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Será possível prever a imprevisibilidade?

Artigo por Ana Sofia Nobre

Amanhã vou levantar-me pelas 7h00, após rotina matinal para sair de casa, pego no carro e vou deixar a minha filha na escola. De seguida vou para o trabalho, na minha cabeça estão claros os pontos prioritários e por onde tenho de começar o meu dia. Poderia continuar a descrever-vos a minha rotina e até conseguiria caprichar no nível de detalhe, poderia até, com toda a certeza, partilhar convosco o que vou fazer para a próxima semana, no próximo mês e até algumas ideias para este ano ou para o ano seguinte.

Não o faço…porque por um lado, creio que correria o risco de tornar este texto pouco interessante para quem o lê, mas porque o mais importante não é o que irei fazer amanhã. O ponto principal desta reflexão passa por percebermos o quão importante é para cada um de nós, “saber” o que nos traz a vida no minuto que ainda não vivemos. Todos nós precisamos desta noção de previsibilidade, desta noção de que controlamos a realidade em que vivemos, de que sabemos como será o nosso dia de amanhã, ainda que tenhamos dúvida sobre o que faremos para o jantar.

Nestes últimos anos e estamos prestes a completar um ano de guerra, após uma crise pandémica, a assistir a grandes catástrofes, parece que todos os dias nos surge em letras maiúsculas a palavra “IMPREVISIBILIDADE”, mesmo à frente dos nossos olhos, reforçando que na nossa tentativa de prever, de controlar, de criar e desenhar uma vida estável/controlável, há partes da equação que não controlamos e que na verdade leva-nos a pensar, que sobre o dia de amanhã, afinal não sabemos tanto como achamos que sabemos.

Iniciar e desenvolver a nossa carreira neste nível de incerteza é também um grande desafio, principalmente em momentos de transição como a entrada do mundo do trabalho, quando pretendemos transitar entre projectos, na própria percepção sobre a estabilidade da carreira e isso impacta outros papeis na nossa vida. A própria forma como investimos no nosso desenvolvimento profissional é também impactada por este mundo em mudança, em contextos que mudam com rapidez, as próprias necessidades também são alteráveis à velocidade da luz, pelo que nos conduz à necessidade de investir de forma constante no nosso desenvolvimento de competências, em ciclos de aprendizagem cada vez mais curtos e frequentes.

“Iniciar e desenvolver a nossa carreira neste nível de incerteza é também um grande desafio, principalmente em momentos de transição como a entrada do mundo do trabalho, quando pretendemos transitar entre projectos, na própria percepção sobre a estabilidade da carreira e isso impacta outros papeis na nossa vida.

Retomando a questão que coloco inicialmente e que dá origem ao título deste artigo e que não deixa de ser um pouco provocatória, “Será possível prever a imprevisibilidade?” Bem, a resposta creio que seja um “NÃO”. Se conseguisse prever a imprevisibilidade ela deixava de ser o que é, e passava a ser previsível. Pelo que não há vida sem imprevisibilidade.

Deste modo, é essencial termos em consideração 5 competências, que poderão ser facilitadoras da nossa “navegação”, quer tenhamos pela frente um mar calmo, ou sejamos surpreendidos/as com ondulações intensas:

Porque para navegar não precisamos apenas de um barco, precisamos também, de mapas, bússolas e outros instrumentos de navegação. Deste modo, para gerir a imprevisibilidade na sua carreira, poderá ser importante navegar com:

  • Curiosidade – todos os nossos dias devem ser dias de exploração, de conhecer novos e diferentes caminhos, sendo levado pela inquietude de quem quer saber mais;
  • Persistência – ter a noção de que os obstáculos vão sempre surgir, fazem parte da vida, mas a manutenção do nosso envolvimento nos nossos objectivos de carreira pode fazer a diferença;
  • Flexibilidade – será necessário estar em permanente leitura da realidade envolvente, das mudanças e necessidades do contexto em que nos inserimos e implementar também no nosso dia a dia os ajustes necessários de forma flexível;
  • Optimismo realista – acreditar na concretização dos nossos objectivos, não poderemos esperar que alguém acredite nos nossos projectos, na nossa competência se nós próprios temos sérias dúvidas;
  • Arriscar – a intenção não é comportamento! Ainda que com grau de incerteza e imprevisibilidade, que como já vimos faz parte da vida, sem acção nada acontece. Podemos optar por ficar na margem apenas a olhar para o nosso barco, sem coragem para navegar, mas ficaremos sempre com os nossos pensamentos mergulhados na incerteza, se de facto, passando da intenção à acção, chegaríamos à outra margem e sobre tudo o que poderia ser diferente a partir daí.

Para além destas 5 competências que vos partilho, certamente existirão tantas outras que poderão ser essenciais para gerir a carreira na imprevisibilidade. Contamos com as vossas partilhas!