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Se Maomé Não Vai à Montanha

Artigo por Edite Queiroz

A Psicologia sofre de um paradoxo antigo ainda por resolver. Por um lado, é uma ciência humana, especificamente dedicada ao estudo e compreensão do comportamento humano, pelo que possui ferramentas para dar contributos valiosos nas mais diversas áreas, contextos e actividades. Por outro lado, é uma das áreas do saber que mais desafios enfrenta no que à empregabilidade diz respeito. Esta contradição tem muitas explicações, estando uma delas ancorada numa visão algo assistencialista da profissão, tradicionalmente encarada como acessória, secundária, prescindível. Ligadas a esta, emergem duas outras: a tendência para a gratuidade dos serviços prestados, perpetuada por longos anos de anos profissionais júnior não remunerados (até à entrada em vigor, em 2011, da legislação que obriga à sua remuneração) e o desconhecimento público sobre a ciência psicológica e sobre tudo o que a Psicologia pode fazer pelas pessoas. Ao longo do tempo, este cenário criou um contexto difícil para os novos profissionais no momento da entrada no mercado de trabalho. Salva-nos, no entanto, mais um paradoxo: se somos uma das classes profissionais que mais barreiras encontra no acesso ao mercado, somos também uma das mais bem equipadas para superar esses obstáculos e justificar a necessidade da nossa contribuição.

[…] se somos uma das classes profissionais que mais barreiras encontra no acesso ao mercado, somos também uma das mais bem equipadas para superar esses obstáculos e justificar a necessidade da nossa contribuição.”

O estudo das dinâmicas do mercado de trabalho mostra-nos que existe uma direcção inversa na forma como recrutadores e candidatos perseguem os seus objectivos*. Verificamos que as entidades começam por recrutar junto dos seus talentos internos. Já os candidatos começam pela resposta a anúncios ou pelo envio de candidaturas espontâneas. No entanto, sabemos que a probabilidade de resposta positiva é reduzida e mais ainda decresce em áreas com índices moderados ou elevados de desemprego. Como vencer, então, o desafio da empregabilidade?

Aqui chegados, permitam que regressemos a uma ideia essencial, já plasmada em diversos dos nossos artigos: o auto-conhecimento é a pedra-de-toque da actividade profissional dos psicólogos. O caminho deve sempre começar pela avaliação das características e preferências pessoais e pela identificação das áreas, públicos e contextos em que gostarias de intervir. De seguida, há que apresentar o teu potencial. Como? Demonstrando para que serve a Psicologia e fazendo prova dos seus resultados.

Depois de estudar a entidade empregadora, uma abordagem fundada no valor da Psicologia pode fazer a diferença. A Psicologia é uma actividade baseada na evidência científica, assente num vasto conjunto de estudos demonstrativos do valor preventivo, promocional, interventivo e custo-efectivo da ciência psicológica. Essa evidência científica pode fornecer um suporte robusto a propostas de valor que demonstrem às entidades empregadoras as múltiplas vantagens do trabalho dos psicólogos e psicólogas, um trabalho cientificamente informado, rigoroso e responsável, que permite prever os efeitos das intervenções realizadas e que tem uma eficácia largamente documentada na prevenção da doença, na intervenção e na promoção da saúde, do desenvolvimento, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas, grupos, organizações e sociedade.

Posto isto, no momento de procura de emprego, começa por definir o que queres fazer e construir um projecto que demonstre o teu valor como psicólogo(a), documentando a tua proposta. A tua formação académica é a tua maior aliada.

 

* Sugere-se a consulta da “pirâmide invertida” do livro “What Color Is Your Parachute?”, de Richard Nelson Bolles. A edição portuguesa está disponível nas livrarias com o título “De que Cor é o seu Pára-Quedas? – Guia prático para encontrar emprego e mudar de carreira”. A OPP fez uma adaptação da mesma e está disponível para consulta integrada no “Centro de Recursos para a Empregabilidade” no site EuSinto.Me