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Sou Estudante de Psicologia (O que gostava que me tivessem dito)

Artigo por Ana Catarina Silva

Iniciamos o percurso escolar, quando ainda agora tínhamos começado a aprender a brincar e, muitas vezes, terminamos o percurso académico, quando ainda estávamos a começar a apropriação da área / ciência que nos “propusemos(ram)” estudar.

Social e culturalmente é (ainda muito) estabelecido que a maior parte de nós “deve” tirar um curso superior e após o término do mesmo, entrar no mercado de trabalho, “encarreirar” e “iniciar” o percurso profissional, familiar e socialmente “correcto”.

Tal como estas aspas, acredito que, muitas mais devem ser as aspas colocadas nas exigências (auto)impostas, que não raras vezes exibimos com o melhor filtro fotográfico, camuflando “vísceras amordaçadas”, principalmente quando essas exigências dificultam o apreciar do caminho e a urgência de chegar faz perder aspectos essenciais para usufruir do agora e preparar o futuro, fazendo esquecer que a carreira (e a sua gestão) já começaram!

A todos os estudantes que se preparam para iniciar, ou já iniciaram, o desafio da Psicologia, como futura área profissional, bem-vindos a uma das mais fantásticas viagens e percursos, mas igualmente dos mais desafiadores!

É inegável o volume dos conteúdos académicos, os exames e trabalhos individuais/grupo que vos esperam, as imensas leituras, pesquisas e dedicação de tempo necessário. Será, e é, um percurso com muitas tomadas de decisão, estabelecer de prioridades e foco num planeamento constante, porque o tempo é (parece ser) sempre pouco.

“Não há percursos iguais, melhores ou piores, há carreiras, todas válidas, desde que coerentes e alinhadas com os objectivos estabelecidos, sem aspas e em respeito das “vísceras” e, principalmente, em pleno gozo e rentabilização do caminho.”

Não há percursos iguais, melhores ou piores – há carreiras, todas válidas, desde que coerentes e alinhadas com os objectivos estabelecidos, sem aspas e em respeito das “vísceras” e, principalmente, em pleno gozo e rentabilização do caminho. Neste percurso é muito mais o que está sob o nosso (vosso) controlo e depende de nós (vós) para uma chegada menos assoberbada, e em maior controlo, ao mercado de trabalho e que pode e deve começar já, facilitando o atingir dos objectivos (se realistas e adequados).

  1. Auto-conhecimento, capacidade de adaptabilidade e exploração

Como estudantes de Psicologia, serão privilegiados no acesso a informação, conhecimentos e evidências da ciência Psicológica, pelo que e, numa visão muito prática, quanto mais cedo combatermos o ditado “em casa de ferreiro, espeto de pau” e usufruirmos das aprendizagens realizadas, mais e melhor estaremos preparados para os desafios pessoais e profissionais.

É fundamental investir na prática do auto-conhecimento e da escuta interna como um exercício contínuo, inacabado, assumindo este como uma ferramenta e estratégia de posicionamento, permitindo planear, estruturar e adaptar(nos) às diferentes situações e exigências.

Pesquisar e procurar além dos conteúdos académicos disponibilizados, explorando e envolvendo-se nas diferentes iniciativas e programas disponíveis na comunidade académica, “usufruir” do acesso privilegiado aos conhecimentos e experiência dos professores, alimentando a curiosidade com conhecimentos e experiências além das previstas na “tradicional” bolha académica pode proporcionar uma riqueza de conhecimentos e de potencial diferenciação posterior no mercado de trabalho.

  1. Conhecer e preparar o mercado de trabalho, AGORA

Identificar e desenvolver, hoje, as principais competências mais valorizadas pelo mercado de trabalho, não deixando para depois do curso (porque neste momento o mercado de trabalho nos parece ainda longínquo) para adquirir e melhorar essas mesmas competências, poderá fazer toda a diferença na hora de elaborar e evidenciar o currículo, hoje e depois.

Ao terminarmos o curso, deparamo-nos frequentemente com a questão “se não tenho experiência profissional, não tenho como evidenciar estas competências”, exponenciando a ansiedade na abordagem ao mercado de trabalho.

Encarar e fazer do percurso académico em Psicologia um meio privilegiado para a aquisição e desenvolvimento de competências transversais, tornando igualmente intencional o investimento (trabalhando nelas ao longo do curso) nas principais competências associadas a um/uma diplomada/o em Psicologia, futura/o Psicóloga/o, emerge como uma estratégia essencial de preparação para a entrada no mercado de trabalho em Psicologia, permitindo, posteriormente, evidências concretas das mesmas.

Partilho algumas das competências¹ mais valorizadas, transversais e diria mesmo cada vez mais intemporais como inspiração para “prática” (desenvolvimento) imediato – Criatividade, originalidade, capacidade de adaptabilidade, capacidade de iniciativa, resolução de problemas, pensamento critico, resiliência e tolerância ao stresse, domínio de Tecnologias da Comunicação e Informação, empatia e competências de comunicação verbal e escrita.

  1. Expectativa vs Realidade

Sendo natural que ao longo do percurso académico, a principal preocupação seja a aprendizagem, não raras as vezes, os diplomados enfrentam uma realidade, fora das Instituições de Ensino Superior, bem diferente das expectativas que foram elaborando e alimentando ao longo do percurso académico. Menos raras vezes, ouvimos “na universidade não nos ensinaram isto ou disseram como fazer”, referindo-se ao mercado de trabalho, demonstrando uma sensação de serem “largados” no mercado de trabalho, para o qual não se sentem preparados e desconhecem.

Esta preparação é e deve ser da responsabilidade da parte mais interessada, o candidato, futuro profissional. Existem várias plataformas, sites, programas de empregabilidade, workshops, web talks e percursos formativos, mais e menos formais, disponíveis que facilitam o acesso a inúmeras informações sobre gestão pessoal de carreira, legislação laboral, organização do mercado de trabalho e percursos profissionais em Psicologia (alguns exemplos – iniciativas PsiCarreiras ; Academia OPP ; workshops EmCarreira; App +OPP

Interiorizar esta responsabilidade é assumir o controlo da gestão pessoal da carreira, fazer depender de mim, o mais possível, o conhecimento da minha realidade profissional futura, numa abordagem consciente, consistente e autónoma ao mercado de trabalho.

A expectativa será tanto mais próxima da realidade, quanto mais se combater a tendência (errada) de ver cumprido o “dever” do outro em nos informar.

E o que eu gostava que me tivessem dito isto, há uns anos atrás, quando era estudante de Psicologia!

 

https://www.apa.org/education-career/guide/transferable-skills.pdf

https://www.apa.org/ed/precollege/psn/2019/02/skillful-student

https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020/in-full/infographics-e4e69e4de7