Artigo por Joana Almeida Monteiro
“Que formação dá emprego?”. Nenhuma. Nenhum recrutador espera que seja um determinado curso ou workshop a fazer com que determinado profissional seja “aquele”. No entanto, por algum motivo, tendemos todos a olhar para as formações (sejam elas workshops mais breves ou formações mais longas, como pós-graduações ou Mestrados) como porta de entrada para uma determinada opção de carreira.
“A questão é que a formação deve ser uma resposta, e não uma pergunta. A formação deve surgir como a resposta a uma necessidade bem identificada em nós, após fazermos um balanço das competências que temos desenvolvidas, e das que necessitamos para trabalhar num determinado contexto.”
Quando terminamos a nossa formação base em Psicologia sentimos uma espécie de “só sei que nada sei”, pois após pelo menos 5 anos de disciplinas variadas, trabalhos em grupo, estágio curricular, sentimos que nos falta algo. O apelo para nos inscrevermos rapidamente num novo curso ou formação é grande, esperando não só que nos apague o fogo da sensação de que nada sabemos, como ainda que nos guie até uma oportunidade profissional. Além disso, no caso dos que não trabalham enquanto estudam, o papel de formando é o único que conhecemos, onde encontramos algum sentido de auto-eficácia. É confortável ser estudante (o que não quer dizer que seja fácil – não é).
A questão é que a formação deve ser uma resposta, e não uma pergunta. A formação deve surgir como a resposta a uma necessidade bem identificada em nós, após fazermos um balanço das competências que temos desenvolvidas, e das que necessitamos para trabalhar num determinado contexto. Pode ainda, claro, dar resposta a um interesse pessoal ou profissional – acredito que o simples facto de se estar a aprender algo de novo é sempre um boost para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Quantos de nós já aplicaram a si mesmos, como profissionais, uma “análise SWOT”? E nessa reflexão, ponderaram as competências que sentem ter mais bem desenvolvidas e que o distinguem num mercado competitivo, e as que necessitam de desenvolver para serem melhores Psicólogos? Tem de se começar por aí, escutando por dentro.
Temos depois de pensar que as competências não se desenvolvem apenas, e magicamente, com a frequência de formações. A aplicação das aprendizagens, ou seja, a experiência e prática profissional, são o que faz com que realmente saibamos fazer algo progressivamente melhor. Quantos de nós não se recordam de procedimentos aprendidos que, nunca aplicados, se desvanecem quase por completo? (quem aprendeu francês na escola e nunca mais praticou, é hoje competente a falar/escrever/ler francês?) Daí que uma das etapas iniciais nas nossas carreiras em Psicologia seja, justamente, a aplicação de aprendizagens, no Ano Profissional Júnior. É um ano em que beneficiamos da segurança de termos um plano preparado com minúcia, da orientação de um colega mais experiente, e de nos confrontarmos pelas primeiras vezes com estas competências que sim, já temos mais bem desenvolvidas, e outras que não, ainda precisam de maior investimento da nossa parte.
E o impacto das formações no nosso CV? A forma como o mercado nos percepciona? Não nego que haja alguma importância, claro. Mas mais importante que uma lista comprida de formações feitas em diversas áreas será, sem qualquer dúvida, a capacidade do profissional saber comunicar quais são as suas competências e de que modo estas dão resposta às necessidades de intervenção no contexto a que se propõe. Fiz formação XPTO mas falho ao enviar uma candidatura “espontânea” em que não faço qualquer menção ao que me proponho fazer naquela entidade concreta? Não importa a formação XPTO. Fiz pouca formação, mas certeira, que me fez tornar muito bom e diferenciado dos demais candidatos, e consigo demonstrar resultados que alcancei no passado e projectar para a entidade a que me candidato o que poderei fazer para melhorar as suas preocupações? Acertei na mouche.
Uma abordagem mais madura envolve procurarmos aprender verdadeiramente com as oportunidades formativas em que nos envolvemos. Coleccionar certificados sem critério faz-nos perder tempo, foco, e até pode virar-se contra nós. Um recrutador mais atento e experiente pode fazer essa mesma leitura: não temos foco nem critério, o que não abona a nosso favor se estivermos a procurar uma oportunidade.
Como poderemos, então, seleccionar formação que seja realmente uma mais-valia para nós e para a nossa carreira:
- Partir da reflexão pessoal – para além de identificarmos os nossos interesses profissionais, há que identificar o que pretendemos melhorar, que competências nos importa desenvolver.
- Consultar a nossa rede – pesquisarmos colegas que possam ter e aplicar competências em que pretendemos investir e procurarmos saber como foram desenvolvendo essas competências, e se recomendam alguma formação específica.
- Dedicar tempo e enquadrar nos nossos planos – porque fazer uma formação é bem mais do que obter um certificado, quereremos ter tempo e disponibilidade mental para nos envolvermos numa formação e aprendermos. Há que ponderar se o momento é o ideal, se temos os recursos necessários para investir conscientemente no esforço de aprendizagem – é um compromisso e quereremos honrá-lo.
- Procurar sinais da qualidade da formação – investigar a entidade formadora, o plano de estudos, o corpo docente. Verificar se a entidade tem certificação e, no caso da Psicologia, se a formação é acreditada.
- Transportar o que aprendemos para a nossa prática – como referi acima, só com a experiência consolidamos verdadeiramente o que aprendemos. Após termos consolidadas as novas aprendizagens, poderemos então sentir que são reais mais-valias na nossa carreira, teremos evidências da sua aplicação para mobilizar num discurso com o mercado de trabalho, que demonstre como somos profissionais competentes e que temos algo a acrescentar na nossa proposta de valor.