição em que se encontra. Mas tem controlo sob alguns aspectos. E se os factores externos têm impacto na capacidade de integração no mercado de trabalho, também os factores internos o têm.

“O objectivo é ir em direcção ao equilíbrio entre quem sou/o que tenho para oferecer e o que o mercado de trabalho precisa e/ou procura.” 

Então em que é que o indivíduo deve focar o seu tempo, energia e investimento (quando está à procura de emprego)?

  • Networking: criar e manter uma boa rede de contactos é fundamental quando se procura emprego. Começamos a criar a nossa rede quando ainda estudamos e nos relacionamos com colegas, professores, profissionais, quer no contexto académico quer quando participamos em eventos formativos ou quando realizamos estágios na nossa área. Quando nos tornamos psicólogos/as, devemos manter nutrida a rede que já temos vindo a construir e continuar a criar pontes ao longo dos contextos em que nos vamos inserindo. A rede de contactos é uma aliada da colocação profissional já que pode permitir a tomada de conhecimento de oportunidades de emprego (incluindo oportunidades que não se tornam públicas).
  • Marketing pessoal e profissional: uma imagem profissional sólida permite que um/a psicólogo/a possa destacar-se. Estar no Linkedin e mantê-lo “alimentado” é essencial. Saber fazer um bom currículo e uma boa carta de motivação também.
  • Acompanhar a inovação: os contextos mudam e o exercício da Psicologia adapta-se. Cada vez identificamos um maior número de contextos de intervenção, assim como novas formas de exercer e de trabalhar. Se um/a psicólogo/a não está a conseguir integração laboral em áreas mais tradicionais, porque não procurar “fora da caixa”?
  • Autoconhecimento: este desempenha um papel fundamental na gestão de carreira e na abordagem ao mercado de trabalho. Um/a psicólogo/a que se conhece é capaz de identificar claramente as suas competências, interesses e valores – é alguém capaz de tomar decisões mais sustentadas e capaz de procurar empregos alinhados consigo. Quem se conhece bem, também tem maior/melhor capacidade para lidar com desafios.
  • Ser mais empreendedor: considerando que existem, de facto, os tais factores externos mencionados na abertura deste artigo, faz todo o sentido que os/as psicólogos/as desenvolvam as suas competências de empreendedorismo. Empreendedorismo pode ser criar o próprio emprego, mas também pode ser criar um projecto ou um serviço e ser capaz de o divulgar e de tornar a sua contratação em algo atractivo para as entidades. Pode ser formar parcerias com outros colegas ou entidades, dentro e fora da Psicologia, que possam ser estratégicas em termos de comunicação (por exemplo) com o seu público-alvo. Na sua essência, empreender é transformar crises em oportunidades e qualquer psicólogo/a beneficia de treinar esta competência.

A procura de trabalho em Psicologia e em Portugal pode ser desafiante e é influenciada por fatores externos sob os quais nenhum psicólogo/a ou futuro/a psicólogo/a consegue ter controlo. Mas isto não quer dizer que um percurso académico em Psicologia seja um passaporte para o desemprego!  O foco de quem está à procura de integração profissional deverá, sim, passar por tudo o que está ao seu alcance e no seu campo de acção: pesquisar e ler sobre diferentes áreas de actuação na Psicologia, investir no desenvolvimento profissional contínuo, cuidar da sua rede de networking e desenvolver uma marca pessoal/profissional interessante. O objectivo é ir em direcção ao equilíbrio entre quem sou/o que tenho para oferecer e o que o mercado de trabalho precisa e/ou procura.