Atitude mental, posso (devo) mudá-la?
Na recta final do ano é habitual fazer-se uma reflexão sobre o ano que passou, um balanço do que foi realizado e adiado e, também, de se definirem algumas resoluções para o novo ano, replaneando de forma ponderada e ajustada a vida profissional e a vida pessoal, definindo-se objectivos que sejam exequíveis, com vista a ter sucesso e evitar frustrações.
É importante avaliar-se, por exemplo, o nível de crescimento profissional obtido, a qualidade de vida, o contributo para os resultados da instituição/organização que se representa e como estes foram revertidos para a satisfação individual de cada um/a. Sabemos que a satisfação no trabalho está amplamente ligada à compensação recebida pelo desempenho e pela dedicação ao trabalho, mas isso não é tudo. Actualmente quer profissionais, quer empregadores, têm revelado, também, uma preocupação crescente com o padrão de saúde e de bem-estar individual, que acabam por ser revertidos em bons resultados para ambas as partes. É, por isso, importante refletir-se sobre o investimento pessoal nesses dois factores, assim como o tempo dedicado ao desenvolvimento profissional, pois um profissional em constante aperfeiçoamento de competências é muito mais valorizado e requisitado pelo mercado de trabalho, pelo que, importa perceber se o investimento na formação e na actualização profissional foi o necessário. Havendo cada vez mais oferta formativa à distância, a “falta de tempo” não deve justificar uma eventual postura de acomodação e de estagnação profissional.
Nesta recta final do ano importa, deste modo, avaliar que atitude mental foi adoptada, nas diferentes dimensões da vida, e questionarmos o seguinte:
Até onde me levou a minha atitude mental ao longo do ano que passou?
Até onde me pode levar a atitude mental que posso (devo) adoptar no novo ano?
Partindo desta base de reflexão, importa salientar que todos nós agimos e tomamos decisões a partir da forma como encaramos a vida, ou seja, a partir do nosso mindset, da nossa atitude mental. O sucesso individual, nomeadamente na dimensão profissional, depende acima do padrão de pensamento que se escolhe adoptar.
Diante de obstáculos e dificuldades, as decisões que tomamos geram os seus próprios resultados, como tal, adoptar um padrão de pensamento de sucesso tende a trazer-nos resultados de sucesso.
Por esse motivo, ao reflectirmos sobre o ano que termina e ao planificarmos o novo ano, em jeito de renovação, uma das resoluções a fazer, poderá passar, precisamente, por perceber até que ponto pode ou deve ser mudada a nossa atitude mental.
A Psicóloga norte americana Carol Dweck pesquisou muito sobre este tema, culminando num livro que é amplamente conhecido, “Mindset – A atitude mental para o sucesso” (2014), no qual, em traços gerais, descreve dois tipos de atitude mental: uma atitude mental fixa e uma atitude mental de crescimento. Ambas começam logo cedo em idade escolar. Dweck descobriu que quando as crianças eram motivadas pelo desejo de aprender e de se tornarem melhores em algo, lidavam melhor com o insucesso, do que quando eram motivadas por recompensas exteriores, como o desejo de obter aprovação dos pais ou dos professores, ou de evitar julgamentos negativos (Dweck, 1988).
Esta atitude costuma manter-se ao longo da vida adulta, nomeadamente no campo profissional. Dweck afirma categoricamente que o sucesso não se deve apenas aos talentos ou às habilidades especiais, mas, sobretudo, à atitude mental que cada um/a adopta.
Quem adopta uma atitude mental fixa vê as suas qualidades e competências como traços fixos da sua personalidade. Olha para os fracassos como uma potencial ameaça à sua identidade, tem dificuldade em lidar com desafios e reage emocionalmente quando se depara com obstáculos. Sente a necessidade de provar as suas capacidades a si mesmo e aos outros. Por esse motivo, encara o fracasso como um constrangimento inaceitável, que deve ser evitado. Não tenta desenvolver capacidades porque acredita que, como não nasceu com elas, não conseguirá desenvolvê-las. Não tenta sequer evoluir e tende a realizar apenas aquilo que acredita que consegue fazer, portanto, nunca agarra desafios difíceis e trabalhosos devido ao medo de falhar. Realiza apenas aquilo que sabe que consegue realizar, ou seja, acomoda-se. O medo do julgamento negativo dos outros é mais forte do que a sua vontade de evoluir, não conseguindo desenvolver o potencial máximo de que é capaz.
