Artigo por Anita Dias de Sousa
Quando falamos de Slow Work não falamos de trabalhar mais devagar. Falamos sim de definir prioridades, de realizar pausas, de viver o trabalho com tranquilidade. Trabalhar sim, mas por favor, não em “Full-Power-Level”. Atualmente falamos de flexibilidade, de trabalhos em regime híbrido, em bleisure, todas estas, formas para encontrar o melhor equilíbrio possível, entre a vida profissional e pessoal.
O Slow Living envolve estar no momento presente. Promovendo a ideia de que devemos trabalhar de forma mais inteligente e não mais difícil.
Saímos do mês de Outubro, mês marcado pela sensibilização à Saúde Mental, onde se abordaram vários temas, um deles particularmente próximo ao que pensaremos hoje, o burnout. Nesse sentido, será que ainda acreditamos que o burnout é o preço do sucesso?
Falamos de outro tema, diretamente interligado, o burnout e as mulheres. Segundo o Instituto Europeu para a Igualdade de Género cerca de 93% das mulheres empregadas realizam regularmente trabalhos domésticos não remunerados, em comparação com 53% dos homens empregados.
Em 2022, a disparidade de género foi de 68,1%. Segundo o ritmo atual de progresso, serão necessários 132 anos para atingir a paridade total. As disparidades de género na força de trabalho são impulsionadas e afetadas por muitos fatores, incluindo barreiras estruturais, tecnológicas, bem como choques económicos, conflitos geopolíticos e mudanças climáticas. Além disso, o aprofundamento projetado da atual crise do custo de vida, provavelmente afetará mais as mulheres do que os homens, pois as mulheres continuam a ganhar e acumular riqueza em níveis mais baixos (Fórum Económico Mundial).
Nesse sentido sensibilizamos também para outro fator de risco: 17.9 milhões de pessoas morrem todos os anos de doenças cardiovasculares segundo a Organização Mundial de Saúde e anualmente, mais de 20 mil vítimas entre as mulheres, um número superior quando comparado com o universo masculino, segundo a Fundação Portuguesa de Cardiologia.
“O Slow Work sugere que as pessoas deveriam assumir menos projetos e, em vez disso, gastar mais tempo nos projetos pelos quais já são responsáveis.”
Onde entra o Slow Work?
Quando trabalhamos de forma mais consciente, reduzimos a frequência dos erros, aumentamos a nossa criatividade, somos mais produtivas/produtivos a longo prazo, mantemo-nos com mais energia, mais saúde. Factor importantíssimo quando falamos do segundo turno do dia, no que concerne a mães e pais, nomeadamente em ter disponibilidade física e mental, para passar tempo ativo com as/os suas/seus filhas/filhos. Quem fala de despender tempo de qualidade, fala também em momentos de lazer, de prática de exercício físico, de outras actividades importantes, para cada pessoa.
Como podemos pôr em prática o Slow Work?
Equilíbrio entre vida pessoal & profissional
Não há nenhum benefício em alcançar o ponto de exaustão. Diz-se que “saúde é riqueza” e isso é verdade! O verdadeiro sucesso vem de cuidar do nosso corpo e da nossa mente.
Pausas & Descanso
Fazer pausas e encontrar tempo para descansar pode realmente aumentar a produtividade e a qualidade do nosso trabalho, além de melhorar a nossa felicidade, tornando-nos mais saudáveis e possibilitando-nos uma maior energia. A esse propósito, partilhamos os resultados de inquérito da Sociedade Portuguesa de Pneumologia e da Sociedade Portuguesa da Medicina do Trabalho em que 46% das/os portuguesas/portugueses com idade igual ou superior a 25 anos dormem menos de 6 horas por dia e 40% reportam dificuldade em manter-se acordadas/acordados durante a condução e outras atividades diárias.
Limites & Ritmos
Um dos principais conceitos de Slow Work é a ideia de que as cargas de trabalho devem permanecer num um nível sustentável. Seja honesta/honesto consigo e com as/os suas/seus colegas, se não tem tempo ou capacidade para assumir tarefas extras, é melhor haver um conhecimento conjunto. Reduza a sua capacidade multitarefa, concentre-se numa tarefa de cada vez, ao longo do dia. Pratique o batching, ou seja, bloqueie pedaços de tempo de uma a duas horas no seu calendário para trabalho ininterrupto, para que se possa concentrar totalmente e alcançar o seu pico de criatividade e produtividade. O Slow Work sugere que as pessoas deveriam assumir menos projetos e, em vez disso, gastar mais tempo nos projetos pelos quais já são responsáveis.
Flexibilidade & Autovalorização
A flexibilidade como componente integrante da cultura organizacional tem muitos benefícios. Podemos pensar em algo prático, como por exemplo, os horários flexíveis. Onde as/os colaboradoras/colaboradores podem trabalhar quando são mais eficientes. Horários flexíveis também dão às/aos colaboradoras/colaboradores a oportunidade de dedicar mais tempo a outras partes das suas vidas sem culpabilidade por faltar ao trabalho. Torna-se fundamental investirmos em áreas que apoiam o bem-estar, como medida de autocuidado e de produtividade. Especialmente ao investirmos na nossa autovalorização, instantaneamente começamos a sentir-nos merecedores das nossas conquistas, sucessos e vivemos num estado de automotivação mais sólido. Nos momentos de maior desafio, valorize o seu melhor, foque-se no que conseguiu. Esse investimento ajuda-nos a ter a força necessária para ir além. Ouse ir além!