PsiCarreiras

logo-psicarreiras
Blog

Saúde Mental Primeiro: A propósito do Dia Mundial da Saúde Mental 2022

Artigo por Edite Queiroz

A 10 de Outubro de 1992, a Federação Mundial de Saúde Mental, organização internacional que tem por missão a sensibilização pública para a Saúde Mental e a melhoria dos cuidados dirigidos aos que sofrem de tais problemas, assinalou, pela primeira vez, o Dia Mundial da Saúde Mental. Sem tema específico nos primeiros anos, a iniciativa depressa ganhou popularidade, focando-se, já em 1994, no objectivo de “Melhorar a qualidade dos serviços de Saúde Mental em todo o mundo”.

Mas apesar da sua relevância, tal meta que permanece por concretizar. Apesar do aumento da prevalência dos problemas de Saúde Mental em todo o mundo, o seu impacto na vida das pessoas, famílias e comunidades (aumento da pobreza, do desemprego e precariedade, das desigualdades ou da exclusão social) e as graves violações de direitos humanos que lhes estão associadas, a (falta de) Saúde Mental continua a ser percebida como parente pobre da Saúde pela população e políticas públicas. E ainda que algum caminho esteja a ser feito no sentido da normalização das questões da Saúde Mental e da desconstrução do estigma, a literacia em torno do tema é ainda escassa e os apoios financeiros e infraestruturas insuficientes.

“Fazer da Saúde Mental e do bem-estar para todos uma prioridade mundial” é o lema do Dia da Saúde Mental 2022, uma meta globalmente alinhada com a Agenda 2030: todos os objectivos de desenvolvimento sustentável contribuem, sem excepção, para a promoção da Saúde Mental e prevenção de problemas neste âmbito…”

Na verdade, três décadas volvidas sobre o nascimento do Dia Mundial da Saúde Mental, a situação é mais crítica do que nunca. Se antes de 2020, os problemas de Saúde Mental estavam já entre os principais contribuintes para a carga global de doença (com custos económicos até 4,2% do PIB), o quadro enegreceu com a crise socio-económica desencadeada pela pandemia (a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em cerca de 25%), agora agravada pela actual situação de guerra na Europa. Hoje, cerca de mil milhões de pessoas no mundo vivem com problemas de Saúde Mental. O nosso país é o segundo da Europa com maior prevalência destes problemas (cerca de 23% da população) e uma das nações da OCDE onde a taxa de necessidades não satisfeitas de cuidados de Saúde Mental é mais elevada: Existem apenas 250 psicólogos/as nos Cuidados de Saúde Primários, ou seja, 2,5 psicólogos/as para cada 100.000 utentes. As consequências sociais e económicas são profundas – por exemplo, as 5.532.708 embalagens de antidepressivos consumidas no primeiro semestre de 2022 (mais 8,2% que em 2021) custaram 22,2 milhões de euros ao SNS. Paradoxalmente, estimando-se que, nos próximos dez anos, a depressão sobrecarregue os países mais do que qualquer doença, os Estados continuam a gastar menos de 2% de seus orçamentos de Saúde em Saúde Mental.

Reconhecendo a gravidade da situação e a urgência de a inverter, “Fazer da Saúde Mental e do bem-estar para todos uma prioridade mundial” é o lema do Dia da Saúde Mental 2022, uma meta globalmente alinhada com a Agenda 2030: todos os objectivos de desenvolvimento sustentável contribuem, sem excepção, para a promoção da Saúde Mental e prevenção de problemas neste âmbito, já que a Saúde Mental é indissociável dos grandes desafios societais do nosso tempo, impactando e sendo impactada por eles.

Nós, Psicólogos e Psicólogas, temos aqui um amplo papel: não apenas na prevenção, intervenção, investigação e promoção da literacia em Saúde e em Saúde Mental, mas no apoio, alicerçado na ciência psicológica, à tomada de decisão política sobre questões tão diversas como o trabalho e o desenvolvimento sustentável, a prevenção de riscos psicossociais, a adopção de estilos de vida saudáveis, a educação inclusiva, a promoção do envelhecimento activo, as alterações climáticas, os fluxos migratórios, o combate ao estigma, à desigualdade e à exclusão social, a erradicação da pobreza ou a promoção da paz. Que este dia nos inspire a reflectir sobre as formas como todos/as, nos muitos contextos em que actuamos, podemos e devemos agir em prol da construção de uma sociedade global mais próspera, justa, saudável e resiliente.