Artigo por Ana Leonor Baptista
Há cerca de uma semana atrás, publiquei no meu Linkedin (pessoal) um excerto de António Coimbra de Matos sobre burnout, onde se lia:
Burnout
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Progressão mórbida: stress (sobrecarga) – burnout (esgotamento) – depressão (retirada.
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Etiopatogenia fundamental: estrutura laboral viciada – desigualdade, exploração, desrespeito, competição, despersonalização, excesso de tempo e de esforço, retribuição insuficiente.
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A tarefa que se nos abre é questionar a vigente organodinâmica do trabalho e enunciar princípios e formular regras que potencializem mutuamente o valor da produção e a qualidade da realização pessoal.
No espaço de 2 dias esta publicação excedeu uma centena de reacções, tendo incitado a partilhas que alguns colegas me fizeram chegar via mensagem privada nesta rede profissional. Percebi que, não obstante o tema do burnout já nos ser conhecido, talvez fizesse sentido pensar sobre ele num blog que se debruça sobre questões de empregabilidade e que é da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Burnout, conforme se depreende do excerto partilhado, é um esgotamento, é um “queimar até à última réstia”, é exaustão, é cansaço excessivo. Na minha leitura (e arriscando mas assumindo uma simplicidade excessiva e redutora deste problema), o burnout tem (ou pode ter) um denominador comum – a dificuldade na (auto)imposição de limites. Frequentemente, o burnout não “acontece” somente porque um profissional está subjugado a uma excessiva carga de trabalho, ou não “acontece” por existir uma enorme pressão externa para atingir determinados resultados. O burnout existe na conjugação destes factores, que poderemos classificar como externos, a vários outros aspectos mais internos: a dificuldade em parar, a dificuldade em priorizar o auto-cuidado, a dificuldade em “desligar” ou em “deixar para amanhã”… a ambição, o perfeccionismo, a competência… e a supramencionada dificuldade que o indivíduo sente em impor limites razoáveis a si mesmo: limites de esforço, de tempo dedicado ao trabalho, limites de investimento…
“(…) o burnout tem (ou pode ter) um denominador comum – a dificuldade na (auto)imposição de limites.”
Se se sente em burnout, ou num estado limítrofe, deixo alguns pontos para reflexão:
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Pondere fazer uma pausa: isto pode significar tirar férias, parar de aceitar novos casos ou de iniciar novos projectos; o que está subjacente é que possa criar condições para parar ou, no mínimo, abrandar.
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Pondere encontrar um escape: isto também pode ter diferentes significados, começar a pintar nos tempos livres, inscrever-se em aulas de artes marciais, começar a fazer caminhadas com um amigo ao final do dia; procure criar ou inventar formas para libertar a frustração, o stress e a pressão.
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Tem investido no seu auto-cuidado? E como estão os seus hábitos? Beber água, fazer o exercício físico, ter tempos de lazer, não exagerar no consumo de cafeína, álcool, nicotina, dormir horas suficientes… – deverá fazer um esforço diário por se certificar de que, de forma equilibrada, estes aspectos ligados às rotinas e saúde estão acautelados.
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Pondere flexibilizar o seu horário de trabalho; por exemplo, se sente que é uma pessoa que trabalha melhor de manhã, tente que o seu horário de trabalho incida mais sobre as manhãs/que as tarefas mais complexas possam ser cumpridas no período da manhã.
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Pondere procurar acompanhamento psicológico: o burnout acarreta sérias consequências para a saúde física e psicológica das pessoas (investigações referem: fadiga, perturbações do sono, patologias respiratórias, cardiovasculares, gastrointestinais, sexuais, falta de concentração, dificuldades ao nível da memória, sentimento de solidão, baixa auto-estima, agressividade, abuso de substâncias, entre outras), pelo que a opção pela procura de ajuda profissional pode e deve contemplar um plano de acção para “atacar” o burnout.
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Pondere mudar de emprego. Felizmente não somos árvores – temos raízes mas podemos replantar-nos num sítio mais solarengo. Os empregadores estão cada vez mais focados na criação/desenvolvimento de locais de trabalho saudáveis e na promoção de bem-estar nos seus colaboradores, porém não é possível generalizar e continuam a existir locais de trabalho que poderão não proporcionar as melhores condições aos seus colaboradores – pondere mudar. [de momento , a OPP está a promover o Prémio Healthy Workplaces, que procura incentivar e divulgar as melhores orientações e práticas que se desenvolvem em Portugal no que concerne à segurança, saúde e bem-estar ocupacional – esteja atento às organizações distinguidas, quem sabe se poderá “encontrar” em alguma delas um futuro local de trabalho?]
Cuide de si! Desenvolva hábitos de vida saudáveis, trabalhe a sua capacidade de “desligar” das preocupações associadas à vida profissional e de descansar a mente, crie momentos de prazer que proporcionem bem-estar e tranquilidade.