Artigo e fotografia por Edite Queiroz
O que é a Psicologia? Para que serve, a que se aplica? Pode aprender-se a ser Psicólogo? Seria de supor que estas são questões demasiado óbvias para os Psicólogos. Mas na verdade, a atitude de questionamento sobre a natureza e finalidades da Psicologia é algo que nunca deve abandonar-nos. De resto, deve começar antes até da entrada no ensino superior e manter-se ao longo de toda a vida profissional, pois apenas ela pode permitir a descoberta contínua dos vários e novos caminhos, áreas, aplicações, contextos de intervenção e carreiras da nossa ciência.
Na Academia OPP – projecto criado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses em 2015, que acompanha os estudantes de ensino superior em Psicologia – questionamos os alunos do 1º ano sobre os motivos da sua opção académica. Pode parecer um exercício de quebra-gelo sem conteúdo particularmente relevante, mas é muito revelador das representações da Ciência Psicológica para os estudantes, que naturalmente espelham as da sociedade, em geral. As respostas são muito diversas, mas podemos identificar como mais frequentes verbalizações do tipo: Sempre quis ajudar os outros; Sou bom/ boa ouvinte; A minha mãe/ pai é Psicólogo/a; Tive um professor/professora que me explicou o que era a Psicologia; Consultei um Psicólogo quando era criança; Tenho muita curiosidade em perceber o comportamento humano, etc. De seguida, perguntamos quais as áreas da Psicologia que os apaixonam, o que gostariam mesmo de fazer enquanto futuros profissionais. Neste ponto, as respostas são normalmente as clássicas: Clínica, muitos dizem. Trabalhar com crianças. Escolas. Recursos Humanos. Também em voga parece estar a área Forense, a Psicologia do Desporto, a Neuropsicologia. E o que pretendem fazer para conseguir trabalhar na vossa área de eleição, perguntamos por fim. Também aqui encontramos respostas clássicas: Vou fazer um doutoramento na área; Quero estudar lá fora; Pretendo dedicar-me à investigação.
“Um Psicólogo é a sua única ferramenta de trabalho – e por isso, para ser Psicólogo é preciso tornar-se Pessoa“
Certamente que a preparação teórica e académica, como a experiência profissional acumulada, serão incontornáveis, reforçamos. Mas não será também preciso conhecer os outros? Viajar, ler romances e poesia, ir ao cinema, jantar com os amigos? Desenvolver os nossos interesses, ter hobbies particulares, passar tempo sozinhos? Observar com curiosidade, falar com desconhecidos na rua? Voltamos à primeira pergunta e chamamos à atenção para o denominador comum das respostas que ouvimos: A tónica colocada nas características do próprio, mais do que nas da futura profissão. Não está errado – e não é por acaso: Um Psicólogo é a sua única ferramenta de trabalho – e por isso, para ser Psicólogo é preciso tornar-se Pessoa. Nesse sentido, as características pessoais de quem ambiciona tornar-se Psicólogo são de extrema importância; elas irão definir o tipo de profissional em que nos converteremos e determinar, em larga medida, as áreas da Psicologia em que nos iremos mover, dando forma às experiências enquanto estudantes de Psicologia e mais tarde Psicólogos, as escolhas que faremos ao longo da vida profissional e as Pessoas únicas que seremos ao longo da vida. O desenvolvimento pessoal do Psicólogo é, por isso, tão importante como a sua formação académica e profissional – e, da mesma forma, deve começar antes do ensino superior e manter-se ao longo de toda a carreira.
Falando nisso… e o que é a carreira? Certamente que não é algo estático, definitivo, que possa ser definido nos primeiros anos de formação. A sua construção implica ir descobrindo a vida… e a Psicologia – por dentro e por fora. E para conhecer a Psicologia, é preciso abdicar de preconceitos e ideias feitas, explorar e experimentar, pôr-nos à prova, estar disponíveis para a surpresa, para fazer e pensar coisas novas. A carreira não é uma escolha; é um caminho que se descobre nas veredas de dois mapas fundamentais: O desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento profissional. Perceberemos, em artigos futuros, a forma como o primeiro potencia o segundo e vice-versa, o papel de ambos na preparação de um percurso de carreira e a experiência basilar do Ano Profissional Júnior – o estágio profissional – enquanto momento primeiro de teste de realidade.