Por outro lado, quem adopta uma atitude mental de crescimento acredita que a inteligência é mutável e pode ser aumentada, assim como as competências individuais, por meio do esforço, da prática e da persistência. Quem adopta esta atitude mental revela não ter medo de tentar, porque sabe que as falhas e os fracassos servem apenas como feedback e aprendizagem para poder melhorar, evoluir e desenvolver-se, até atingir o resultado que se deseja. Pessoas com uma mentalidade de crescimento aceitam desafios e conseguem avançar de forma resiliente, pois sabem que os desafios são grandes oportunidades de crescimento. Este conceito é fundamentado, pois a neurociência tem evidência de que o nosso cérebro muda e torna-se mais capaz quando nos esforçamos para melhorar.
Esforço máximo seguido de um fracasso, é considerado um sucesso por aqueles que adoptam uma atitude mental de crescimento, pois sabem que evoluíram e retiram sempre dessa experiência uma aprendizagem, subindo mais um degrau na escada do seu desenvolvimento individual.
Talento, inteligência e competências por si só, não definem o sucesso profissional de cada um/a. O que define é a atitude mental, pois tudo depende da forma como se pensa e age diante de cada situação.
Chegar ao topo e ter sucesso profissional é, na verdade, o resultado de muito trabalho, esforço, dedicação, compromisso e persistência. Mas esse caminho só pode ser trilhado com uma atitude mental de crescimento. Chegando ao topo, a satisfação não deve estagnar pelo facto de se ter lá chegado. Estando no topo e tendo alcançado o sucesso almejado, importa não esquecer que ainda se pode aprender e evoluir mais.
Ter uma atitude mental de crescimento permite, em contexto profissional, por exemplo, desenvolver um ambiente bem mais inovador, com uma maior propensão para um padrão de pensamento “fora da caixa”, contribuindo com ideias novas e construtivas, encarando os desafios com um maior foco na sua resolução. Ter um padrão de pensamento de crescimento permite, no fundo, uma maior adaptabilidade ao contexto profissional, pois é possível mais facilmente lidar com as situações adversas que fogem da zona de conforto de cada um/a. Simultaneamente permite um melhor desempenho profissional, uma maior motivação e produtividade, pois o estímulo encontrado em cada novo desafio/dificuldade é o que alimenta, no profissional, a vontade de aprender, de evoluir e crescer mais. Mas, importa salientar neste ponto, que cabe também aos empregadores implementar, na sua cultura organizacional, ações que estimulem essa atitude mental nos seus profissionais, promovendo essa abertura.
Uma mentalidade de crescimento centra-se, assim, no processo e na aprendizagem, uma mentalidade fixa acaba por ficar presa nos resultados. Investir no autoconhecimento e na autocrítica permitirá entender esta diferença e pode ser o primeiro passo para a mudança, como tal, nesta reflexão é importante olhar para o ano que termina e autoquestionar o seguinte:
- Posso ser menos defensiva/o com os meus erros?
- Consigo ter mais vantagens com o feedback que recebo?
- Há formas de criar mais experiências de aprendizagem?
Se a conclusão for a de que a atitude mental tem vindo a ser muito mais fixa, constituindo-se como um travão do desenvolvimento individual e de um potencial de sucesso, está na altura de rever os objetivos para o próximo ano, avaliar o que poderá ser mudado e acrescentar às resoluções de ano novo uma possível mudança de atitude mental, começando por questionar as próprias crenças e deixando que a dúvida e a curiosidade abram espaço para novos comportamentos.
Implementar esta mudança exige, naturalmente, tempo e esforço individual, mas se não forem dados estes primeiros passos, a tendência poderá ser a da estagnação e do insucesso.
Há sempre a escolha entre voltar atrás para a segurança ou seguir em frente para o crescimento. O crescimento deve ser escolhido uma, duas, três e infinitas vezes; o medo deve ser superado uma, duas, três e infinitas vezes
Abraham Maslow [The Psychology of Science: A Reconnaissance (1966)]
Referências bibliográficas:
Dweck, C.S. (2014). Mindset, a atitude mental para o sucesso. Lisboa: 20|20 Editora.